Que livro escrito por uma mulher se publicou no ano em que nasceste, em Portugal?

As mulheres escritoras sempre existiram, embora fossem ignoradas e esquecidas nas grandes obras da história da literatura portuguesa e “escondidas” do público leitor até Abril de 1974. Eis uma lista de mulheres e respectivas obras, escolhidas porque todas elevaram a voz e marcaram uma posição no mundo português da escrita.

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Alex Zamora/Unsplash

Em Novembro de 2017, Jaime Rubio Hancock publicou no El País um artigo com o título: ¿Qué libro escrito por una mujer se publicó el año que naciste?, onde apresentava uma lista com 101 livros escritos por mulheres de todo o mundo, desde 1917 a 2007. Por qualquer motivo, só muito recentemente tive acesso a este conteúdo, que considerei extremamente interessante e pertinente, considerando a invisibilidade forçada a que as mulheres foram votadas, durante séculos, na literatura e em todas as áreas da sociedade cujo pensamento crítico fosse essencial.

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Em Novembro de 2017, Jaime Rubio Hancock publicou no El País um artigo com o título: ¿Qué libro escrito por una mujer se publicó el año que naciste?, onde apresentava uma lista com 101 livros escritos por mulheres de todo o mundo, desde 1917 a 2007. Por qualquer motivo, só muito recentemente tive acesso a este conteúdo, que considerei extremamente interessante e pertinente, considerando a invisibilidade forçada a que as mulheres foram votadas, durante séculos, na literatura e em todas as áreas da sociedade cujo pensamento crítico fosse essencial.

Direccionadas pelo patriarcado para o espaço privado da reprodução materna e doméstica, as mulheres não faziam parte da história que merecia ser narrada e perpetuada. Até meados do século XX, particularmente em Portugal, a mulher surge ainda como uma entidade una e homogénea alheia às preocupações inerentes ao espaço público, como a política, a literatura e todas as outras ciências e artes — até porque as mulheres possuíam um nível de escolaridade muito baixo. Isto quando sabiam ler e escrever, porque havia uma enorme percentagem, principalmente no meio rural, que nunca teve acesso à educação. O baixo nível de escolaridade das mulheres portuguesas foi, inclusive, um dos grandes temas no I Congresso Feminista e de Educação, realizado em Portugal em 1924. Apesar disso, as mulheres escritoras sempre existiram, embora fossem ignoradas e esquecidas nas grandes obras da história da literatura portuguesa e “escondidas” do público leitor até Abril de 1974, quando começaram a ocupar lugar nos escaparates das livrarias, nas nomeações para prémios, nas mesas de congressos e nas páginas de jornais e dos livros de história.

Por todos estes motivos — e porque a lista que refiro em cima não inclui nenhuma escritora portuguesa —, o desafio de criar uma lista de livros escritos por mulheres portuguesas e editados em Portugal surgiu de imediato. Depois de uma breve pesquisa surge a que se apresenta aqui, certa de que se omitiram, provavelmente, excelentes autoras e obras. Seria ingénuo acreditar que dentro destas escolhas não se encontram as minhas preferências. É evidente que sim, inclusive a autora que corresponde à minha data de nascimento é uma das minhas escritoras preferidas. Mas esse não foi o único critério.

Não poderia deixar nunca de mencionar uma das primeiras feministas activistas, como Ana de Castro Osório, ou o livro Escritoras de Portugal: Génio Feminino Revelado na Literatura Portuguesa, de Teresa Leitão de Barros, a primeira obra dedicada a este tema e que comprova que, muito antes desta data, existiam bastantes mulheres a utilizar a pena e a voz para explorarem os temas que lhe eram caros. Teria ainda que fazer referência a Irene Lisboa e Manuela Amaral que, por serem quem eram e revelarem a sua identidade na escrita, se tornaram ainda mais incómodas do que as outras autoras e, por isso, mais ignoradas ainda. De carácter obrigatório seria ainda As mulheres do meu país, de Maria Lamas, que deu a conhecer ao mundo as condições reais e degradantes em que viviam as mulheres portuguesas. Por motivos talvez não tão óbvios, Dóris Graça Dias foi escolhida, por exemplo, porque vale a pena ler os poucos livros desta autora que faleceu tão cedo e Trans Iberic Love, de Raquel Freire, porque, apesar de ser o único livro desta cineasta, aborda a temática LGBT ainda tão pouco tratada na literatura portuguesa. Todas foram escolhidas porque todas elevaram a voz e marcaram uma posição no mundo português da escrita. Tão simples assim. E mais simples ainda é lê-las, amá-las e partilhá-las.

Tal como o autor do artigo original, sabemos que as pessoas que nasceram na última década terão alguma dificuldade em ler o livro que corresponde à sua data de nascimento. Mas, a seu tempo, poderão fazê-lo. Quanto aos que nasceram antes de 1917, se houver por aí alguém que se pronuncie, por favor, porque será com todo o gosto que se pesquisará o livro correspondente.

1917

Mécia Mouzinho de Albuquerque, Fragmentos Históricos, Versos

1918

Ana de Castro Osório, Em Tempo de Guerra

1919

Laura Chaves, Esboços

1920

Virginia Vitorino, Namorados 

1921

Maria Feio, Amor sublime; Corações de mães; Espadas de heróis

1922

Maria Paula de Azevedo, O Colégio da Ameixoeira

1923

Maria O’Neill, Horas de Folga

1924

Teresa Leitão de Barros, Escritoras de Portugal: Génio Feminino Revelado     na Literatura Portuguesa.

1925

Marta Mesquita da Câmara, Arco-Íris

1926

Judite Teixeira, Nua. Poemas de Bizâncio

1927

Maria de Cabedo, Fantasias e Realidade

1928

Fernanda de Castro, O Veneno do Sol e Sorte

1929

Helena Augusta Teixeira de Aragão, Caminhos da vida: Contos

1930

Branca de Gonta Colaço, Memórias da Marqueza de Rio Maior

1931

Florbela Espanca, Charneca em Flor

1932

Emília de Sousa Costa, Olha a Malícia das Mulheres!  

1933

Oliva Guerra, Serenidade

1934

Amélia Cardia, Pecadora: Romance Psicológico

1935

Manuela de Azevedo, Claridade 

1936

Mercedes Blasco, Nas Trincheiras da Vida

1937

Raquel Bastos, Um Fio de Música

1938

Maria Archer, Ida e Volta duma Caixa de Cigarros

1939

Natércia Freire, Meu Caminho de Luz   

1940

Irene Lisboa, Começa uma vida

1941

Adelaide Félix, Cada Qual Com o Seu Milagre...

1942

Odette de Saint-Maurice, Noiva dos meus sonhos

1943

Aurora Jardim, Ressaca

1944

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia 

1945

Virgínia Lopes de Mendonça, Ar Puro

1946

Marisabel Xavier de Fogaça, Toupeiras Humanas

1947

Patrícia Joyce, Anúncio de Casamento

1948

Maria Lamas, As mulheres do meu país

1949

Isaura Correia Santos, O Senhor Sabe Tudo em Évora

1950

Carmen de Figueiredo, Famintos 

1951

Fernanda Botelho, Coordenadas Líricas

1952

Ilse Losa, Rio Sem Ponte  

1953

Maria Isabel Lupi, Movimento Antigo: Poemas 

1954

Celeste Andrade, Grades Vivas

1955

Maria da Graça Azambuja, Bárbara Casanova 

1956

Deolinda da Conceição, Cheong-San – A Cabaia

1957

Natália Nunes, A Mosca Verde E Outros Contos

1958

Graça Pina de Morais, A Origem  

1959

Ester de Lemos, Companheiros

1960

Luiza Neto Jorge, A Noite Vertebrada

1961

Judite Navarro, Terra de Nod

1962

Maria da Glória, A Magrizela 

1963

Matilde Rosa Araújo, História de um Rapaz

1964

Isabel da Nóbrega, Viver com os Outros

1965

Nita Clímaco, Pigalle 

1966

Maria Judite de Carvalho, Os Armários Vazios

1967

Fiama Hasse Pais Brandão, Barcas Novas

1968

Ana Hatherly, Eros Frenético

1969

Natália Correia, O Encoberto 

1970

Luísa Ducla Soares, Contrato 

1971

Maria Teresa Horta, Minha Senhora de Mim 

1972

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, Novas Cartas Portuguesas

1973

Maria Gabriela LlansolDepois de Os Pregos na Erva

1974

Maria do Pilar Figueiredo, Horizontes de Bruma  

1975

Agustina Bessa-LuísAs Pessoas Felizes

1976

Isabel Meyrelles, O Livro do Tigre

1977

Vera Lagoa, Revolucionários Que Eu Conheci

1978

Maria Ondina Braga, A Personagem

1979

Isabel de Sá, Esquizo Frenia 

1980

Helga Moreira, Fogo Suspenso

1981

Luísa Dacosta, Nos Jardins Do Mar

1982

Hélia Correia, O Número dos Vivos 

1983

Eduarda Chiote, Altas Voam Pombas

1984

Maria Velho da Costa, O mapa Cor de Rosa

1985

Fátima Maldonado, Selo Selvagem 

1986

Maria Isabel Barreno, O Mundo Sobre o Outro Desbotado

1987

Teresa Rita Lopes, Os Dedos Os Dias As Palavras

1988

Luísa Costa Gomes, O Pequeno Mundo

1989

Yvette K. Centeno, Perto da Terra 

1990

Ana Luísa Amaral, Minha Senhora de Quê?

1991

Dóris Graça Dias, As Casas

1992

Cristina Carvalho, Momentos Misericordiosos

1993

Manuela Amaral, Esta Coisa Quase-Vida

1994

Júlia Nery, O plantador de Naus a Haver

1995

Leonor Xavier, Maria Barroso, Um Olhar sobre a Vida

1996

Rosa Lobato de Faria, Os Pássaros de seda

1997

Inês Pedrosa, Nas Tuas Mãos

1998

Manuela Gonzaga, A morte da Avó Cega

1999

Teolinda Gersão, Os Teclados 

2000

Inês Lourenço, Um Quarto Com Cidades Ao fundo 

2001

Ana Teresa Pereira, A Linguagem dos Pássaros

2002

Dulce Maria Cardoso, Campo de Sangue

2003

Ana Zanatti, Os sinais do medo

2004

Ana Cristina Silva, A Mulher Transparente

2005

Maria de Lourdes Pintasilgo, Palavras Dadas

2006

Alice Vieira, Pezinhos de Coentrada

2007

Isabel Stilwell, Filipa de Lencastre, A rainha que mudou Portugal

2008

Filipa Martins, Elogio do Passeio Público 

2009

Isabela Figueiredo, Caderno de Memórias Coloniais

2010

Adília Lopes, Apanhar Ar

2011

Lídia Jorge, A Noite das Mulheres Cantoras

2012

Patrícia Portela, O Banquete

2013

Raquel FreireTrans Iberic Love 

2014

Matilde Campilho, Jóquei

2015

Filipa Leal, Pelos Leitores de Poesia 

2016

Alexandra Lucas Coelho, deus-dará

2017

Patrícia Reis, A Construção do Vazio

2018

Joana Bértholo, Ecologia 

2019

Cláudia Cruz Santos, A Vida Oculta das Coisas