Centro Pompidou mostra a obra de Teresa Villaverde, uma realizadora sem paralelo na Europa

Retrospectiva dedicada à cineasta portuguesa abre esta sexta-feira no centro cultural parisiense com a exibição do seu último filme, Colo

Foto
Rui Gaudêncio

A retrospectiva da realizadora portuguesa Teresa Villaverde organizada pelo Centro Georges Pompidou, em Paris, inicia-se esta sexta-feira. Mostrará a visão de “uma artista global” sobre a sociedade e o mundo, por uma cineasta sem par na Europa.

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A retrospectiva da realizadora portuguesa Teresa Villaverde organizada pelo Centro Georges Pompidou, em Paris, inicia-se esta sexta-feira. Mostrará a visão de “uma artista global” sobre a sociedade e o mundo, por uma cineasta sem par na Europa.

“Ela não tem homólogo. Tentei encontrar uma família em que ela se enquadrasse, tendo até em conta os cineastas da sua geração como Pedro Costa ou João Canijo e, apesar de haver algumas ligações quanto aos temas abordados nos seus filmes, ela tem uma voz muito particular e uma forma singular que não tem equivalente não só no cinema português como no cinema europeu”, disse à Lusa a programadora Amélie Galli, do Centro Pompidou.

Entre 14 de Junho e 1 de Julho, Teresa Villaverde vai estar em destaque neste museu de arte contemporânea com uma retrospectiva de 15 dos seus filmes, uma “masterclass” e ainda a estreia de uma curta-metragem financiada pelo Pompidou. O filme Colo, que tem a sua estreia comercial em França no dia 19 de Junho, vai abrir a retrospectiva já esta sexta-feira.

O convite à cineasta portuguesa insere-se na tradição do Centro Pompidou em mostrar todas as temporadas realizadores vindos de várias partes do mundo que tenham uma obra contemporânea.

“Há uma cultura pictórica muito forte e os seus filmes mostram o seu interesse sobre todas as artes. É uma artista global que nos dá a sua visão sobre a sociedade e o mundo em que vivemos. Queremos sempre ter um realizador que conte histórias através do cinema, mas queremos também um artista que nos dê uma perspectiva sobre a contemporaneidade cinematográfica”, referiu Amélie Galli.

A programadora do museu parisiense acrescenta que o que a atraiu na obra da realizadora de Os Mutantes é o seu ponto de vista sobre a fragilidade e o facto de na sua obra nada ser arbitrário. “Ela não mostra nada de gratuito nos seus filmes, não mostra situações de crueldade, mostra, sim, detalhes para deflagrar essas situações. E isso faz com que o seu cinema seja digno e que as suas personagens nos toquem”, argumenta.

A curta-metragem realizada especialmente para esta retrospectiva pela cineasta portuguesa é prova disso, segundo a programadora: “Respondeu de uma maneira magistral ao nosso desafio. Mostra de uma forma muito forte o que se passa neste momento no Brasil e, em vez de filmar o desfile da escola Mangueira, que foi muito militante a favor dos direitos das mulheres e dos povos esquecidos do Brasil, e homenageou também Marielle Franco, ela mostra o dia após o desfile na favela e como as pessoas reagem à vitória da sua escola de samba”.

Amélie Galli refere que, apesar do palmarés de Teresa Villaverde nos festivais de cinema, a obra da realizadora portuguesa não é muito conhecida em França e que este será um momento de “descoberta” para o público francês. Nas duas semanas desta retrospectiva, a programadora afirma que podem passar cerca de 100 mil pessoas pelas salas de cinema do museu.

O mais recente filme da realizadora, Colo, venceu em Abril o Prémio Sauvage, principal galardão do 13.º festival L'Europe Autour de l'Europe, em Paris.

A cineasta teve recentemente uma retrospectiva integral, na Fundação de Serralves, no Porto, organizada pelo ensaísta António Preto.

Nascida em Lisboa, em 1966, a cineasta Teresa Villaverde trabalhou com João César Monteiro, José Álvaro Morais e João Canijo, antes de se estrear como realizadora nos anos 1990. Da mesma geração de realizadores como Pedro Costa e João Pedro Rodrigues, fez filmes como Três Irmãos (1994), Os Mutantes (1998) e Transe (2006).