A nova (velha) vida do Convento da Saudação

Um convento de monjas dominicanas do século XVI prestes a entrar em obras para evitar a ruína. E depois, se tudo correr bem, há mais. O Espaço do Tempo há-de voltar.

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Rui Horta não entra no Convento de Nossa Senhora da Saudação desde os últimos dias da mudança para o Hospital de Santo André, em Março. Quando abre a porta depara-se com um grupo de engenheiros da empresa que ficará encarregue das obras de contenção do edifício — uma intervenção determinada pelo Ministério da Cultura, depois dos estragos provocados pelo furacão Leslie, em Outubro do ano passado — e apresenta-se: “Olá, eu sou o Rui Horta e fui a madre superiora.”

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Rui Horta não entra no Convento de Nossa Senhora da Saudação desde os últimos dias da mudança para o Hospital de Santo André, em Março. Quando abre a porta depara-se com um grupo de engenheiros da empresa que ficará encarregue das obras de contenção do edifício — uma intervenção determinada pelo Ministério da Cultura, depois dos estragos provocados pelo furacão Leslie, em Outubro do ano passado — e apresenta-se: “Olá, eu sou o Rui Horta e fui a madre superiora.”

Em seguida, percorre apressadamente os muitos espaços da casa para dar conta do que aconteceu enquanto esteve ausente: “Esta parte é muito dura para mim. Não estamos aqui há três meses e as coisas degradaram-se já tanto. Basta não haver quem cuide.”

O pátio do claustro, sobre a cisterna, com o seu poço e as laranjeiras com fruto, está agora cheio de ervas; das paredes vão caindo pedaços que ninguém varre e há teias de aranha e humidade onde antes tudo estava limpo. “Parece uma casa abandonada mas não é. Está só à nossa espera do que aí vem.”

Explica Horta que, depois do temporal do ano passado, Graça Fonseca e Ângela Carvalho Ferreira, ministra e secretária de Estado da Cultura, visitaram o convento e decidiram de imediato avançar com uma intervenção de contenção da estrutura. “É uma primeira obra, de urgência, que vai demorar um ano, ano e meio e que tem um custo estimado de 1,6 milhões de euros, dinheiro que vem do Fundo de Fomento Cultural.”

A essa intervenção, se vingar a candidatura da Câmara de Montemor-o-Novo ao Alentejo 2020 – apresentou um projecto de reutilização do convento, com obra de recuperação do edifício e trabalhos de conservação e restauro, orçado em 4,5 milhões de euros — seguir-se-á a da autarquia, a quem a Cultura cedeu a gestão do espaço, em Agosto do ano passado. Objectivo? “Recuperar o convento para ali instalar um centro nacional de artes transdisciplinares e os serviços de património da câmara, criando um espaço multicultural para vários tipos de eventos e abrindo o edifício a visitas”, explica a presidente da câmara, Hortênsia Menino. E para que não restem dúvidas do regresso de Horta e da sua equipa depois das tão desejadas obras, acrescenta: “Vai continuar, naturalmente, a ter o Espaço do Tempo e as suas residências de artistas, que é um projecto extremamente importante para Montemor porque consolidou e ajudou a projectar o trabalho que a câmara já fazia na cultura, porque fez com que ele crescesse e se diversificasse.”

Ainda em 2019 se deverá ficar a saber se o projecto da autarquia será financiado e com que montantes. “Um calendário mais rigoroso para a obra só depois de planearmos bem, consoante a verba que nos for concedida.”

Neste momento há telhas e pedras a cair, um estúdio com um buraco gigantesco no tecto, uma igreja coberta de azulejos que ameaça ruir, um piso térreo que parece prestes a desmoronar-se, do claustro ao coro baixo, ainda com as paredes cobertas de pinturas. “Isto foi mágico e vai continuar a ser mágico”, acredita Horta, que em breve assenta arraiais na Garagem Magina — “o nome é perfeito, porque sem darmos por isso lhe acrescentamos logo um i” — um espaço com 1200 metros quadrados, com um armazém, três estúdios “de luxo” e 16 quartos para artistas em residência. “Vamos manter a nossa dinâmica intacta. O ano que vem já está quase todo programado.”

O coreógrafo já se consegue imaginar ali, na velha garagem já transformada em Espaço do Tempo, entrando pela cozinha, como é seu hábito, onde à hora do almoço Maria, a cozinheira, há-de estar a preparar um caril.