Dinamarca: sociais-democratas prometem endurecer políticas anti-imigração para ganhar legislativas

As sondagens apontam para uma vitória dos sociais-democratas e sangria eleitoral da extrema-direita, com o Partido Popular Dinamarquês a cair dos 21,1% conquistados em 2015 para 11%. Governo social-democrata na Dinamarca será obstáculo à eleição de Margrethe Vestager para presidente da Comissão Europeia.

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Mette Frederiksen, líder dos sociais-democratas dinamarqueses FABIAN BIMMER/Reuters

Os dinamarqueses vão esta quarta-feira às urnas escolher o próximo Parlamento e o endurecimento das políticas anti-imigração tem sido o principal tema da disputa eleitoral, num contágio das narrativas e políticas da extrema-direita aos partidos tradicionais. O resultado das legislativas terá impacto no xadrez político para a escolha do próximo presidente da Comissão Europeia.

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Os dinamarqueses vão esta quarta-feira às urnas escolher o próximo Parlamento e o endurecimento das políticas anti-imigração tem sido o principal tema da disputa eleitoral, num contágio das narrativas e políticas da extrema-direita aos partidos tradicionais. O resultado das legislativas terá impacto no xadrez político para a escolha do próximo presidente da Comissão Europeia.

Os sociais-democratas, na oposição desde 2015, podem, diz uma sondagem do fim-de-semana, vencer com 27% dos votos, enquanto o Partido Liberal, do chefe do Governo minoritário, Lars Løkke Rasmussen, deverá conseguir o segundo lugar com 18%. Já o Partido Popular Dinamarquês (PPD), de extrema-direita, deverá ter uma sangria de eleitores para os sociais-democratas, descendo para os 11% dos votos – nas legislativas de 2015 conquistaram 21,1%.

E se assim for, as hipóteses de a candidata liberal e actual Comissária para a Concorrência, Margrethe Vestager, ser eleita presidente da Comissão Europeia podem diminuir bastante.

Ao contrário do que se assiste no resto da Europa, onde a extrema-direita cresce, na Dinamarca assistem-se a sinais de declínio, o que se deve à mudança de postura dos partidos tradicionais sobre a imigração. Desde 2015 que o governo de Rasmussen conta ora com o apoio do PPD ora com o dos sociais-democratas para endurecer as leis anti-imigração – fê-lo 114 vezes –, tentando desta forma esvaziar o programa político da extrema-direita.

Frederiksen promete agora fazer o mesmo se chegar ao governo, recusando quaisquer críticas sobre essa estratégia. “Não se é má pessoa por se estar preocupada com a imigração”, disse a líder social-democrata, conhecida por já ter defendido o direito da polícia retirar objectos de valor aos requerentes de asilo quando estes chegam ao país. Nas décadas de 1980 e 90, o partido defendeu uma política migratória restritiva, mas suavizou-se quando, nas duas décadas seguintes, integrou coligações governamentais com partidos à sua esquerda.

“Os sociais-democratas perceberam que se não querem perder outra eleição na questão da imigração precisam de emular as políticas dos Liberais e do Partido Popular Dinamarquês”, explicou o politólogo Flemming Juul Christiansen à AFP.

Ganhar as eleições não será suficiente para os sociais-democratas. Poucos são os que acreditam que conseguirão conquistar assentos parlamentares suficientes (mínimo de 88 em 175) para formar um governo de partido único - nenhum partido o consegue desde 1999. Ao invés, ver-se-ão obrigados a coligarem-se com partidos à sua esquerda que têm posições mais positivas sobre a imigração e uma linha mais radical sobre investimento no Estado Social.

O objectivo da liderança social-democrata passa, segundo o número dois de Frederiksen, Nicolai Wammen, pela formação de um governo de partido único, governando ora com o apoio da direita quando se trata de imigração ora com o da esquerda para defender o Estado Social. Para satisfazer o eleitorado e os possíveis parceiros à esquerda, os sociais-democratas prometem um aumento nos gastos sociais na ordem dos 0,8% do PIB, o que é visto como insuficiente.

Estratégia que normalizou o endurecimento das políticas anti-imigração, ostracizando os imigrantes e levando ao aumento dos crimes de ódio num momento em que a imigração é a menor desde 2015 – Copenhaga recebeu apenas 600 pedidos de asilo em 2018. “Os políticos estão a ficar muito próximos dos limites dos direitos humanos”, alertou Louise Holck, vice-director-executivo do Instituto Dinamarquês para os Direitos Humanos, ao Guardian. Opinião partilhada pelo politólogo dinamarquês Kasper Hansen em declarações à AFP: “O que pensávamos ser extremo há dez anos é agora um discurso comum na Dinamarca”.

O tabuleiro europeu

O primeiro-ministro dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, apoia a candidata liberal e actual Comissária para a Concorrência, Margrethe Vestager, mas com a vitória dos sociais-democratas o próximo governo deverá apoiar o candidato dos socialistas, Frans Timmermans. Pelo menos é esse o desejo dos socialistas europeus. 

“Vestager é respeitada pelo seu trabalho, mas não tem muitos amigos no país. Particularmente entre os sociais-democratas”, explicou Marlene Wind, professora de Ciência Política na Universidade de Copenhaga, ao euobserver. Em causa está o desempenho como Ministra da Economia e do Interior, entre 2011 e 2014, com os cortes nos benefícios sociais a serem a sua marca de governação.

Ainda assim não se pode afastar a hipótese de Copenhaga poder ceder às pressões de líderes europeus para que Vestager substitua o Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão Europeia. “Nenhum primeiro-ministro [dinamarquês] diria que não, caso outros líderes da UE sugiram uma dinamarquesa para essa posição”, referiu Wind. A candidata liberal conta com o apoio da Bélgica, Luxemburgo, Holanda, República Checa, Eslovénia e Estónia, mas deverá ter a oposição da França e Alemanha por ter impedido a junção de empresas europeias, entrando em choque com Paris e Berlim.