Com mais 12 mil passageiros por causa do novo passe, Fertagus já anda com menos bancos
Para dar resposta à procura, primeira composição da Fertagus com menos lugares sentados junto às portas começou nesta quarta-feira a circular
As carruagens são agora mais parecidas com as do metropolitano. Têm menos lugares sentados e possuem varões e barras horizontais para os passageiros se apoiarem. O objectivo foi criar bolsas de descompressão junto ao hall de entrada dos veículos para que as pessoas não se acumulassem naquele local e se espalhassem mais pelo interior da composição.
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As carruagens são agora mais parecidas com as do metropolitano. Têm menos lugares sentados e possuem varões e barras horizontais para os passageiros se apoiarem. O objectivo foi criar bolsas de descompressão junto ao hall de entrada dos veículos para que as pessoas não se acumulassem naquele local e se espalhassem mais pelo interior da composição.
“É essencial para o sucesso disto que os clientes não se sentem nas escadas”, explica João Grossinho, director técnico da Fertagus, mostrando ao PÚBLICO o comboio que acabou de ser remodelado nas oficinas da empresa em Coina. Estas composições têm dois andares e tanto no piso inferior, como no superior, avista-se desde a entrada um espaço mais amplo que convida a ali viajar, sobretudo na hora da ponta quando grande parte dos passageiros vão de pé.
O responsável técnico avisa que isto é apenas um protótipo que vai circular em regime experimental. Se os passageiros tiverem uma reacção positiva - sobretudo devido à sensação de que estarão menos apertados nas horas de ponta -, a empresa começará a partir de Julho a remodelar os restantes 17 comboios para os ter terminados a tempo do início das aulas em Setembro.
Cristina Dourado, administradora da Fertagus, diz que cada composição terá menos 112 lugares sentados e mais 160 de pé, ganhando assim 48 lugares em relação à situação anterior.
“A percepção das pessoas em relação ao espaço das carruagens não corresponde à realidade devido ao lay out dos comboios que já foram construídos há 20 anos e respondiam na altura a uma procura que não tem nada a ver com a de hoje”, diz a administradora.
A retirada de alguns bancos vai ainda facilitar as entradas e saídas.
Mais 20%
Esta medida foi uma resposta ao súbito acréscimo da procura motivada pelo Programa de Apoio à Redução Tarifária dos Transportes (PART) que, no caso desta empresa, levou mais 12 mil pessoas por dia a atravessar a ponte em comboio. “Passamos de uma média de 61 mil para 73 mil passageiros em dia útil”, refere a responsável.
Face ao período anterior ao PART, o número de passageiros cresceu cerca de 20% sendo que esse aumento foi de 16% nas horas de ponta e de 26% fora desse período.
Este aumento trouxe um problema à empresa que já tinha de gerir os picos de procura concentrados nas primeiras horas da manhã e do fim de tarde devido às deslocações casa-trabalho. Cristina Dourado diz que em apenas uma hora (entre as 8h00 e as 9h00) transportam 37% dos passageiros que se deslocam de sul para norte da ponte 25 de Abril. Um fenómeno que já levou a empresa a apelar às pessoas para apanharem o comboio mais cedo para poderem viajar mais cómodas. Na hora de ponta a frequência do serviço é de um comboio em cada dez minutos.
Menos bilhetes, mais passes
“Tudo isto não se traduziu em aumento de receita, apesar de estarmos agora a gerir este aumento da procura”, desabafa a administradora. Ao integrar o PART, todos os passes e assinaturas da Fertagus foram substituídos pelo Passe Navegante, que custa 30 euros nas deslocações dentro do mesmo município e 40 euros dentro da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Por exemplo, o passe entre Setúbal e a capital custava antes 146 euros e passou para 40 euros.
Uma das consequências é que diminuiu o número de bilhetes vendidos pois, para quem viajava ocasionalmente, passou a valer a pena comprar o passe mensal.
O acordo da Fertagus (e de outros operadores) com a AML prevê que esta entidade compensará a diferença de receita dos passes, bem como uma pequena parcela dos bilhetes, face aos valores que as empresas de transportes recebiam em 2018. Cristina Dourado explica que em Julho, após um período experimental de três meses, os operadores e a AML vão reunir para fazer um ponto de situação, podendo então ser decididas novas formas de compensação. Mas, para já, a expectativa da administradora é que a receita esperada em 2019 será “ligeiramente superior” à de 2018, apesar do enorme aumento do número de passageiros transportados.
A Fertagus está a estudar uma reformulação dos horários que passa por aumentar o número de composições que são formadas por dois comboios atrelados. Mas com uma frota limitada a 18 unidades (das quais uma costuma estar em oficina para revisão geral), é difícil um efectivo reforço da oferta.
A empresa diz que é possível acrescentar uma quinta carruagem a cada composição, mas esta solução demoraria pelo menos dois anos a ser concretizada pois os 18 veículos teriam de ser fabricados de raiz.
“O grupo Barraqueiro [ao qual pertence a Fertagus] está disponível para adquirir frota que permita um reforço da oferta actual, mas trata-se de uma decisão que cabe ao Estado”, diz Cristina Dourado.
Os comboios com que a concessionária opera são um activo da Sagesecur, uma empresa do universo Parpública. As remodelações agora efectuadas tiveram de ter a autorização da empresa proprietária, bem como do regulador que é o IMT.