Nos rápidos do rio Minho, o rafting é uma aventura
Melgaço não tem só Alvarinho e lampreia, tem também actividades radicais em belas paisagens naturais. Fizemo-nos à água e experimentámos o rafting no único rio da Península Ibérica onde é possível fazer esta actividade durante todo o ano.
A proposta: entrar para um bote insuflável e descer o rio, ultrapassando os rápidos. Entre um ou outro calafrio e já a prever a adrenalina, uma dúvida: chegaríamos ao fim sem ir parar à água?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A proposta: entrar para um bote insuflável e descer o rio, ultrapassando os rápidos. Entre um ou outro calafrio e já a prever a adrenalina, uma dúvida: chegaríamos ao fim sem ir parar à água?
Viajámos num autocarro de Melgaço até à barragem de Frieira, em Espanha (onde se iria iniciar o percurso de rafting), em grande animação e ao som de Highway to Hell, dos AC/DC – “melodia” perfeita, pelo que se viu, para inspirar, ainda mais, o espírito radical de todos os grupos que ali se encontravam. A temperatura estava amena, uns 18º graus, mas avizinhava-se um banho, no mínimo fresco, no rio.
Chegados ao destino – equipados com um fato de neoprene, colete salva-vidas e capacete de segurança – instalou-se o nervoso miudinho à medida era feito o briefing da actividade. Receosos, mas com bravura, lá transportámos o bote insuflável da empresa Melgaço Radical até às margens do rio Minho.
Em todos estes botes vai um guia para garantir a segurança – saber nadar não é um requisito, mas é proibido tirar o capacete e o colete durante todo o percurso. Sentados na borda de um barco de borracha, a única coisa que impede uma pessoa de transbordar (para além da preciosa ajuda do guia experiente que nos acompanha) são os foot traps: umas pegas para prender os pés que, à primeira vista, não davam tanta confiança, mas que se revelaram mais do que suficientes.
O objectivo é ir superando os obstáculos do rio através do esforço de equipa – composta por seis ou oito participantes que remam de forma coordenada para atravessar os rápidos. Em caso de queda, o mais importante é não entrar em pânico, explicou o guia. Outras medidas incluem segurar na corda lateral do bote ou nadar até à margem do rio e aguardar o resgate. Mas, se no pior dos cenários, a queda for nos rápidos, devemos manter as pernas erguidas e os pés para a frente e deixar-se ser guiado pela corrente – esta posição protege de um embate mais violento.
Acabados de entrar no rio, somos quase imediatamente confrontados com um dos rápidos mais desafiadores de todo o percurso que termina na localidade do Peso, do lado português. Instalou-se um silêncio amedrontado à medida que o bater violento das ondas se tornava mais audível e visível e as palavras de conforto do guia que nos acompanhava não pareciam estar a fazer efeito. Ordenou-nos que remássemos com maior intensidade e, como que a temer pela vida, foi o que fizemos. Durante esses segundos, remámos, gritámos de adrenalina e acabámos a rir. E na calma que se seguiu, a ouvir os passarinhos e a olhar para a serra, uma conclusão: “Queremos repetir”.
O guia comentava a paisagem e falava das maravilhas da região, da fauna e flora que nos cercava, até aos vinhos Alvarinho, ex-líbris da região. Os rápidos que se sucederam não foram tão impactantes quanto o primeiro, mas ainda assim foram divertidos. Num dos períodos de calma, entre rápidos, o guia desafiou o grupo a dar um mergulho. Os mais corajosos saltaram, mas rapidamente voltámos à superfície cheios de frio.
O final do percurso reservava uma surpresa. Já experientes a ultrapassar obstáculos, ansiávamos por rápidos mais emocionantes. Desejo concedido – o último rápido não desiludiu e deixou os tripulantes encharcados da cabeça aos pés.
A actividade durou uma manhã inteira e São Pedro foi amigo. Entre Portugal e Espanha ficámos imersos na natureza, numa paisagem que tem tanto de tranquila como de imponente. O rio Minho é o único rio da Península Ibérica onde é possível fazer rafting durante todo o ano. Nasce na serra da Meira, Galiza, a 750 metros de altitude, e percorre 340 quilómetros até desaguar no Atlântico. O rio fez de Melgaço a capital ibérica da modalidade e, também, uma espécie de oásis para os amantes desta aventura radical.
Há dois percursos possíveis. O que fizemos, da barragem de Frieira à localidade de Peso, atravessa 14 quilómetros e só é possível quando o rio tem muita água. O percurso alternativo, feito quando há menos água, é de 10 quilómetros e começa no centro de estágios de Melgaço e termina em Barcela, Espanha. De Junho a Setembro há uma descida nocturna por mês.
O PÚBLICO viajou a convite da Essência do Vinho.