Contos e correspondência inédita de Agustina Bessa-Luís irão sair na Relógio D’Água

O editor Francisco Vale irá continuar a reeditar a obra de Agustina Bessa- Luís pelo menos durante os próximos três anos e está a preparar uma sessão de homenagem na Feira do Livro de Lisboa.

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Originais de Agustina Bessa-Luís fotografados em 2008 NELSON GARRIDO

A Relógio D’Água, que publica a obra de Agustina Bessa-Luís desde que a família da escritora optou por deixar aquela que tinha sido a sua editora de sempre, a Guimarães Editores, revelou esta segunda-feira que vai avançar com a publicação de dois volumes com inéditos. Um deles será uma antologia dos contos da autora, cuja recolha está a ser feita pela sua filha Mónica Baldaque. “Alguns permaneceram inéditos em livro ou são mesmo absolutamente inéditos”, disse ao PÚBLICO o editor Francisco Vale, revelando que o outro inédito será “um volume da correspondência trocada com o escritor argentino Juan Rodolfo Wilcock (1919- 1978), que está a ser organizado por Lourença Baldaque”.

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A Relógio D’Água, que publica a obra de Agustina Bessa-Luís desde que a família da escritora optou por deixar aquela que tinha sido a sua editora de sempre, a Guimarães Editores, revelou esta segunda-feira que vai avançar com a publicação de dois volumes com inéditos. Um deles será uma antologia dos contos da autora, cuja recolha está a ser feita pela sua filha Mónica Baldaque. “Alguns permaneceram inéditos em livro ou são mesmo absolutamente inéditos”, disse ao PÚBLICO o editor Francisco Vale, revelando que o outro inédito será “um volume da correspondência trocada com o escritor argentino Juan Rodolfo Wilcock (1919- 1978), que está a ser organizado por Lourença Baldaque”.

Ainda este mês, a editora tem prevista a saída da reedição do romance O Sermão do Fogo e prepara uma homenagem à escritora, com leituras das suas obras, na Feira do Livro de Lisboa, que decorre até 16 de Junho no Parque Eduardo VII. “Em princípio, será no sábado, às 16h30, mas estamos ainda a confirmar as presenças”, explicou o editor que desde Junho de 2017 já publicou 15 reedições de obras de Agustina e ainda um inédito, Deuses de Barro, prefaciado por Mónica Baldaque.

A preocupação da editora foi proceder a uma rigorosa fixação dos textos e solicitar prefácios a escritores que pudessem ajudar a divulgar a obra junto de leitores de todas as idades. “Todos os livros foram prefaciados por diferentes pessoas, escolhidas não só pela sua qualidade mas também por pertencerem a diferentes gerações”, frisa Francisco Vale. “Isso era um aspecto importante porque durante alguns anos a obra de Agustina esteve em parte confinada a leitores que têm agora mais de 60 anos.”

Desde que a Relógio D'Água assumiu a tarefa foram já publicados A Sibila (prefácio de Gonçalo M. Tavares); Dentes de Rato (ilustrações de Mónica Baldaque); Vale Abraão (prefácio de António Lobo Antunes); Fanny Owen (Hélia Correia); O Mosteiro (Bruno Vieira Amaral); Deuses de Barro (Mónica Baldaque); A Ronda da Noite (António Mega Ferreira); O Manto (João Miguel Fernandes Jorge); Os Meninos de Ouro (Pedro Mexia); Ternos Guerreiros (Agustina Bessa-Luís); Três Mulheres com Máscara de Ferro; As Estações da Vida (António Barreto); O Susto (António M. Feijó); As Pessoas Felizes (António Barreto); e Party e A Casa — Diálogos (Agustina Bessa-Luís e António Preto).

“São quase 60 títulos, ainda falta bastante. É uma obra muito diversificada: romance, conto, crónica, biografia, livros infanto-juvenis, correspondência, teatro, viagens, argumentos cinematográficos. Vamos continuar a editá-la com cerca de dez livros por ano. O que é trabalho para cerca de mais três anos”, diz o editor, para quem Agustina Bessa-Luís “foi a maior romancista portuguesa de sempre” e “um dos nossos principais escritores nos últimos dois séculos certamente”.

A obra de Agustina, que começou a ser publicada nos anos 40, “foi singular e corajosa porque entrou em ruptura com o neo-realismo então dominante e, mais tarde, nos anos 50, com o surrealismo”. Criou personagens, principalmente femininas, como Sibila ou Fanny Owen, que Francisco Vale considera serem dos mais importantes da literatura portuguesa. “São mulheres que não correspondem aos estereótipos das mulheres do neo-realismo, lutadoras, companheiras, nem aos do surrealismo, sobretudo na poesia, que enviesavam as mulheres. As mulheres da Agustina são extraídas da vida real”, diz. “É bem possível fazer uma cartografia deste país, dos últimos 50 anos do século XX aos primeiros anos deste século, a partir da obra de Agustina. No fundo, nas personagens que criava, ela era profundamente realista. Muitas eram inspiradas em personagens da vida real que ela transfigurava.”