Europeias: a necessária alternativa ao PPE
As eleições europeias mostram que é possível construir uma alternativa progressista que trave o refluxo democrático à volta de políticas que respondam às ansiedades da maioria dos cidadãos.
O que mostram os resultados eleitorais um pouco por toda a Europa é que, apesar da inquietante subida da extrema-direita, ela é minoritária e que se desenha uma alternativa capaz de a travar.
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O que mostram os resultados eleitorais um pouco por toda a Europa é que, apesar da inquietante subida da extrema-direita, ela é minoritária e que se desenha uma alternativa capaz de a travar.
Que a extrema-direita continua a ser uma ameaça séria à Democracia provam-no os resultados em países-chave, como na Grande Bretanha e em Itália, e a pequena vitória do Rassemblement National de Marine Le Pen. Mas seria um erro grave embarcar nos discursos triunfalistas e delirantes, típicos da extrema-direita, como os de Marine Le Pen, em França, onde os Verdes obtiveram um ótimo resultado e o Partido do Presidente resistiu, apesar de dois anos de feroz oposição de todas as forças políticas.
Estas eleições puseram termo à diarquia no Parlamento Europeu, dos democratas cristãos do Partido Popular Europeu (PPE), liderados pela CDU alemã, e dos Socialistas. Socialistas que ficaram reféns da visão economicista da Europa da CDU . Foi o abafar das alternativas, nomeadamente nos anos da crise da austeridade, que permitiu o sucesso de partidos antissistema que contestam a supremacia do PPE e a capitulação de muitos partidos socialistas.
O sucesso da forças progressistas em Portugal resulta exatamente de o Partido Socialista ter rompido o consenso com o PSD, o que inviabilizava governos fora do bloco central.
As eleições europeias mostram que é possível construir uma alternativa progressista que trave o refluxo democrático à volta de políticas que respondam às ansiedades da maioria dos cidadãos.
Tal política europeia deve ser sustentada em dois pilares: o social, com um “Novo Acordo Verde”, capaz de travar o aquecimento global e de combater a desigualdade; e o das liberdades, com a defesa do Estado de direito, dos direitos das mulheres, das minorias e da hospitalidade em relação aos imigrantes e refugiados.
A coligação tem de ser construída com partidos que recusem qualquer compromisso com o nacional-populismo, o que irá colocar um desafio sério aos Liberais que se preparam para integrar os Cidadãos, partido aliado dos franquistas do Vox em várias regiões de Espanha.
Esses partidos têm de construir uma alternativa à hegemonia do PPE, não só no Parlamento Europeu mas também no Conselho Europeu e na Comissão Europeia. Alternativa essa que signifique, desde já, a escolha de um Presidente da Comissão capaz de propor políticas que correspondam à urgência ecológica e social, o que implica derrotar Manfred Weber, o candidato do PPE à presidência da Comissão. O PPE é um partido com enormes responsabilidades na imposição da política de austeridade e, durante muito tempo, nada fez para impedir as alianças dos seus membros com a extrema-direita e permite, apesar de o ter suspenso, a presença de Orbán no seu seio.
António Costa, na sua entrevista ao Le Monde, propôs uma aliança a Macron e ao grupo liberal que este vai integrar, no sentido de elegerem o próximo Presidente da Comissão. Mas a política que é necessária não se fará apenas com uma aliança entre os Socialistas e os Liberais, forças políticas pouco ousadas nas propostas sociais e ecológicas que apresentam e que não têm sido capazes de contrariar a nauseabunda retórica anti-imigrante da extrema-direita.
É imperativa uma aliança mais vasta, na qual os Verdes, que obtiveram excelentes resultados, devem ocupar um lugar assaz importante. Os socialistas devem abandonar a ideia de ter como presidente da Comissão o seu atual vice-presidente, Frans Timmermans, social-democrata holandês. Devem assumir que é preciso sinais fortes de mudança e propor uma nova figura, uma personalidade comprometida com a agenda dos direitos humanos, ecológica e social, bem aceite pelos Verdes e pela esquerda antinacionalista. Socialistas e liberais devem recusar as propostas dos dirigentes do PPE, para uma grande coligação que os inclua. É preciso dizer ao PPE que chegou a altura de estar na oposição, oposição pró-europeia, mas oposição.
Para o sucesso desta frente progressista, a esquerda antinacionalista e os Verdes têm de romper com a “doença infantil da política” e assumirem a oportunidade única de influenciar o futuro da Europa. A experiência portuguesa pode servir de inspiração e aí, o Bloco de Esquerda, reforçado com o seu resultado eleitoral, poderá desempenhar um papel interessante se souber assumir a nível europeu o que já fez a nível nacional. Para isso é preciso coragem política. Que o fracasso dos dirigentes trabalhistas britânicos, que não souberam romper com o nacionalismo antieuropeu, sirva de lição.
[1] Fundador do Forum Demos