Porque o lixo nem sempre é lixo, a Novonovo quer dar uma nova vida ao desperdício
Plataforma online pensada pelo designer italiano Lorenzo Scodeller quer dar novo valor a materiais velhos através da criação de uma comunidade de partilha de bens e serviços.
O lixo só é lixo quando o deitamos fora e deixa de poder ser útil. Até aí, pode sempre ser aproveitado. Foi esta linha de pensamento que levou Lorenzo Scodeller a criar a Novonovo, “uma comunidade online para troca de material reutilizável”. O italiano de 29 anos, a viver em Portugal desde 2013, entende que o ciclo de vida de um produto não deve terminar logo após a primeira utilização: “Porque não criar um sistema em que designers e artistas pudessem ter a oportunidade de tentar reutilizar materiais antes da opção final da reciclagem?”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O lixo só é lixo quando o deitamos fora e deixa de poder ser útil. Até aí, pode sempre ser aproveitado. Foi esta linha de pensamento que levou Lorenzo Scodeller a criar a Novonovo, “uma comunidade online para troca de material reutilizável”. O italiano de 29 anos, a viver em Portugal desde 2013, entende que o ciclo de vida de um produto não deve terminar logo após a primeira utilização: “Porque não criar um sistema em que designers e artistas pudessem ter a oportunidade de tentar reutilizar materiais antes da opção final da reciclagem?”.
O modelo da Novonovo, explica Lorenzo ao telefone com o P3, não visa ser uma plataforma de marketplace como as outros: “A ideia é que as pessoas possam trocar materiais e juntar-se em actividades como troca de roupas ou workshops, nas universidades ou em organizações, para tentarem reparar ou repensar alguns produtos de uma forma mais sustentável.” O site vai ser um espaço para as comunidades doarem ou venderem a baixo custo os produtos de que já não necessitam a pessoas que procurem material para reutilizar.
Vai ainda possibilitar a venda das novas peças resultantes desse reaproveitamento de materiais, mas não só: “Na plataforma podem encontrar produtos reaproveitáveis, formas de transformar esses produtos em algo novo ou ainda encontrar pessoas que saibam fazer isso”, conta Lorenzo, que espera assim estimular a criatividade desta comunidade online. E, deste modo, materiais que são “erroneamente” considerados sem utilidade, tornam-se “novos de novo”, ou seja, Novonovo.
À boleia da economia circular
Lorenzo veio de Veneza para Portugal depois de terminada a licenciatura em Design Industrial e tirou um mestrado em Design de Produto na ESAD das Caldas da Rainha. Em 2014, co-fundou com mais dois amigos a startup Os Italianos Design e desatou a criar produtos a partir de materiais já utilizados (e a explorar o conceito de upcycling). A ideia valeu-lhes em 2015 o Prémio Nacional de Indústrias Criativas, na categoria Arquitectura e Design; hoje em dia, no entanto, o projecto encontra-se inactivo.
Continuou a participar em projectos na área da sustentabilidade, como é o caso da Give a Shit, com que ainda colabora, uma plataforma, fundada em 2013, que sensibiliza as pessoas para uma gestão mais sustentável do consumo de água. Ainda assim, o designer continuava com vontade de criar um modelo que permitisse a uns aproveitar o material que, para outros, já era lixo. “[Na Os Italianos Design] tínhamos um bocadinho a sensação de que estávamos a trabalhar, não digo contra o sistema, mas com um sistema que não nos deixava aproveitar facilmente esses materiais”, confessa. No panorama actual, “as coisas estão a mudar com as novas leis sobre a economia circular”. Por isso, Lorenzo voltou a tentar.
O conceito da Novonovo começou a ser desenvolvido em Novembro de 2018 durante um programa de aceleração, o Creative Business Studio do Impact Hub de Lisboa, que apoia projectos de jovens com menos de 30 anos. Aí percebeu a urgência de uma plataforma como a que tinha em mente: falou com designers, possíveis consumidores e várias empresas, focado não só no princípio de reutilizar materiais que, de outra forma, chegariam a fim de vida, mas também na procura das indústrias por “novas alternativas para redistribuírem subprodutos e restos de materiais que sobram da produção”. Feita a investigação, decidiu lançar em Abril um crowdfunding para angariar 3000 euros (entretanto já alcançados e ultrapassados) e assim financiar a criação e o lançamento experimental da plataforma, que poderá ver a luz do dia já em Novembro.
Para o italiano, o sucesso da campanha de financiamento colaborativo mostra que a ideia tem pernas para andar. “Muitas pessoas disseram que já sentiram a necessidade de tentar encontrar soluções alternativas, às vezes pelo Facebook ou simplesmente pelo passa-a-palavra, e nunca tinham encontrado um projecto com uma boa estrutura para facilitar esse tipo de utilização dos materiais”, sublinha Lorenzo.
De igual forma, as empresas com que o designer italiano falou também manifestaram um grande interesse no projecto. Com o esforço europeu para aplicação de um Plano de Acção de Economia Circular, as empresas “vão ter mais responsabilidade em tentar encontrar alternativas além da reciclagem” e terão de justificar o fim de vida de produtos e subprodutos que resultam da produção. Uma plataforma como a Novonovo responde a esse problema. Porque o lixo só é lixo quando uma pessoa o quiser.