Algarve terá mais mortalidade devido a ondas de calor até ao final do século

Prevê-se a subida do nível do mar, o aumento da temperatura e a diminuição dos recursos hídricos nesta região.

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Melanie Map's

O Algarve pode ter, até ao final do século, mais eventos meteorológicos extremos e uma maior mortalidade devido a ondas de calor, assim como problemas causados por cheias e pelo avanço do mar, aponta um estudo divulgado nesta terça-feira.

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O Algarve pode ter, até ao final do século, mais eventos meteorológicos extremos e uma maior mortalidade devido a ondas de calor, assim como problemas causados por cheias e pelo avanço do mar, aponta um estudo divulgado nesta terça-feira.

A subida do nível do mar, o aumento da temperatura e a diminuição dos recursos hídricos são os factores que se prevê que tornem a região do Algarve mais vulnerável até ao final do século, aponta o cenário traçado no Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC).

Segundo disse à Lusa o coordenador científico do plano, Luís Dias, um modelo estatístico desenvolvido no plano estima que “a mortalidade no Algarve associada a eventos particularmente quentes pode subir de 2% para 7%”, sobretudo no sotavento (leste) algarvio, sendo Alcoutim “a situação mais preocupante”.

“Em cenário de alterações climáticas, Julho e Agosto passam a ser meses muito quentes”, o que pode modificar a tendência da ocupação turística no Algarve, refere aquele responsável, que nota a possibilidade de passarem a haver duas épocas turísticas, de tempo mais ameno, intervaladas por dois meses muito quentes.

No que respeita à subida do nível do mar, as zonas mais afectadas poderão ser Faro e Quarteira — mais vulneráveis por terem ocupação urbana —, mas também Lagos e Tavira, neste último caso devido ao aumento da probabilidade da ocorrência de cheias e inundações, acrescentou o especialista.

De acordo com Luís Dias, apesar de actualmente ainda ser possível travar o avanço do mar com a alimentação artificial de praias e a criação de dunas, essas soluções poderão não ser suficientes daqui a 40 ou 50 anos, tendo que ser equacionadas outras medidas, como a construção de paredões ou, mesmo, a deslocalização de parte da população.

Por outro lado, “devem ser tomadas medidas no espaço público para proteger as áreas urbanas de cheias e inundações”, sendo necessário também que as cidades tenham mais condições para que os habitantes enfrentem o calor: através de mais espaços verdes, presença de água, sombreamento e até uso de micro aspersores para pulverizar água.

A diminuição de recursos hídricos é outra ameaça que paira sobre a região, que actualmente já enfrenta períodos de seca, com um agravamento do cenário na agricultura que pode ser mitigado pela implementação da dessalinização de água do mar.

“Mantendo-se a agricultura no estado em que está e o consumo no estado em que está, e partindo do princípio que não haverá alteração, no pior cenário, por volta de 2080 teremos que construir uma central de dessalinização”, refere.

O PIAAC envolveu responsáveis universitários, autarcas e técnicos de instituições públicas na elaboração de propostas de medidas de adaptação que, a longo prazo, contribuam para minimizar os impactos das alterações climáticas em vários sectores.

O coordenador não científico do plano, Filipe Duarte Santos, é membro do centro de investigação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo sido um dos revisores do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).

Esta iniciativa envolveu um investimento superior a 470 mil euros, verba financiada em 85% pelo Fundo de Coesão, através do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos, e em 15% pelos municípios algarvios.