Quando a imaginação das crianças resolve problemas do dia-a-dia

Iniciativa promovida por organização belga My Machine dá vida às máquinas saídas do imaginário de crianças, em Famalicão, com a ajuda de alunos do ensino profissional e universitário. Aparelhos podem agora ser vistos numa exposição até quarta-feira

Foto
Paulo Pimenta

Acompanhar e dar vida aos sonhos dos mais pequenos nem sempre é uma tarefa fácil, que o digam os pais e educadores que os acompanham num frenesim diário de brincadeiras, jogos e até algumas birras. No entanto, foram as ideias provenientes do imaginário das crianças do concelho de Famalicão, maioritariamente alunos das escolas do primeiro ciclo, que deram origem, ainda que numa fase embrionária, às máquinas que, até quarta-feira, estão expostas nos Serviços Educativos do Parque da Devesa, na cidade. O propósito destes aparelhos é tentar dar resposta ou resolver alguns dos problemas que os estudantes enfrentam diariamente e que estão relacionados com um espaço que lhes é particularmente caro: a escola. Senão vejamos: uma máquina para limpar o quadro, outra para distribuir leite e ainda outra para ajudar na logística do campo de jogos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Acompanhar e dar vida aos sonhos dos mais pequenos nem sempre é uma tarefa fácil, que o digam os pais e educadores que os acompanham num frenesim diário de brincadeiras, jogos e até algumas birras. No entanto, foram as ideias provenientes do imaginário das crianças do concelho de Famalicão, maioritariamente alunos das escolas do primeiro ciclo, que deram origem, ainda que numa fase embrionária, às máquinas que, até quarta-feira, estão expostas nos Serviços Educativos do Parque da Devesa, na cidade. O propósito destes aparelhos é tentar dar resposta ou resolver alguns dos problemas que os estudantes enfrentam diariamente e que estão relacionados com um espaço que lhes é particularmente caro: a escola. Senão vejamos: uma máquina para limpar o quadro, outra para distribuir leite e ainda outra para ajudar na logística do campo de jogos.

Embora criativos e atentos aos problemas que os rodeiam, os inventores de palmo e meio ainda não têm o que é preciso para transpor os seus sonhos para a realidade e dar-lhes vida. Foi aqui que entraram os alunos das Faculdades de Arquitectura e Artes e Engenharias e Tecnologias da Universidade Lusíada de Famalicão e do ensino profissional. Os primeiros ficaram encarregues de transformar “um desenho num conceito” ou, por outras palavras, “rabiscos num projecto técnico”. Segundo Pedro Reis, professor da Universidade Lusíada e coordenador dos alunos universitários, a palavra-chave do seu trabalho foi “simplificar”, isto porque as crianças “não têm filtros” e nem sempre é fácil lidar com as expectativas geradas.

Ainda assim, Pedro ressalva que em momento algum foram ditas aos pequenos inventores expressões como “não é possível” ou “não dá”. “Procuramos dar-lhes comparações e explicar às crianças o porquê das coisas”. A seriedade parece ser a base de um processo em que as cedências foram uma constante e em que os mais pequenos não foram negociadores fáceis. “As crianças não esquecem. Não lhes podemos dizer que uma coisa vai ser amarela e dois ou três meses depois apresenta-la rosa, eles vão se lembrar.” Para o professor universitário, este tipo de iniciativas representa uma mais-valia para os jovens alunos, já que começam desde uma tenra idade “a contribuir activamente para as mudanças que estão a acontecer agora em termos tecnológicos”.

Foto
Paulo Pimenta

Simultaneamente, a interacção que é feita entre os alunos destes três graus de ensino (primeiro ciclo, ensino secundário e universitário) pode resultar num dinamismo que beneficia todos os envolvidos, nomeadamente os alunos universitários que se viram obrigados a contactar com colegas de áreas de estudo diferentes e que, por isso, têm metodologias de trabalho diferentes, nomeadamente no que diz respeito aos materiais usados. “Os alunos de engenharia e de design têm que partilhar conhecimentos entre si, de forma a simplificar aquilo que vai ser montado pelos alunos do ensino profissional. Também para eles isto tem sido uma grande aventura.” Neste processo que consiste numa cadeia formada por três etapas (ideia, design e protótipo), a última fica para os alunos do ensino profissional.

Para além das já referidas máquinas, também as restantes revelam a preocupação e o sentido crítico dos mais pequenos em relação a questões que os incomodam particularmente, como é o caso do “Desinfectador”, um aparelho para os alunos lavarem as mãos antes das refeições e que deve ser colocado no refeitório. Esta sugestão deve-se ao facto de as crianças entenderem que o percurso entre a sala de aula, local onde a tarefa era anteriormente desempenhada e supervisionada por o professor, e a cantina é suficiente para sujarem as mãos. Para o professor universitário esta visão demonstra que existem nas crianças preocupações que visam não só elas próprias, mas também os outros, já que, no caso do desinfectador, por exemplo, toda a comunidade escolar pode usufruir do aparelho.

Fazer com que as crianças sintam que os seus sonhos e projectos podem tornar-se, de facto, realidade é o objectivo da My Machine, organização promotora da iniciativa. Fundada em Kortrijk, na Bélgica, promove a criatividade e a inovação na educação, nomeadamente através de iniciativas como a que se realizou em Famalicão por iniciativa da autarquia e que brevemente se estenderá a Rio Maior. Ana Godinho, porta-voz do projecto, destaca a importância deste tipo de projectos para “trazer mais alunos para áreas científicas” que nem sempre são as preferidas, mas também para a promoção da “comunicação com as próprias máquinas”. Portugal integra a rede mundial de países em que são desenvolvidos projectos da My Machine e destaca-se por ter o maior número de alunos envolvidos e de máquinas construídas.