A noite das grandes derrotas
Este domingo não foi a noite das grandes vitórias. Foi a noite das grandes derrotas. Essas, sim, foram gigantescas, e houve três.
Embora tenha havido muita gente cheia de vontade de festejar na noite de ontem, a verdade é que a única vitória extraordinária foi a do PAN. Todos os restantes foguetes foram exagerados. Sim, o PS ficou a mais de dez pontos do PSD, mas uma votação de 34% não impressiona ninguém (é dois pontos acima do “poucochinho” de 2014), e prova que Pedro Marques, que mostrou ter o carisma de um cacto, foi efectivamente um erro de casting. É também verdade que o Bloco de Esquerda dobrou a sua votação de 2014, o que é óptimo e premeia o bom desempenho de Marisa Matias (que merece o resultado), mas convém notar que ficou abaixo dos resultados nas últimas legislativas, onde obteve 10,2%.
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Embora tenha havido muita gente cheia de vontade de festejar na noite de ontem, a verdade é que a única vitória extraordinária foi a do PAN. Todos os restantes foguetes foram exagerados. Sim, o PS ficou a mais de dez pontos do PSD, mas uma votação de 34% não impressiona ninguém (é dois pontos acima do “poucochinho” de 2014), e prova que Pedro Marques, que mostrou ter o carisma de um cacto, foi efectivamente um erro de casting. É também verdade que o Bloco de Esquerda dobrou a sua votação de 2014, o que é óptimo e premeia o bom desempenho de Marisa Matias (que merece o resultado), mas convém notar que ficou abaixo dos resultados nas últimas legislativas, onde obteve 10,2%.
Este domingo não foi a noite das grandes vitórias. Foi a noite das grandes derrotas. Essas, sim, foram gigantescas, e houve três. Uma delas foi a do PCP, e não terá sido por acaso que João Ferreira decidiu fazer o seu discurso antes de se conhecerem os resultados oficiais. A CDU teve o pior resultado da sua história eleitoral, o que é especialmente grave tendo em conta a enorme desilusão das últimas autárquicas. Os comunistas queixaram-se do árbitro (a comunicação social não deu à candidatura a atenção que ela merecia e promoveu “campanhas difamatórias” que prejudicaram o partido) e do estado do relvado (o contexto actual não é o mesmo dos tempos da troika), mas eles sabem que o problema é bem mais profundo. Jerónimo de Sousa gosta de dizer que a geringonça nasceu por iniciativa sua – aquilo que era autocongratulação soa cada vez mais à confissão de um pecado mortal.
Outro grande derrotado foi o CDS, cujo resultado acaba de vez com as ambições políticas de Assunção Cristas, e pode pôr em causa a sua liderança em Outubro. Mas o maior derrotado da noite terá mesmo sido o PSD. O resultado é péssimo para Rui Rio, como é óbvio (dizer que “subiu, mas pouco”, em relação aos 27,7% da coligação com o CDS em 2014 é a piada da noite). Só que o resultado é também péssimo para Paulo Rangel, que estava convencido que podia valer mais do que Rio em eleições nacionais. Um resultado na casa dos 22% é mau de mais para ser verdade. Rangel falou várias vezes em “dar a cara” na sua intervenção, o que só se explica por ter percebido que tinha definitivamente perdido a face nestas europeias.
Com quase 70% de abstenção será sempre um bocadinho atrevido tirar conclusões demasiado firmes para as legislativas, pois tudo indica que as próximas eleições terão perto do dobro dos votantes deste domingo. Mas isto já é certo: a direita tem pela frente mais quatro anos de infelicidade. E António Costa tem cada vez mais Joões Ratões para casar com a carochinha (o PAN acabou de entrar na corrida). Em Outubro, eu aposto cada vez mais num Governo minoritário do PS. São tantas as alternativas disponíveis, que mais vale Costa aproveitar: nada é tão divertido como a vida de um solteiro cobiçado.