Com Pedrógão esfumou-se o investimento na floresta. Só resta o medo
Investir na floresta em Portugal já é visto como, literalmente, queimar dinheiro. Por isso, cada vez menos o fazem. Sem investimento não há gestão, sem gestão arde cada vez mais. Uma pescadinha de rabo na boca que, a prazo, condenará metade do país a não passar de um enorme campo de matos e silvas.
Medo. A floresta em Portugal encheu-se de medo. Medo de investir no que pode acabar em cinzas, medo de ter árvores a rondar casas, não vá ser-se multado, medo de passar em certas zonas que podem ser armadilhas mortais, medo de se ser responsabilizado por tragédias. E este pânico geral está a tolher os movimentos ou a levar a decisões precipitadas. O sector está em suspenso enquanto o problema se agrava e aprofunda. A crise não é de hoje nem começou com o incêndio de Pedrógão Grande, que nesta segunda-feira faz dois anos e onde morreram 66 pessoas. Tem raízes complexas que não se explicam com a acusação simplista a apenas um ou outro culpado. O enredo ultrapassa espécies, alterações climáticas, abandono rural, ausência de cadastro, desordenamento. É isso tudo e muito mais.