OMS diz que ébola ainda não é uma emergência global de saúde pública
Primeiros casos de ébola saltaram esta semana a fronteira entre a República Democrática do Congo e o Uganda. O surto nesta região começou em Agosto de 2018 e já soma 1405 mortes confirmadas.
Após a propagação do vírus do ébola da República Democrática do Congo para o Uganda, o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, convocou uma reunião do Comité de Emergência para decidir se o surto já constitui uma emergência global de saúde pública. Os peritos concluíram esta sexta-feira, após uma longa reunião que começou de manhã e se prolongou ao longo do dia, que a actual situação na região ainda não merece que seja declarada uma emergência internacional de saúde pública por não cumprir os critérios para tal. Apesar de o Uganda ter demonstrado uma resposta rápida aos primeiros casos confirmados naquele território, muitos temem que o surto alastre agora a outros países que não se encontrem preparados para enfrentar este problema.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Após a propagação do vírus do ébola da República Democrática do Congo para o Uganda, o director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, convocou uma reunião do Comité de Emergência para decidir se o surto já constitui uma emergência global de saúde pública. Os peritos concluíram esta sexta-feira, após uma longa reunião que começou de manhã e se prolongou ao longo do dia, que a actual situação na região ainda não merece que seja declarada uma emergência internacional de saúde pública por não cumprir os critérios para tal. Apesar de o Uganda ter demonstrado uma resposta rápida aos primeiros casos confirmados naquele território, muitos temem que o surto alastre agora a outros países que não se encontrem preparados para enfrentar este problema.
Tedros Adhanom Ghebreyesus já tinha elogiado a ministra da Saúde do Uganda, Jane Ruth Aceng, pela resposta rápida na identificação do primeiro caso de ébola, realçando que o país se encontrava preparado para esta possibilidade há vários meses e que esse tipo de experiência “é decisiva para evitar que o vírus alastre”. Na quarta-feira, a ministra ugandesa confirmou os primeiros três casos de infecção pelo vírus do ébola devido ao surto em curso na República Democrática do Congo (RDC). Uma criança congolesa de cinco anos acabou por morrer já em território ugandês e os outros dois casos de infecção, de elementos da mesma família, estavam a ser acompanhados.
Um dia depois, as autoridades do Uganda confirmavam mais uma morte (a avó, com 50 anos, da primeira vítima) e anunciaram que tinha repatriado para a RDC os parentes das duas vítimas. De regresso ao Congo foi, assim, um menino de três anos infectado pelo ébola e que se encontrava já com sintomas da doença.
O pai da criança de cinco anos que foi a primeira vítima mortal, a mãe, o irmão de três anos e um bebé de seis meses, juntamente com a empregada da família, foram todos repatriados, referia um comunicado da ministra da Saúde, que adiantava que o pai, de 23 anos, exibiu sintomas da infecção, mas os resultados das análises foram negativos. “Três outros casos suspeitos de ébola não relacionados com esta família continuam isolados”, avançou ainda o ministério. Segundo o director-geral da OMS, o Uganda já tinha vacinado cerca de 4700 profissionais de saúde em 165 unidades de saúde.
Na quinta-feira, o Uganda proibiu reuniões públicas no distrito de Kasese, onde a família cruzou a fronteira. Os moradores também estão a tomar precauções, sendo aconselhados a lavar frequentemente as mãos, adiantou a agência Reuters. “Foram instalados vários locais para lavagem de mãos, com materiais como lixívia e sabão. As pessoas não se cumprimentam com apertos de mão, apenas acenam umas às outras.”
Apesar da resposta eficaz do Ministério da Saúde do Uganda, os novos casos estão a preocupar as autoridades de saúde e especialistas pelo facto de o vírus ter passado a fronteira para outro país. A OMS tinha já garantido na quinta-feira que (pelo menos, por enquanto) não havia qualquer sinal de disseminação do vírus dentro do território do Uganda. Ou seja, até aquele momento, os casos registados no país eram todos importados da RDC. Mike Ryan, chefe do programa de emergências da OMS, confirmou na quinta-feira que não existe nenhum caso conhecido de transmissão de ébola no Uganda.
Na reunião desta sexta-feira, em Genebra, na Suíça, os peritos acabam de considerar que o surto de ébola é uma emergência na RDC e na região, mas não constitui actualmente uma emergência de saúde pública de âmbito internacional, revelou Tedros Adhanom Ghebreyesus na sua conta no Twitter. “Embora o surto de ébola na RDC não seja uma ameaça de saúde global, quero sublinhar que para as famílias e comunidades afectadas é de facto uma emergência”, acrescentou.
Num comunicado oficial divulgado antes da reunião, a OMS defendia que “o nível global de risco a nível nacional” no Uganda era “moderado”, tendo em conta que os três casos confirmados no país pertencem a um único grupo familiar, bem como o nível de preparação e experiência das autoridades ugandeses nos surtos anteriores de ébola e a sua rápida detecção de casos numa área geográfica limitada. “No entanto, o risco regional global representado pelo surto na RDC continua muito alto. O risco global a nível internacional permanece baixo”, referia o mesmo documento. Na sua conta do Twitter, a ministra da Saúde do Uganda publicou esta sexta-feira à tarde a seguinte actualização: “Temos apenas um caso suspeito isolado na Unidade de Tratamento em Bwera. Dos três suspeitos que tivemos ontem, dois testaram negativo para ébola, enquanto os resultados estão pendentes para o caso suspeito (que se encontra em isolamento).”
É a terceira vez que a Comité de Emergência da OMS se reúne desde que foi declarado o surto do vírus do ebola na RDC, que desde Agosto de 2018 já provocou 1405 vítimas mortais naquele país. Desde o início da epidemia, declarada em Agosto, o número de infectados é de 2084, dos quais 1977 foram confirmados em laboratório e há 284 casos suspeitos ainda em investigação. Apenas 575 pessoas infectadas ficaram curadas.
Segundo o Ministério da Saúde da RDC, até 10 de Junho foram vacinadas 132.264 pessoas e atendidas 65.136.875 pessoas nos centros de tratamento. A tarefa de conter a doença tem sido dificultada também pelos mais de 200 ataques que os profissionais de saúde já sofreram na região do Congo que é o epicentro do surto e onde há um conflito.
O vírus do ébola foi detectado pela primeira vez no mundo em 1976, numa região perto do rio Ébola no então Zaire, actual República Democrática do Congo. O pior surto de sempre ocorreu entre 2013 e 2016, tendo devastado a Serra Leoa, a Guiné-Conacri e a Libéria causado a morte a pelo menos 11.300 pessoas. Este surto que começou na RDC é o segundo pior do mundo desde a epidemia na África ocidental em 2013-16. Na ultima década, apenas foram declaradas quatro emergências globais de saúde pública pela OMS: em 2009, devido ao vírus H1N1 que causou uma pandemia de gripe; em 2014 pelo surto de ébola na África ocidental; em 2014, devido à poliomielite; e em 2016 por causa do vírus Zika.