Festas de Lisboa: o difícil equilíbrio entre o popular e a caricatura de uma cidade
As Festas estão aí e há iniciativas para todos os gostos. Serão demais? E para que gostos? A EGEAC, responsável por parte das iniciativas, tem tentado apostar na diferenciação, na qualidade e no respeito pelo ambiente e os moradores.
Com o arranque das Festas da Cidade, que começam neste sábado, Lisboa enche-se de barracas e barraquinhas, palcos e tendas, grelhadores e mesas, tudo pintalgado com as mais variadas cores e formas das empresas patrocinadoras. Mas também há funambulismo - que abre as festas -, arte, cultura. É este difícil equilíbrio entre preservar o espírito popular e evitar que as festas não passem de uma (má) caricatura de Lisboa que a Empresa de Gestão dos Equipamentos Culturais (EGEAC) tenta gerir.
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Com o arranque das Festas da Cidade, que começam neste sábado, Lisboa enche-se de barracas e barraquinhas, palcos e tendas, grelhadores e mesas, tudo pintalgado com as mais variadas cores e formas das empresas patrocinadoras. Mas também há funambulismo - que abre as festas -, arte, cultura. É este difícil equilíbrio entre preservar o espírito popular e evitar que as festas não passem de uma (má) caricatura de Lisboa que a Empresa de Gestão dos Equipamentos Culturais (EGEAC) tenta gerir.
Joana Gomes Cardoso, directora da EGEAC, que é a empresa responsável pelos eventos culturais da Câmara de Lisboa, acredita que a cidade está a viver momentos de transição e reconhece no evento uma “fragmentação de competências”. A directora relembra que todos querem celebrar e participar nas festas da cidade. A diversidade de eventos, produzidos e organizados por uma multiplicidade de entidades ou indivíduos, tornam a sua tarefa um desafio. Porque urge garantir que também há espaço para a qualidade.
Muitos dos arraiais que tomam lugar nos vários bairros lisboetas são já independentes e espalham-se por toda a cidade com critérios e organizações próprias. Ao cidadão comum não é clara a diferença, e todas as iniciativas se inserem no mesmo universo, mas a directora da EGEAC reconhece aqui desafios que outrora não se levantavam.
O programa organizado pela empresa municipal tem vindo a diminuir nos últimos anos, precisamente para dar espaço a mais destas iniciativas que foram surgindo naturalmente, mas as preocupações com questões estruturantes tem vindo a aumentar.
“Queremos preencher lacunas e apresentar propostas diferentes”, aponta Joana Cardoso. A directora considera que a crescente pressão sobre a cidade face à quantidade de iniciativas que têm vindo a surgir no contexto das festas, dá origem também a uma maior pressão sobre a EGEAC para “dar o exemplo” no que ao compromisso com as festas, o ambiente e as pessoas diz respeito.
Reconhecem a importância da faceta popular das festas de Lisboa – e procuram até incentivá-la e preservar a identidade de uma cidade que se vê sob grandes pressões – mas não querem ficar por aí. Com o programa que apresentaram, que percorre todo mês, procuram diversificar a oferta e mostrar também um novo lado da cidade.
“Queremos trabalhar sem complexos a faceta popular e trazer coisas diferenciadoras, é um momento de homenagem à cidade”, sublinha Joana Gomes Cardoso, que acrescenta que o objectivo não é “encher praças" mas sim apostar em algo diferenciado.
Os grandes focos da programação deste ano recaem na homenagem a Fernão de Magalhães e a António Variações, que surgem precisamente da tentativa de trazer uma nova abordagem às festas.
A questão ambiental, por outro lado, tem também vindo a ganhar protagonismo nos últimos anos e é, agora, prioridade no programa da EGEAC. Para Joana Cardoso, Lisboa ainda não está suficientemente desperta para as questões ambientais, mas reconhece que “há cada vez mais consciencialização”.
A esta junta-se a preocupação com a estética, organização e também limpeza das ruas de Lisboa, bem como os horários dos espectáculos e o barulho que deles resulta. Joana aponta que as mudanças começaram a organizar-se nesse sentido: é preciso garantir o bem-estar e respeito pelas pessoas que habitam as zonas onde os eventos se vão realizar, o que resulta também numa relocalização de muitos dos espectáculos e actividades.
Não querem que as festas se tornem numa “caricatura da cidade”, mas sim em algo que “diga alguma coisa”. Foi nesse sentido que convidaram o artista Jorge Colombo, lisboeta residente em Nova Iorque, por entenderem ser capaz de ilustrar a cidade com olhos de quem está dentro e de quem vem de fora. O contacto foi também feito com outros artistas – como João Paulo Feliciano –, a fim de trazer diversidade e novos olhares sobre a cidade.
É por isso também, explica, que se fez um esforço para dinamizar eventos em partes da cidade menos conhecidas e mais distantes das zonas mais tradicional e historicamente ligadas aos santos populares.
Cada ano de festas traz novos desafios para quem delas faz parte, e Joana reconhece que “é um caminho que ainda se está a fazer”. Reforça o cuidado a ter com a organização deste tipo de eventos e alerta para o risco da multiplicação de iniciativas contribuir para a o efeito contrário ao pretendido no que à pressão sobre a cidade diz respeito.
Texto editado por Ana Fernandes