Mais de mil pessoas protestaram contra aterro que “prejudica a saúde” em Valongo

Em 2018, durante o período de consulta pública para a renovação das licenças, a autarquia contestou o licenciamento do aterro por ali serem tratados materiais desconhecidos, mas sem sucesso.

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FERNANDO VELUDO / nFACTOS

Cerca de 1200 pessoas caminharam esta segunda-feira nove quilómetros em protesto contra um aterro Valongo onde são tratados “mais de 400 tipos de lixo, desde lamas a amianto”, prejudicando “a saúde da população”, descreveu o presidente da autarquia.

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Cerca de 1200 pessoas caminharam esta segunda-feira nove quilómetros em protesto contra um aterro Valongo onde são tratados “mais de 400 tipos de lixo, desde lamas a amianto”, prejudicando “a saúde da população”, descreveu o presidente da autarquia.

“Estiveram presentes nesta mobilização representantes de todas as forças políticas, num movimento apartidário e cívico contra um problema grave de contaminação do ar e de lençóis freáticos. Podem ser aqui depositados 400 tipos de resíduos diferentes e, para além de lamas e amianto, nem sabemos o que é aqui colocado. Não podemos aceitar”, afirmou José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo, distrito do Porto, em declarações à Lusa.

O autarca descreveu que o licenciamento do “aterro da Recivalongo” decorreu em 2007, paralelamente a outro no mesmo local, dedicado apenas a “resíduos da construção civil” e que, em 2018, apesar da oposição da Câmara à renovação das licenças, a mesma “foi feita, fazendo de conta que estava tudo bem”.

“Já enviamos cartas e cartas a diversas entidades, desde a CCDR-N [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte] ao ministério do Ambiente, mas nada resulta”, observou o socialista José Manuel Ribeiro.

Em 2018, durante o período de consulta pública para a renovação das licenças, a autarquia contestou o licenciamento, mas sem sucesso. “Uma pessoa fica revoltada”, desabafou o presidente da Câmara, explicando que o município não tem autoridade na matéria.

Para o autarca, trata-se de uma “falta de respeito pelas populações”, nomeadamente pela freguesia de Sobrado, onde está instalado o aterro e onde “as pessoas já não podem abrir as janelas devido ao mau cheiro”. “Em 2007 foi vendida a ideia de que era muito bom ter no concelho um centro de recolha de resíduos da construção civil. Só que, em paralelo, foi licenciado o aterro da Recivalongo, vocacionada para mais de 400 tipos de lixo”, disse o presidente.

Também Diogo Pastor, do secretariado da associação ambiental Jornada Principal, organizadora do protesto, descreveu que o aterro da Recivalongo no Vale da Cobra, em Sobrado, foi licenciado em 2012 para receber “resíduos industriais não perigosos”, mas um dos códigos que recebe “é amianto”, que “é perigoso”. “A população sente-se enganada e está em causa um problema de saúde pública”, alertou Diogo Pastor, em declarações à Lusa.

O responsável explicou que, até há dois anos, “os odores eram contidos e camuflados pela cortina arbórea” existente junto ao aterro, mas actualmente a mesma “já não consegue conter o cheiro”.

O PSD revelou na terça-feira que entregou na Assembleia da República um projecto de resolução recomendando ao Governo medidas de resposta ao problema ambiental no aterro da Recivalongo, que “tem sido alvo de variadas contestações por parte da população, sobretudo pelo perigo que representa para a saúde pública e odores emanados”.

Os sociais-democratas referiram-se a “vários episódios de incêndio no aterro” que, “muito provavelmente”, danificaram “as telas de impermeabilização e consequente contaminação dos recursos hídricos e do solo devido ao lixiviado”. Considerando que o cenário actual “pode colocar em causa a saúde pública, quer por eventuais descargas ilegais que possam vir a existir, quer pela inalação de gases perigosos, e outros factores que se entende importante averiguar”, o PSD pediu ao Governo para rever “as licenças ambientais”.