Clássicos inspiram protocolo entre ministérios da Educação e da Ciência

Cientificamente Provável é um programa que pretende ligar o ensino superior aos ensinos básico e secundário e que une as pastas da Educação e da Ciência. A apresentação está marcada para esta quarta-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Clássicos em Rede é uma parceria entre a Rede de Bibliotecas Escolares, o Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e o site Olimpvs.net DR

“Se o ensino secundário se sente refém do acesso ao ensino superior, é bom que o conheça”, disse ao PÚBLICO João Costa, secretário de Estado da Educação, que em conjunto com João Sobrinho Teixeira, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, irão apresentar nesta quarta-feira o programa Cientificamente Provável.

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“Se o ensino secundário se sente refém do acesso ao ensino superior, é bom que o conheça”, disse ao PÚBLICO João Costa, secretário de Estado da Educação, que em conjunto com João Sobrinho Teixeira, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, irão apresentar nesta quarta-feira o programa Cientificamente Provável.

A cerimónia de entrega dos prémios das Olimpíadas da Cultura Clássica, integradas no projecto Clássicos em Rede, foi o momento escolhido para divulgar publicamente “um protocolo que pretende aproximar o ensino superior do ensino básico e secundário e que já conta com 360 parcerias”, segundo João Costa.

“O grande objectivo”, diz o secretário de Estado da Educação, “é concretizar o perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória”.

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O secretário de Estado da Educação, João Costa, acredita que, “sempre que é possível levar o espírito científico para as escolas, os resultados são bons” Fábio Augusto

A boa parceria entre a Rede de Bibliotecas Escolares e o Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa “foi inspiradora do Cientificamente Provável”, conta aquele responsável. E acrescenta: “Sempre que é possível levar o espírito científico para as escolas, os resultados são bons.”

Assim, os centros de investigação universitários vão “apoiar visitas de estudo, disponibilizar recursos e materiais e dar palestras a escolas do ensino básico e secundário”.

Desta forma, também eles “ficarão a conhecer o funcionamento e necessidades” dos níveis que antecedem o ensino superior.

Um dos aspectos que João Costa quer realçar, além do “objectivo formativo”, é a “flexibilidade curricular”, que já está formalmente prevista e pode ser praticada assim: “Um aluno de Ciências e Tecnologia ter uma disciplina de Latim e um aluno de Línguas e Humanidades frequentar Biologia em vez de uma disciplina do seu curso.”

Fala ainda em como a iniciativa Clássicos em Rede ajuda a promover e revitalizar a cultura clássica, “uma área que tem estado a mirrar” e que, nas suas palavras, é “fundamental para o entendimento da organização social da Antiguidade, do conhecimento dos nossos referentes e de como vai ajudando a inverter o decréscimo dos alunos de Latim”.

Desta iniciativa também fazem parte as autoras de Olimpvs.net (site complementar a uma colecção de livros sobre a Antiguidade Clássica): Ana Soares, professora, e Bárbara Wong, jornalista e editora do PÚBLICO.

Mais de 4 mil alunos

Manuela Pargana Silva, coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, dá-nos conta de que neste segundo ano do programa Clássicos em Rede (2018-2019) foram abrangidos 4250 alunos (do 4.º ao 12.º ano e de 92 escolas,), tendo participado em sessões nas escolas um total de 22 investigadores universitários.

Para esta responsável, também ligada ao Ministério da Educação, “tem sido uma excelente oportunidade para as bibliotecas escolares proporcionarem, aos alunos, o alargamento dos seus conhecimentos numa área crucial para os seus referentes culturais e humanísticos do mundo ocidental, ao mesmo tempo que estimulam a sua curiosidade e criatividade através da investigação e produção de múltiplos recursos digitais e artísticos”, diz-nos em mensagem enviada por correio electrónico.

Na tarde desta quarta-feira, a partir das 13h30, a festa faz-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se mostrarão os trabalhos dos alunos que participaram nas Olimpíadas da Cultura Clássica e se entregarão prémios aos melhores.

Os temas propostos foram: Dido e Eneias, Perseu e Andrómeda e, por último, As sete maravilhas do mundo antigo. As áreas de participação dividiam-se em desafios escritos e desafios de arte/multimédia. Nesta última, os contributos podiam surgir sob diversas formas: aplicações informáticas ou recursos digitais; vídeos ou filmes; desenho ou ilustração; escultura ou instalação.

Armas que sangram por amor

A pedido do PÚBLICO e através de Teresa Santa-Clara, do gabinete coordenador da Rede Bibliotecas Escolares, foi possível depoimentos de alguns dos jovens premiados.

Marta Carrilho, que será distinguida com o primeiro prémio com o seu vídeo Perseu e Andrómeda — A Magia das Armas Que Sangram por Amor, frequenta o 11.º ano, na Escola Secundária José Gomes Ferreira (Lisboa), concorreu com “um vídeo que alia o trabalho de filmagem com um texto poético, que fala das palavras enquanto armas para transmitir uma mensagem de esperança”.

Eis o que tem para nos dizer: “A Magia das Armas Que Sangram por Amor reflecte mais do que a minha participação neste concurso. É uma mensagem para todos os que a queiram ouvir, uma voz que viu num mito do passado uma esperança para o futuro. Eu agarrei com vontade as armas que mais me protegem, as palavras. Numa aliança entre o texto poético e o filme, travei a minha batalha e procurei que o meu caminho se cruzasse com todos aqueles a que me dirigia. Encontro nas palavras o meu melhor escudo e na sua subjectividade os movimentos que lhe dão sentido. Com este projecto, encontrei o jeito mais certo de agarrar estas armas, de as erguer por todos e não por mim. Assim, nasceu a magia deste concurso, a felicidade de ver a minha batalha resultar numa vitória comum: a de ver as minhas palavras tornarem-se em todos nós uma marca permanente que chama por amor.”

Dar vida a uma lenda desconhecida

Noutro tema e merecedor de Menção Honrosa está o trabalho Dido e Eneias – O Musical, dos alunos Beatriz Entrezede, Guilherme Sereno, Mafalda Felício e Natacha Silva, do 11.º ano e também da Escola Secundária José Gomes Ferreira. O grupo musicou e cantou os vários episódios da história de Dido e Eneias.

Depoimento colectivo: “Este trabalho foi-nos proposto como um desafio, que aceitámos, pondo à prova a nossa criatividade. Queríamos um tema que não conhecêssemos e que se relacionasse connosco. Então, Dido e Eneias – O Musical pareceu-nos o mais indicado. Juntámos o nosso gosto pela música, cantar e representar com a vontade de dar vida a uma lenda desconhecida pela nossa geração.”

Aprender e rir

Outra Menção Honrosa vai para o vídeo humorístico Os Deuses É Que Escolhem as Maravilhas dos Homens, dos alunos Eduardo Guarita, João Ferreira, Júlia Lemos Marcelo e Margarida Matos (11.º ano, Escola Secundária José Gomes Ferreira), “um vídeo elaborado com sentido de humor, que simula um concílio dos deuses em que estes iriam escolher quais as sete maravilhas criadas pelos homens”.

Júlia Marcelo escreve-nos assim: “Acredito que o nosso trabalho foi importante para reforçar a importância do trabalho em equipa, proporcionando-nos não só a aprendizagem do tema geral trabalhado no vídeo, mas também o espírito de trabalho colectivo. Mais que isso, o objectivo de escolha de humor para retratar o assunto abordado deve-se pela maior facilidade de atenção, seja por nossa parte — quem realizou o trabalho — seja por parte dos que assistem.”

A importância do trabalho em equipa

João Rodrigo Ferreira conta como foi para ele: “Participei neste concurso porque achei o tema interessante e, por isso, cativante. O facto de ter sido realizado em grupo tornou-o mais divertido e dinâmico. Aprendi mais sobre História da Antiguidade e gostei muito da realização do vídeo e sua gravação. No geral, gostei muito de ter participado neste projecto.”

Por último, Eduardo Garita diz-nos: “Neste pequeníssimo trabalho aprendemos a importância do trabalho em equipa e da cooperação que isso envolve. Nós escolhemos este tema e este tipo de comunicação porque queríamos falar sobre mitologia, mas queríamos fazer algo mais interessante com isso. Por isso decidimos fazer o vídeo com humor.”

Outras alunas premiadas noutras categorias foram Lia Gualdino Alves e Ana Catarina Tiago, ambas da Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras (escalão 10.º, 11.º e 12.º anos).

Música, teatro e lanche

Depois da inauguração da exposição, haverá um momento musical no Anfiteatro 1, com a participação da Academia de Amadores de Música. O director da Faculdade de Letras de Lisboa, Pedro Tamen, dará início à sessão, às 14h30, com a participação na mesa de Rodrigo Furtado (director do Centro de Estudos Clássicos), Manuela Pargana (coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares), Maria Cristina Pimentel (representante do júri), Arnaldo do Espírito-Santo (director da ADFLUL), António Feijó (pró-reitor da Universidade de Lisboa) e João Costa (secretário de Estado da Educação).

Depois da entrega de prémios, o Curso Profissional de Artes do Espectáculo da Escola Secundária de D. Pedro V proporcionará um momento de teatro (15h50).

Após o encerramento das Olimpíadas da Cultura Clássica, será apresentado o programa Cientificamente Provável pelos secretários de Estado João Costa e João Sobrinho Teixeira. Um lanche no jardim D. Pedro V encerra a festa da Antiguidade Clássica. Do básico ao superior.