“Fiz o retrato de um Portugal a querer partir”
É um momento raro. Por um lado, fotografias icónicas de Jorge Guerra podem ser vistas outra vez em Portugal, por outro mostra-se pela primeira vez em conjunto um ensaio fundamental sobre Lisboa. É uma cidade com gente amargurada, mas também de gente com uma raiva escondida aquela que se pode ver no Arquivo Municipal - Fotográfico.
“Agora gosto de falar.” Do grupo de amigos que gravitava em torno do Colégio Moderno, na Lisboa do início dos anos 1950, Jorge Guerra estava entre “os mais reservados”. Ao lado de outros “náufragos” que ali foram parar, engendrou revoltas e forjou amizades que perdurariam até hoje. São dessa encruzilhada de cumplicidades algumas das suas primeiras fotografias, que captou com uma câmara oferecida por um tio de Elvas, uma Flexaret, cujos negativos quadrados perdeu o rumo (ou talvez não, “talvez possam estar na casa de uma irmã”). A seguir, foi a câmara a viajar para destino incerto a bordo de um autocarro da Carris. Mas a sua pulsão pela imagem fotográfica nunca mais parou, houvesse uma máquina de alguém à mão de semear.