Moção de censura faz cair Governo de Sebastian Kurz na Áustria
Foi a primeira vez desde 1955 que uma moção de censura a um Governo passou no Parlamento austríaco. Apesar da vitória do partido de Kurz nas eleições europeias, a oposição social-democrata não perdoou o escândalo com o seu parceiro de coligação.
O Parlamento da Áustria aprovou uma moção de censura apresentada pelo Partido Social-Democrata (centro-esquerda), fazendo cair o Governo do chanceler Sebastian Kurz e deixando um país com um governo de gestão até às próximas eleições, antecipadas e que se espera que sejam em Setembro.
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O Parlamento da Áustria aprovou uma moção de censura apresentada pelo Partido Social-Democrata (centro-esquerda), fazendo cair o Governo do chanceler Sebastian Kurz e deixando um país com um governo de gestão até às próximas eleições, antecipadas e que se espera que sejam em Setembro.
O executivo de Kurz era desde a semana passada uma equipa de transição, ao ter perdido o seu parceiro de coligação, o Partido da Liberdade (FPÖ, de extrema-direita), depois de o seu líder, Heinz-Christian Strache, ter sido filmado a propor acordos a uma suposta sobrinha de um oligarca russo que implicavam a atribuição de contratos públicos inflacionados, modos de contornar a lei de financiamento dos partidos a compra de um tablóide e substituição de jornalistas.
Quase metade dos ministros passaram a ser tecnocratas, nomeados para substituir os ministros da extrema-direita que saíram. O Presidente tem de nomear agora um chanceler para o governo de transição que seja apoiado por uma maioria de partidos no Parlamento, diz a Reuters.
Nas europeias, o partido do chanceler foi o grande vencedor com 34,5%, os sociais-democratas vieram de seguida com 23,4%, e a extrema-direita ficou ainda assim com 17,5%, seguindo-se os Verdes com 14%.
Ironicamente, o ex-vice-chanceler Strache, que estava na lista do FPÖ, conseguiu ser eleito eurodeputado. Não era claro se iria assumir o lugar: no Twitter anunciou que sim, mas de seguida apagou o tweet. O seu partido distanciou-se rapidamente dele na sequência do escândalo, substituindo-o logo na liderança pelo antigo candidato presidencial Norbert Hofer.
Sondagens dizem que a maioria dos austríacos concordavam que se mantivesse no cargo. O SPD argumenta, no entanto, que Kurz teve a responsabilidade de trazer o FPÖ para o Governo e o manter apesar de alguns outros problemas, e por isso deveria ser penalizado.
A moção passou com os votos favoráveis dos sociais-democratas e do FPÖ, furioso por Kurz ter afastado o seu ministro do Interior (os restantes ministros saíram em solidariedade). O chanceler disse que não podia manter na pasta do Interior, responsável pela investigação que será feita aos fundos do FPÖ, um ministro do mesmo partido.
Enquanto isso, Strache anunciou a semana passada uma queixa contra os autores da “cilada” em que caiu, um deles um advogado de Viena, Ramin Mirfakhrai, que confirmou ter sido o intermediário entre os políticos do FPÖ e a suposta milionária russa. O político deu ainda a entender que serviços secretos estrangeiros pudessem estar por trás da armadilha. O advogado Mirfakhrai confirmou o seu envolvimento, dizendo que se trata de um “projecto da sociedade civil em que foram usadas abordagens de jornalismo de investigação”.
Jornalistas austríacos notavam que desde 1955 houve 185 moções de censura ao Governo - e esta foi a primeira a ser aprovada.
O escândalo do vídeo de Strache, na ilha espanhola de Ibiza, apanhou muitos totalmente de surpresa, e deixou muitos com um enorme sentimento de vergonha. Numa cidade pouco dada a grandes actos espontâneos, centenas de pessoas saíram à rua horas depois da divulgação das imagens. “Somos vistos como a república das bananas”, dizia um editorial de um jornal de grande circulação. O facto de também pela primeira vez na História o país ter um governo de transição tanto tempo é visto também com apreensão por muitos.
É uma queda abrupta para Kurz, que com 32 anos era considerado uma estrela em ascensão na política europeia (chegando mesmo a ser indicado como um exemplo a seguir na Alemanha por alguns políticos e jornalistas que gostavam de ver os conservadores alemães mais à direita). Com apenas 525 dias à frente do Executivo, é o chanceler com menos tempo no poder do pós-guerra.
Kurz pode ainda voltar a liderar o Governo da Áustria: o seu partido foi o mais votado nas europeias e, se for ele o candidato, deverá voltar a ser chanceler. Mas esta crise mostrou-se uma amarga derrota e, sujeito a críticas de pouco diálogo e pouca vontade de fazer pontes, o jovem prodígio viu revertida a sua ascensão meteórica.