Líderes dos protestos no Sudão presos depois de se falarem com primeiro-ministro da Etiópia
Esforço de mediação da crise política Abiy Ahmed terá resultado numa resposta agressiva dos militares contra figuras da oposição.
Três líderes dos protestos populares no Sudão foram detidos por homens armados após se encontrarem com o primeiro-ministro etíope, que chegou a Cartum para tentar resolver a crise com os militares no poder, informaram fontes próximas dos detidos.
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Três líderes dos protestos populares no Sudão foram detidos por homens armados após se encontrarem com o primeiro-ministro etíope, que chegou a Cartum para tentar resolver a crise com os militares no poder, informaram fontes próximas dos detidos.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, pediu na sexta-feira uma transição democrática “rápida”, depois de se encontrar com o presidente do Conselho Militar, general Abdel Fattah al-Burhane, e vários líderes dos protestos populares, contra os quais os militares investiram violentamente esta semana, fazendo dezenas de mortos. A repressão parece ter sido feita pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), milícia apoiante do Conselho Militar de Transição (CMT) e que no passado foi acusada de massacres no Darfur.
Familiares e membros das forças políticas de oposição disseram à AFP que, Mohamed Esmat, líder da Aliança pela Liberdade e pela Mudança, principal motor dos protestos, foi detido ainda na sexta-feira, pouco depois de se encontrar com o primeiro-ministro da Etiópia. Ismail Jalab e o seu porta-voz, Mubarak Ardol, do Movimento Popular de Libertação do Sudão, foram detidos sábado de madrugada.
Na sexta-feira, quando saíram da embaixada da Etiópia, “um carro com homens armados parou e levou Mohamed Esmat para um local desconhecido, sem dar explicações”, descreveu à agência AFP Essam Abu Hassabu, membro da Aliança pela Liberdade e pela Mudança.
Quanto a Ismail Jalab, foi levado para “um destino desconhecido”, por homens armados que foram a sua casa às 3h00 da madrugada (menos uma hora em Lisboa), contou o seu companheiro de partido Rachid Anuar. O mesmo aconteceu a Mubarak Ardul. Na quarta-feira, as forças de segurança tinha já detido Yasser Amran, vice-líder do Movimento Popular de Libertação do Sudão, que integrava uma antiga rebelião do sul que esteve em conflito com o poder central do Presidente Omar al-Bashir.
Bashir foi derrubado a 11 de Abril pelo exército, a favor de uma revolta popular sem precedentes desencadeada quatro meses antes. O Conselho Militar que assumiu o poder iniciou negociações com os líderes dos protestos, em torno de uma transição pós-Bashir
Mas as negociações foram suspensas a 20 de Maio, com cada um dos lados a querer liderar a transição. Na segunda-feira, as forças de segurança dispersaram brutalmente uma manifestação, deixando dezenas de mortos e centenas de feridos.
Durante a visita do primeiro-ministro etíope, na sexta-feira, os generais disseram que estavam “abertos a negociações”, mas os manifestantes estabeleceram condições que incluem uma investigação internacional sobre o “massacre” ocorrido nos protestos.