Miguel Relvas sugere que Rio está em “estado de negação”

Ex-ministro considera que palavras do Presidente foram uma “injecção de ambição” na direita.

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daniel rocha

Miguel Relvas, ex-número dois de Passos Coelho, contraria o actual líder do PSD, Rui Rio - que considera haver uma crise generalizada no sistema político -, e coloca-se ao lado do Presidente da República, que disse haver uma possibilidade de ocorrer uma “crise na direita portuguesa nos próximos anos”.

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Miguel Relvas, ex-número dois de Passos Coelho, contraria o actual líder do PSD, Rui Rio - que considera haver uma crise generalizada no sistema político -, e coloca-se ao lado do Presidente da República, que disse haver uma possibilidade de ocorrer uma “crise na direita portuguesa nos próximos anos”.

Depois destas declarações, Rui Rio assumiu discordar de Marcelo Rebelo de Sousa: “A crise não está só à direita, a crise está no regime como um todo”. E Miguel Relvas vem agora contrariar esta afirmação.

“Querer transformar as palavras do senhor Presidente da República numa questão sistémica parece-me totalmente desenquadrado”, disse à Lusa Miguel Relvas, que tem sido crítico da direcção de Rui Rio. “Desvalorizar a posição de Estado que o Presidente da República demonstrou, e tem demonstrado, em relação ao sistema político revela bem o estado de negação em que alguns actores políticos se encontram neste momento”, afirmou.

A posição do também ex-secretário-geral do PSD, quando Durão Barroso era presidente do partido, contrasta com as declarações de outro barrosista. José Luís Arnaut considerou haver uma “crise de confiança no actual sistema”, que se tornou evidente “pela abstenção, que tem sido crescente”, e acrescentou que “essa crise toca todos os partidos do sistema e toca as instituições políticas lato sensu”.

Miguel Relvas disse ainda interpretar as declarações do Presidente da República como “uma injecção de ambição dirigida à direita portuguesa” e sustentou que Marcelo Rebelo de Sousa “demonstrou, uma vez mais, ser o referencial de confiança, de equilíbrio e de lucidez do actual sistema político em Portugal”. 

Para o antigo ministro do Governo de Passos Coelho, o Presidente deu, “mais uma vez, um contributo” para se perceber a necessidade de haver uma “oposição forte que possa garantir os equilíbrios do sistema politico democrático”. Miguel Relvas defende que o sistema político português “só funciona em plenitude quando a oposição consegue apresentar um projecto ambicioso que não se limita a identificar os pequenos ganhos que pode retirar do situacionismo governamental”.

Nesta terça-feira, ao lado de Rui Rio, numa iniciativa partidária sobre a reforma do sistema eleitoral, Francisco Pinto Balsemão também subscreveu a visão do actual líder do partido ao dizer que “a crise não é de direita nem de esquerda, é de todo um sistema político”.

Os dois sociais-democratas falavam aos jornalistas sobre as propostas de reforma do sistema político que o PSD está a preparar para levar a votos nas legislativas. Ainda sem um texto final, Rui Rio reiterou o que sempre defendeu: uma aproximação entre o candidato e o eleitor. Logo, os “círculos eleitorais têm de ser mais pequenos”, defendeu o líder do PSD, assumindo também a necessidade de uma redução do número de deputados para um mínimo de 180 e que tenha em conta a contagem dos votos brancos e nulos, mas não da abstenção.

Rui Rio assumiu esta tese como a sua opinião, mas não é certo que seja essa a proposta do PSD. Questionado pelos jornalistas sobre se este modelo não pode pôr em causa o sistema, por poder encorajar o votos em branco, o líder social-democrata respondeu quase entre-dentes: “O sistema, cá para nós, estará em risco de vir a baixo por dentro, se não houver uma reforma”.

Há outro ponto em que Balsemão e Rio estão de acordo: a actual lei eleitoral está ultrapassada. O líder do PSD referiu-se à necessidade de alterar a forma de eleição dos deputados, a forma de funcionamento dos partidos políticos, a lei eleitoral autárquica, mas sublinhou a necessidade de negociar com os outros partidos, nomeadamente com o PS.