Fartas da desigualdade, as mulheres suíças fazem greve

Sindicatos e organizações femininas convocaram uma jornada de protesto para esta sexta-feira por igual salário, o fim da precariedade e da violência sexista. Desde 1991 que não havia uma mobilização assim.

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A grande qualidade de vida na Suíça não se reflecte na igualdade de género. Ao contrário de outras economias desenvolvidas, a Suíça mantém ainda distinções claras no tratamento de homens e mulheres e é isso que a greve de mulheres marcada para esta sexta-feira pretende denunciar e forçar a resolver.

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A grande qualidade de vida na Suíça não se reflecte na igualdade de género. Ao contrário de outras economias desenvolvidas, a Suíça mantém ainda distinções claras no tratamento de homens e mulheres e é isso que a greve de mulheres marcada para esta sexta-feira pretende denunciar e forçar a resolver.

“Penso que chegou o momento de finalmente tomar medidas para que as mulheres assumam o seu devido lugar nas esferas de tomada de decisão e defender os seus interesses em todos os níveis da sociedade”, afirma Adèle Thorens, política dos Verdes, citada pela Reuters.

A greve e marcha de protesto convocada para esta sexta-feira, sob o lema “Por mais tempo, mais dinheiro e respeito!”, quer lutar pela igualdade salarial, pelo fim da precariedade no trabalho e contra a violência sexista, mais representação em cargos de poder e uma política mais equitativa para as famílias.

O dia 14 de Junho é simbólico para as mulheres na Suíça, data em que se introduziu na Constituição, em 1981, um artigo referente à igualdade entre homens e mulheres. Nesse mesmo dia, dez anos depois, 500 mil pessoas (num país de 3,46 milhões) protestaram nas ruas contra a continuação das desigualdades. Agora, 28 anos depois, a Suíça continua um país desigual.

Esta greve de mulheres é convocada para acelerar as mudanças necessárias para cumprir o artigo introduzido na Constituição há 38 anos. “Não se trata apenas de uma greve do trabalho remunerado”, disse ao Parisien Anne Fritz, coordenadora da mobilização na União Sindical Suíça. “Haverá também uma greve ao trabalho doméstico, aos cuidados [de familiares], ao consumo”, tudo actividades que ainda são levadas a cabo maioritariamente por mulheres.

“Fazemos greve porque as mulheres ganham menos pelo mesmo trabalho, são preteridas nas promoções, têm muito pouca representação no nível executivo e porque habitualmente os empregos femininos são mais mal pagos”, refere o manifesto do Colectivo Zurique Greve*Feminina.

Em 1991, na última acção do género, as mulheres bloquearam os eléctricos de Zurique com um protesto sentado no bairro financeiro, soltaram balões roxos e exibiram pancartas pedindo salários iguais para trabalhos iguais.

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A social-democrata Ruth Dreifuss, que naquele ano de 1991 se tornaria na primeira mulher Presidente do país, lembra o protesto de há 28 anos como o dia em que “as mulheres inventaram uma nova forma de expressão”. Em declarações ao jornal Tribune de Genève, explicou: “Tudo convergiu para uma mensagem simples: queremos sair da sombra e que o nosso trabalho seja finalmente reconhecido”.

Passados quase 30 anos, esse caminho então iniciado ainda não está concluído: as mulheres continuam a ganhar 20% menos que os homens, como não há licença de paternidade e os lugares nas creches são poucos e caros, as mulheres ficam a perder na sua inserção no mercado de trabalho.

Em 2018 foi aprovada uma lei sobre igualdade salarial, porém, na sua versão definitiva, o texto legal acabou por não reflectir aquilo que era proposto inicialmente e não inclui, por exemplo, qualquer sanção para as empresas que não paguem o mesmo a homens e mulheres pelo mesmo trabalho.