Militares usam a força para dispersar manifestantes no Sudão – ONG fala em mortes

Associação fala em 13 mortos, vítimas de disparos das forças de segurança. Manifestantes querem participação da sociedade civil na transição política sudanesa.

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Protestos em Cartum, capital do Sudão Reuters/STRINGER

Uma operação militar destinada a fazer dispersar um grupo de manifestantes em Cartum, capital do Sudão, terá feito 13 mortos esta segunda-feira. A informação é avançada pela Associação Sudanesa de Profissionais, uma organização médica com ligações ao movimento de protesto formado após a queda do Presidente Omar al-Bashir, que contesta a liderança da transição política pelos militares.

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Uma operação militar destinada a fazer dispersar um grupo de manifestantes em Cartum, capital do Sudão, terá feito 13 mortos esta segunda-feira. A informação é avançada pela Associação Sudanesa de Profissionais, uma organização médica com ligações ao movimento de protesto formado após a queda do Presidente Omar al-Bashir, que contesta a liderança da transição política pelos militares.

As forças de segurança avançaram contra os manifestantes que se juntam há várias semanas em frente à sede militar do Conselho Militar de Transição (TMC), responsável pela transição, para exigir uma maior participação da sociedade civil no processo.

“Os manifestantes que realizaram um sit-in em frente ao comando geral do Exércio enfrentaram um massacre, uma tentativa traiçoeira do desmobilizar o protesto”, acusou a associação médica, em comunicado.

O avanço dos militares sobre os civis gerou confrontos e levou os soldados a disparar munições reais para os fazer desmobilizar. A acção acicatou ainda mais os ânimos e fez com que os protestos se tenham alastrado a outras zonas da capital sudanesa, com um dos líderes do movimento a apelar à desobediência civil.

“Vamos enfrentar [esta violência] com mais protestos, marchas e total desobediência civil”, disse Khalid Omar Yousef, dirigente da Declaração das Forças da Liberdade e da Mudança, citado pela Reuters.

As embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido no Sudão também condenaram a actuação dos militares. Numa mensagem publicada no Twitter, os norte-americanos decretaram que “a responsabilidade recai no TMC”. Já o diplomata britânico disse “não haver desculpas para estes ataques”.

Nos vídeos partilhados esta segunda-feira nas redes sociais, em Cartum, ouvem-se disparos, vêem-se pneus queimados e estradas barricadas pelos manifestantes.

Em declarações à Al-Jazeera, o jornalista local Mohammed Alamin relatou que as forças de segurança começaram por lançar gás lacrimogéneo contra os civis, tendo disparado quando a situação se descontrolou. A zona onde de juntavam os manifestantes já está, no entanto, pacificada.

“[Os soldados] já têm a maior parte da área dos protestos sob controlo. A maioria dos manifestantes já dispersou. Os soldados estão a bloquear todas as entradas para aquela zona, há veículos militares a impedir que os manifestantes regressem”, descreve Alamin.

À Reuters, o tenente-general Shams El Din Kabbashi, do TMC, garantiu, porém, que a operação não tinha como alvo ajuntamento dos manifestantes, mas “elementos desordeiros” que se encontravam junto ao local dos protestos.

“As forças de segurança estavam a tentar dispersar elementos desordeiros na área de Colombia, próxima do sítio do protesto, e alguns destes elementos fugiram para lá e foi isso que provocou este caos”, justificou o responsável militar.

Kabbashi assegurou ainda que as forças de transição irão reunir-se brevemente com os opositores.

Desde a deposição de Bashir, no início de Abril, que têm tido lugar negociações várias para a definição do rumo a seguir. As poucas cedências do TMC têm originado, no entanto, diversos confrontos nas ruas da capital sudanesa e a sensação de que a crise está longe de estar resolvida.