A Metropolitana e a queda do Muro de Berlim por Luca Francesconi
Será uma temporada que espelhará várias efemérides, dos 30 anos da queda do muro de Berlim, aos 250 anos do nascimento de Beethoven. Em Setembro tem inicio a temporada sinfónica com uma estreia de Luca Francesconi.
A temporada 2019/20 da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), apresentada esta segunda-feira, vai tentar reflectir várias memórias históricas, políticas e civilizacionais, alvo de efemeridades nestes dois anos, como os 30 anos da queda do Muro de Berlim, os 250 anos do nascimento de Beethoven ou grandes jornadas da humanidade: da epopeia renascentista da circum-navegação (1519-1522) que há 500 anos desvendou trajectórias em torno do globo, à epopeia moderna das conquistas do espaço que há 50 anos conduziram o homem à lua. É o director artístico e maestro titular da OML, Pedro Amaral, que o acaba por explicar.
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A temporada 2019/20 da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), apresentada esta segunda-feira, vai tentar reflectir várias memórias históricas, políticas e civilizacionais, alvo de efemeridades nestes dois anos, como os 30 anos da queda do Muro de Berlim, os 250 anos do nascimento de Beethoven ou grandes jornadas da humanidade: da epopeia renascentista da circum-navegação (1519-1522) que há 500 anos desvendou trajectórias em torno do globo, à epopeia moderna das conquistas do espaço que há 50 anos conduziram o homem à lua. É o director artístico e maestro titular da OML, Pedro Amaral, que o acaba por explicar.
Estas várias incidências históricas atravessam uma programação na qual a OML e os solistas irão actuar com um amplo leque de convidados, entre os quais artistas associados como Luca Francesconi. Este compositor italiano, um dos mais destacados da actualidade, é autor de mais de uma centena de obras para agrupamentos diversos, que se estendem desde o solo à grande orquestra com multimédia, tendo recebido convites das mais prestigiadas instituições internacionais. A temporada sinfónica, no Centro Cultural de Belém em Setembro, inicia-se precisamente com Luca Francesconi e com uma estreia, a de Zero Formula, naquela que foi uma encomenda conjunta da OML e do Istituto Italiano di Cultura, que servirá para assinalar os 30 anos da queda do Muro de Berlim. Trata-se de uma peça de estética radical, caracterizada pelas sonoridades da guitarra eléctrica combinada com sons orquestrais, espelhando na sua concepção o rasgo político da época que a inspirou.
Berlim vai estar em destaque não só pela queda do muro: na temporada barroca, há concertos dedicados à música na corte de Frederico da Prússia, com obras de compositores como Johann Gottlieb Graun ou Franz Benda, pouco habituais nas temporadas em Portugal. Dos dois Bach, o pai Johann Sebastian e o filho Carl Philipp Emmanuel, serão ouvidas a famosa Oferenda Musical e, num programa de Natal, duas obras emblemáticas: o Magnificat que Johann Sebastian compôs, em 1723, quando o filho tinha 9 anos, e outro Magnificat que Carl Philipp viria a compor um quarto de século depois em Berlim.
Do Maio de 68 ao primeiro mudo
Uma outra encomenda da OML tem por base um distinto acontecimento histórico. Falamos da evocação da viagem de Magalhães, que está na génese de Circumnavigare, para violoncelo e orquestra, de António Chagas Rosa, que se estreará em Outubro, no Teatro Thalia. A dimensão política que pretende ser enaltecida em diversos projectos terá um dos seus pontos altos no último concerto da temporada sinfónica, em Junho de 2020, com Sinfonia, de Luciano Berio, em que tanto é lamentada a morte de Martin Luther King, como são cantadas algumas das frases pintadas nas paredes de Paris em pleno Maio de 68.
Os 250 anos do aniversário de Beethoven também serão lembrados com inúmeros projectos orquestrais e camerísticos centrados na sua obra. Em Maio de 2020, por exemplo, haverá uma integral dos concertos para piano e orquestra por António Rosado. Serão três dias de concertos no São Luiz, num projecto entre a OML e o teatro.
A temporada será também marcada por outras parcerias entre a OML e instituições como a Cinemateca Portuguesa, com a recuperação de um dos primeiros filmes do cinema mudo português, o centenário A Rosa do Adro (realizado por Georges Pallu, em 1919). A interpretação da partitura original, composta por Armando Leça, foi recuperada recentemente por uma equipa da Universidade Nova, e será interpretada ao vivo, como numa gravação da época, e gravada pelos solistas da Metropolitana para posterior edição em DVD.
A memória política, histórica e civilizacional desta temporada estará também presente em digressões da OML pelo país (Viseu, Guarda, Porto, Coimbra, Torres Vedras ou Faro) com o programa Música e Ciência, com actuações em dez instituições universitárias e politécnicas ao lado de nomes de referência da divulgação científica. Ou ainda em iniciativas a pensar nos mais novos, como Histórias da Formiga Rabiga.