As pistas que apontam para a recandidatura de Marcelo

A lista de apoios ao actual Presidente é variada e inclui gente de diversos pontos do espectro politico-partidário. Esta semana, a possibilidade de uma recandidatura voltou a entrar na agenda.

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Marcelo Rebelo de Sousa na Web Summit de 2018 Miguel Manso

Falta qualquer coisa como um ano para que o Presidente da República anuncie se volta a entrar na corrida a Belém. No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa tem deixado várias pistas que indiciam querer manter-se no mais elevado cargo na nação. Só por uma vez fez depender a sua não recandidatura de um acontecimento: incêndios graves, como os que em 2017 mataram mais de cem pessoas.

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Falta qualquer coisa como um ano para que o Presidente da República anuncie se volta a entrar na corrida a Belém. No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa tem deixado várias pistas que indiciam querer manter-se no mais elevado cargo na nação. Só por uma vez fez depender a sua não recandidatura de um acontecimento: incêndios graves, como os que em 2017 mataram mais de cem pessoas.

Esta semana, ao falar sobre a “forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos” e ao defender que, num contexto destes, o seu papel “é importante para equilibrar os poderes”, o Presidente voltou a colocar a hipótese de uma recandidatura. Pelo menos, houve quem o entendesse assim. David Justino, vice-presidente do PSD, disse na TSF que esta questão surge no discurso presidencial “não por ser uma realidade, mas por ser um contexto favorável à candidatura”.

Caso decida avançar, o Presidente já tem alguns apoios prometidos – e são transversais. Assunção Cristas (CDS), Pedro Santana Lopes (Aliança), Jorge Coelho, João Soares, Francisco Assis (todos do PS) são alguns dos políticos que poderão dar-lhe o seu voto. Afinal, de que depende o avanço, ou não, de Marcelo?

Incêndios: sim ou não, eis a questão

Foi numa entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, em Maio de 2018, que Marcelo Rebelo de Sousa fez, pela primeira vez, a sua recandidatura depender de uma coisa concreta: incêndios graves. “Voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato, isso seria, só por si, impeditivo de uma recandidatura”, disse o Presidente.

Antes, na mesma entrevista, Marcelo já tinha havia alertado para o facto de essa matéria ser tão importante como fundamental para “o próprio juízo que o Presidente fará sobre o seu mandato” em meados de 2020.

Ao assumir que a repetição do cenário dos incêndios de 2017 impediria nova corrida e Belém, Marcelo Rebelo de Sousa também deixou aberta a porta a outra hipótese: se não houver nenhum outro incêndio de gravidade semelhante, o Presidente pode voltar a concorrer.

Web Summit: humor anglo-saxónico

Outubro de 2018. Mais de um ano depois dos incêndios de Junho e um ano depois dos de Outubro, ambos mortais, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se entusiasmado com a hipótese de ser Presidente durante os anos em que a Web Summit se realizasse em Portugal.

“Não dormi muito, como é habitual. E pensei: há alguma vantagem adicional para a minha vida de ter dez anos da Web Summit em Portugal? E eu disse: bom, há algo que pode tornar-se um efeito colateral, não necessariamente muito positivo, que é ter a responsabilidade de me candidatar novamente à Presidência”, assumiu durante um encontro com startups portuguesas que iam participar na edição de 2018 da grande cimeira tecnológica.

Depois deste comentário, que classificou como “humor anglo-saxónico”, o Presidente não explicou melhor o que queria dizer, muito pelo contrário. “Ironizei. Afirmei que ter a Web Summit por tantos anos tinha aspectos positivos e negativos. Logo se verá. Veremos em 2020”, disse.

Jornadas da Juventude: vontade de avançar

A partir da Cidade do Panamá, em Janeiro de 2019, Marcelo Rebelo de Sousa usou a expressão “grande vontade” para falar sobre uma possível recandidatura. Perante a pergunta dos jornalistas, que quiseram saber se o Presidente estaria em funções quando Portugal recebesse as Jornadas Mundiais da Juventude, em 2022, Marcelo repetiu o mesmo de sempre: “Eu tenho dito que a minha decisão é só em meados de 2020”.

Depois, acrescentou: “Saio daqui - e amanhã [domingo] admito que mais - com uma grande vontade de, se Deus me der saúde e se eu achar que sou a melhor hipótese para Portugal, com uma grande vontade de me recandidatar. Tenho de ter saúde e tenho de ver se não há ninguém em melhores condições para receber o Papa”. A conversa entre os jornalistas e o chefe de Estado português aconteceu depois de uma missa na basílica de Santa Maria la Antigua, presidida pelo Papa Francisco.

Saúde: a questão decisiva

Ao cumprir o terceiro ano de mandato, a partir de Angola, o Presidente voltou a responder à pergunta que mais vezes lhe foi feita durante o mandato: vai recandidatar-se em 2021? Desta vez, Marcelo Rebelo de Sousa apresentou como factores decisivos duas condições que já antes havia enunciado: o seu próprio estado de saúde e o facto de poder haver “alguém em melhores condições” para exercer o cargo.

“Primeiro ponto: a saúde. Este cargo é um cargo exigente. E se é exigente num mandato, é mais exigente em dois mandatos, e se é exigente numa idade, é mais exigente com mais alguns anos. Segundo: ter a noção de que sou a pessoa que está em melhores condições de cumprir a missão naquele momento”, explicou, garantindo: “Se não for candidato, saberei sair do palco, sem ser daquela forma que, às vezes, ocorre, que é um conjunto de festas, de celebrações, de saudade antecipada.”

Em 2016, explicou ainda, uma das razões que o motivaram a avançar foi o país estar perante um Governo minoritário e ser preciso alguém para fazer a ponte. “A ponte devia ser feita a partir da direita e não da esquerda, porque seria esquerda a mais.”

Portanto, se tiver saúde e se achar que é a pessoa mais bem posicionada para avançar em 2021, Marcelo acabará por apresentar a sua recandidatura.

Crise na direita: o factor de equilíbrio

E se em 2016, era preciso uma ponte para fazer e ligação entre a esquerda e a direita, em 2021 não será também? Esta semana, ao mostrar-se preocupado com a possível crise na direita, o Presidente deu a entender que o equilíbrio de forças após as eleições legislativas pode influenciar o seu papel como Presidente da República e a sua decisão sobre uma recandidatura. “É muito importante haver um equilíbrio nos dois hemisférios da vida política portuguesa, para não haver um desequilíbrio muito para um lado, relativamente a outro”, comentou o Presidente.

Marcelo contou aos jornalistas que a seguir à sua intervenção na FLAD, numa sessão de perguntas e respostas fechada à comunicação social, houve quem lhe perguntasse se tencionava recandidatar-se ou não. “E eu tive de explicar que é uma questão que só decidirei para o ano e que, no fundo, tem muito a ver com o papel do Presidente no quadro do equilíbrio de poderes que existe e que existirá nos futuros anos”, relatou.

Independentemente das pistas que foi deixando, Marcelo Rebelo de Sousa nunca esclareceu totalmente a questão do seu futuro político. Mas houve uma coisa que nunca mudou no seu discurso: “Quando me candidatei, fi-lo por sentir um dever de consciência. Olhando para o que era o país, incluindo o país político, e o resultado que tinha saído das eleições [legislativas], achei que era o mais bem colocado. A minha posição é a mesma. Se no Verão de 2020 entender que tenho o dever de consciência de continuar, eu continuo e recandidato-me”.