“A defesa já fez o showzinho dela.” Moro pressionou Lava-Jato para questionar publicamente depoimento de Lula

Novos excertos de conversas entre Moro e os procuradores da Lava-Jato mostram a grande preocupação do juiz com o impacto mediático do interrogatório ao ex-Presidente.

Foto
Apesar de uma queda na sua popularidade, Moro continua a ser o político mais bem avaliado do país ADRIANO MACHADO / Reuters

A divulgação de novas conversas mantidas entre Sérgio Moro, quando era juiz, e procuradores responsáveis pela Operação Lava-Jato mostra a preocupação do futuro ministro da Justiça com a repercussão mediática do depoimento do ex-Presidente Lula da Silva durante o processo, e a intervenção junto dos procuradores para serem mais activos com a imprensa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A divulgação de novas conversas mantidas entre Sérgio Moro, quando era juiz, e procuradores responsáveis pela Operação Lava-Jato mostra a preocupação do futuro ministro da Justiça com a repercussão mediática do depoimento do ex-Presidente Lula da Silva durante o processo, e a intervenção junto dos procuradores para serem mais activos com a imprensa.

Os trechos revelados este sábado pelo site de investigação The Intercept Brasil concentram-se nas conversas entre Moro e os procuradores logo a seguir ao depoimento de Lula, a 10 de Maio de 2017. Aquela foi a primeira vez em que o ex-Presidente acusado de corrupção esteve frente a frente com o juiz – que o acabaria por condenar meses depois no caso do apartamento triplex em Guarujá, no litoral do estado de São Paulo.

Moro mostra-se preocupado com o impacto do depoimento junto da imprensa e da opinião pública, especialmente depois de Lula, ao sair do interrogatório, se ter dirigido aos seus apoiantes e ter anunciado a intenção de se recandidatar à presidência.

“Talvez vocês devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele. Por que a defesa já fez o showzinho dela”, disse Moro, numa mensagem dirigida ao procurador Carlos dos Santos Lima, um dos elementos da Lava-Jato.

O procurador aceita a sugestão de Moro e entra de imediato em contacto com outros membros da Lava-Jato e com a assessoria de imprensa da Operação. A equipa de comunicação mostra algumas reservas ao pedido – inicialmente Santos Lima pergunta se não seria possível marcar uma entrevista com o canal Globo – uma vez que a acusação não tinha como norma manifestar-se publicamente na sequência de depoimentos.

“Mudar a postura vai levantar a bola para outros questionamentos. Porque resolveram falar agora? Porque era o ex-Presidente?”, questiona um dos assessores. Segundo o Intercept, os procuradores nunca revelaram à equipa de comunicação que as instruções sobre a reacção vieram do juiz responsável pelo caso.

No dia seguinte, a Lava-Jato emitiu um comunicado em que punha em evidência as “contradições” nas respostas de Lula a Moro, e que foi divulgado pelos principais jornais e sites de informação brasileiros.

Este é o sexto trabalho publicado pelo Intercept, que teve acesso às conversas entre Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato durante as investigações e os julgamentos. A revelação da intervenção de Moro junto dos procuradores – algo que vários juristas dizem ser uma violação de princípios constitucionais – abalou a reputação de Moro, que viu a sua popularidade cair, de acordo com o Atlas Político. Porém, o ministro da Justiça mantém-se como o político mais popular do Brasil.