As vitórias de Emily e Álvaro contra o cancro
São duas histórias de sucesso sobre duas crianças. Uma delas começou em 2012, passa-se nos EUA, e dura até hoje. A outra é mais recente (e por isso, ainda está em aberto) e passou-se aqui ao lado, em Espanha.
Se por acaso já ouviu falar de terapia com células CAR-T não foi seguramente por causa de um caso que não teve o final feliz que merecia. Provavelmente, soube da vitória de uma menina chamada Emily Whitehead, que tinha seis anos quando entrou para a história da medicina. A criança norte-americana que hoje continua sem sinais da leucemia que a condenava à morte em 2012 foi o primeiro caso de sucesso desta terapia, transformando-se no sorridente rosto da promessa das células CAR-T. Emily foi escolhida para um tratamento experimental, tratada no âmbito de um ensaio clínico na Universidade de Pensilvânia (EUA). Não foi a primeira doente a ser tratada com este método, já que o primeiro caso de sucesso terá sido relatado por uma equipa liderada por Carl June, também da Universidade de Pensilvânia (EUA), em 2010.
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Se por acaso já ouviu falar de terapia com células CAR-T não foi seguramente por causa de um caso que não teve o final feliz que merecia. Provavelmente, soube da vitória de uma menina chamada Emily Whitehead, que tinha seis anos quando entrou para a história da medicina. A criança norte-americana que hoje continua sem sinais da leucemia que a condenava à morte em 2012 foi o primeiro caso de sucesso desta terapia, transformando-se no sorridente rosto da promessa das células CAR-T. Emily foi escolhida para um tratamento experimental, tratada no âmbito de um ensaio clínico na Universidade de Pensilvânia (EUA). Não foi a primeira doente a ser tratada com este método, já que o primeiro caso de sucesso terá sido relatado por uma equipa liderada por Carl June, também da Universidade de Pensilvânia (EUA), em 2010.
Já este ano, aqui ao lado em Espanha, soube-se que um menino de Alicante chamado Álvaro, com seis anos, voltou para casa no dia 25 de Abril depois de ter sido tratado com células CAR-T a uma leucemia linfoblástica aguda. Foi tratado no Hospital Sant Joan de Déu, de Esplugues de Llobregat (Barcelona), um dos três centros pediátricos acreditados em Espanha para oferecer este tratamento.
Quando se fala em Espanha, o médico José Dinis, do IPO do Porto e coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, não consegue disfarçar o entusiasmo (e talvez uma pontinha de inveja). “Aqui ao lado”, nota, há hospitais com autonomia que são financiados por fundações e que conseguem desenvolver projectos de investigação em várias áreas ao abrigo de ensaios clínicos. “Cá em Portugal, as fundações não podem dar dinheiro a um hospital. A tristeza é tal que o SNS não está capaz de cumprir as regras para que os ricos nos dêem dinheiro, de uma forma transparente”, queixa-se. Aliás, aqui ao lado, além dos ensaios clínicos que recebem estas terapias de forma gratuita há ainda outros que estão a decorrer apoiados na “produção” própria de células CAR-T (sem que seja necessário a viagem para os EUA). Após vários anos de trabalho, o Hospital Clínic de Barcelona deverá, em Setembro, pedir à Agência do Medicamento autorização para comercializar esta terapia a um custo bastante inferior (cerca de 65 mil euros) ao que é agora praticado pelas farmacêuticas multinacionais (mais de 300 mil euros).
Há pressa de chegar a uma solução e muitas equipas a trabalhar nesta área. “Isto é quase a corrida ao Santo Gral”, diz José Dinis que repara que “as CAR-T estão hoje por todo o lado”. As grandes expectativas sobre o futuro das células CAR-T na medicina e, especificamente, no tratamento do cancro, são mais do que justificadas. É, de facto, impressionante ver o que “somos” capazes de fazer: um remédio para nós, feito de um pedaço de nós, que destrói a doença dentro de nós. “Isto vai ser o futuro”, acredita Susana Roncon, responsável do Serviço de Terapia Celular no Instituto Português de Oncologia, e que defende que “o maior desafio agora é perceber qual o doente que mais pode beneficiar desta terapêutica”. José Dinis acrescenta e contextualiza: “Isto é um caminho novo. Estamos agora nesta área como estavam os transplantes hepáticos quando começaram. E aí também houve doentes que morreram. Estamos a começar uma nova era.”