No Pé Descalço Eco Parque vamos sujar-nos dos pés à cabeça

Este parque em Ponte de Lima incentiva os miúdos a brincarem ao ar livre. É quase “obrigatório” saltar, rebolar e sujar roupa e corpo. Há estudos que provam que faz bem.

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A estrada ladeada por montes verdejantes, perfumada de plantas e flores, deixa-nos frente a uma tabuleta amarela sombreada a rosa. Lá está desenhado um pé e o nome não deixa margem para dúvidas: chegamos ao Pé Descalço Eco Parque, em Freixo, Ponte de Lima. Entramos calçados, mas não tarda nada ficamos descalços para percorrermos alguns dos trilhos que põem em euforia os mais novos e levam os adultos a regressar aos tempos de miúdos, quando rebolavam, corriam descalços na terra ou na areia e, ao final do dia, entravam em casa com os calcanhares sujos e a roupa empoeirada.

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A estrada ladeada por montes verdejantes, perfumada de plantas e flores, deixa-nos frente a uma tabuleta amarela sombreada a rosa. Lá está desenhado um pé e o nome não deixa margem para dúvidas: chegamos ao Pé Descalço Eco Parque, em Freixo, Ponte de Lima. Entramos calçados, mas não tarda nada ficamos descalços para percorrermos alguns dos trilhos que põem em euforia os mais novos e levam os adultos a regressar aos tempos de miúdos, quando rebolavam, corriam descalços na terra ou na areia e, ao final do dia, entravam em casa com os calcanhares sujos e a roupa empoeirada.

Logo à entrada do parque os olhos perdem-se na gigantesca almofada às cores que convida a saltar e fazer acrobacias, mas não nos atrevemos a tanto. Ainda piscamos o olho aos karts a pedais para conhecer o Eco Parque, mas resolvemos sentir na pele, ou melhor, nos pés, o que é fazer os trilhos em contacto com a natureza. Sapatilhas e meias ficam para trás, assim como as tecnologias, para vivermos verdadeiramente a experiência na natureza.

António Vieira, proprietário deste espaço, explica que “há todo um conceito para estimular a brincadeira livre e com materiais naturais”, espalhados por esta antiga quinta de plantação de milho, com 25 mil metros quadrados, onde sobrevivem mais de mil árvores de grande porte, desde carvalhos, oliveiras, laranjeiras, tangerineiras, castanheiros, cerejeiras e choupos. 

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Afinal, o que nos espera? Vários percursos para respirar e apreciar todas as experiências sensoriais, seja descalços ou depois já calçados, de olhos vendados, algumas vezes com obstáculos de maior ou menor dificuldade. Podemos cheirar o perfume das árvores e das flores ou escutar o chilrear dos pássaros, o estalar das folhas no chão ou da água a correr. Ou apanhar das árvores uma laranja ou tangerina e comê-las. Todas estas experiências sensoriais apelam aos sentidos da visão, tacto, olfacto, audição e palato. Portanto, este é muito mais do que um parque ecológico.

“É cada vez mais raro encontrar crianças a rebolar, rodopiar ou a trepar às árvores só por divertimento. Evitamos muitas actividades para manter as crianças seguras”, aponta António Vieira, referindo que tem um filho pequeno e quer que ele cresça rodeado da natureza, que brinque, rebole ao ar livre e se suje na terra. “O movimento e a brincadeira ao ar livre são cruciais para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças”, sublinha, enquanto mostra as várias áreas do parque. 

“Procurei evidências científicas dos benefícios para o desenvolvimento das crianças em termos sociais, físicos e mentais”, continua, explicando como se inspirou, por exemplo no programa TimberNook, que promove o contacto com a natureza e permite às crianças viverem experiências de jogo ao ar livre. O empresário chegou a trocar algumas impressões com a autora desta metodologia, Angela Hanscom, terapeuta ocupacional pediátrica norte-americana e autora do livro Descalços e Felizes.

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“À medida que a vida das crianças se torna mais virtual, através da TV, do smartphone e dos ecrãs de computador, os professores estão a observar um decréscimo na capacidade de concentração, e os médicos a registar um aumento alarmante de transtornos sensoriais e emocionais”, continua, enquanto descalça as sapatilhas e as meias para iniciar o primeiro circuito. O Eco Parque aderiu à comunidade internacional Children & Nature Network, que “apoia quem trabalha em prol da relação entre crianças e natureza”.

De olhos vendados

Há um grupo de 17 pessoas, o mais novo de cinco e o mais velho de 50 anos, que chegou de Vila Nova de Gaia. Os pés percorrem a areia, depois calcam casca de pinheiro e a seguir pedras. “É uma sensação completamente fora do normal”, diz Maria João Cunha, que integra esta comitiva, continuando: “Vale muito a pena pela parte sensorial e pelo convívio familiar que nos proporciona.” Ao lado, Paula Campos acrescenta que “não estava nada a contar com esta diversidade de actividades”. Conheceram o Pé Descalço através de uma pesquisa na Internet, porque queriam fazer uma coisa diferente em família. E foram experimentar.

“Superou bastante as nossas expectativas, porque tem muita coisa ao ar livre que nos leva até à nossa infância e podemos mostrar aos mais novos como eram as nossas brincadeiras nesses tempos”, continua Maria João. “É uma sensação de liberdade na natureza”, acrescenta Paula Campos. “Vamos voltar. Disso temos a certeza.”

O grupo de Gaia segue viagem, mas a Fugas fica para continuar a explorar o Pé Descalço. Depois do trilho pela areia e pedras, continuamos sem meias a caminhar por uma zona com árvores de fruto, com as laranjas no chão a convidarem-nos para as apanharmos e comermos. Cruzamo-nos com uma “árvore encantada”, assim foi baptizada, onde podemos deixar uma mensagem. Entre as que já lá estão, há uma que se destaca: “As imagens não fazem jus às sensações do parque.” Já Paula Campos resumira a mesma ideia: “É muito melhor ao vivo.”

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Seguimos pela ponte suspensa com água a correr por baixo, mas nada que não se consiga fazer. Chega a altura de pegar nas vendas colocadas num dos troncos das árvores e experimentar fazer o percurso de olhos vendados com a mão numa corda para nos guiar todo o caminho, por entre obstáculos como passar por cima de pneus. Não vale fazer batota e espreitar de vez em quando. O toque de uma campainha avisa que o trilho terminou e tiramos as vendas. “Foi uma experiência e tanto”, já antes tinha dito à Fugas Maria João Cunha. 

Entregamo-nos depois às sensações olfactivas num corredor com plantas em vasos – alecrim, menta, manjericão, hortelã-chocolate e gardénia. Seguimos pelo trilho em direcção aos jogos ao ar livre como o mini-futebol, sopragol (um jogo em que se tem de soprar uma bola pequena), o mini-slide e o minicircuito de arborismo. O xadrez, as damas e o dominó gigantes são mais algumas das atracções do parque.

Quando chegarmos ao fim da visita, se o cansaço for muito, temos sempre a opção de pernoitar no Laranja Limão Guest House, também propriedade de António Vieira, que partilha o espaço com o Pé Descalço.