Votar aos 16? As opiniões dividem-se, mas os medos são os mesmos
Não podem votar nas europeias, mas têm inquietações comuns aos votantes — além das ambientais. Alguns sentem-se preparados para escolher, outros acreditam que falta representatividade e informação. O que pensam os jovens do voto aos 16 anos e o que os preocupa na União Europeia?
Eduarda Pastor queria ir às urnas este domingo, 26 de Maio. Já sabe em quem votar — só lhe falta idade. Os 17 anos não permitem que “contribua para as europeias”, por isso vai ter que guardar esta “decisão já tomada” para a próxima oportunidade. E isso desagrada-lhe: “As pessoas estão cada vez a ganhar mais consciência e eu sinto que era muito importante que os jovens pudessem votar aos 16 anos”, diz ao P3, enquanto espera que a manifestação pelo clima, no Porto, arranque.
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Eduarda Pastor queria ir às urnas este domingo, 26 de Maio. Já sabe em quem votar — só lhe falta idade. Os 17 anos não permitem que “contribua para as europeias”, por isso vai ter que guardar esta “decisão já tomada” para a próxima oportunidade. E isso desagrada-lhe: “As pessoas estão cada vez a ganhar mais consciência e eu sinto que era muito importante que os jovens pudessem votar aos 16 anos”, diz ao P3, enquanto espera que a manifestação pelo clima, no Porto, arranque.
A 15 de Maio, o PAN propôs ao Parlamento o alargamento da idade de voto para os 16 anos, mas o projecto de resolução foi chumbado pelo PSD, PS, CDS e PCP. André Silva, deputado pelo partido e autor da proposta, argumentou que a mudança “fomenta a participação dos jovens no processo democrático”. E como Eduarda, há mais jovens que se sentem preparados para ter voz, ainda que não sejam, aos olhos da lei, adultos.
João Caldas tem 15 anos e é afiliado do Bloco de Esquerda. Defende que há, entre os jovens, mais “responsabilidade, noção acerca de em quem votar, informação”. A abertura do voto aos adolescentes de 16 anos poderia “mudar muita coisa e trazer benefícios”. Acredita que poderia funcionar como uma espécie de “factor compensatório”: “Há muitos adultos que não estão preocupados em votar, principalmente nas europeias, e os jovens estão mais abertos a isso.” É “a partir dos 16 ou 17 anos” que se desperta para a política, garante. “Por isso é que é importante existirem juventudes em cada partido.”
Mas a resposta não é comum a todos os estudantes que, esta sexta-feira, 24 de Maio, se juntaram para se manifestar contra a crise climática. Rúben Meireles, 17 anos, admite que o cenário de jovens comprometidos com uma causa pode não ser o mais fiável para qualificar toda a geração. Por isso, ainda que acredite que “a maior parte das pessoas que aqui [na manifestação] estão tenham consciência para votar”, também refere que “nem toda a gente tem uma maturidade desenvolvida” para o fazer.
As hesitações de Bárbara Pereira, uma das organizadoras da greve no Porto, são maiores: a medida poderia tornar “os jovens mais susceptíveis a extremismos”, acredita. “Percebo que muitos de nós queiram votar e acho que essa consciência deve ser fomentada, mas acho que mesmo aos 18 há quem possa não ter a maior das maturidades para o fazer.” Mas a que se deve essa “falta de maturidade” se, aos 16, os adolescentes já podem trabalhar, pagar impostos ou ser responsabilizados criminalmente?
Falta de representatividade e informação
“Acho que aos 16 anos já deveríamos ter direito à nossa palavra e ao voto, mas também acredito que a geração não esteja preparada porque não tem conhecimentos a nível político. Acho que se estivéssemos mais informados, sim, poderíamos votar”, atira Joana Santos, 15 anos. E é aqui que a escola assume um papel preponderante: “[Questões políticas] deveriam ser-nos ensinadas e a vontade de votar estimulada”, refere Luísa Guerra, 16. A jovem acredita que, antes de ser aprovada uma mudança na idade de voto, “é preciso haver uma iniciativa que faça com que os jovens tenham consciência do que se passa na política e do que é a política”.
Joana Santos até apresenta sugestões: “Estamos rodeados de redes sociais, de Internet, e acho que com tantas aplicações que existem, podia haver algo que ajudasse os jovens — e os adultos — a ter mais noção de política.” Mas, além de mais informação, os estudantes acreditam que também é preciso atrair quem já tem idade legal para votar e não o faz — provavelmente por não se sentirem representados, acredita Bárbara Pereira.
“Há um sentimento geral de que a nossa voz não é ouvida”, afirma. “E isso é um sintoma do quão errado está o sistema, porque é suposto sentirmos que estamos a ser representados e que as nossas reivindicações são ouvidas.” Até porque, quando não são, “cria-se desinteresse por parte da população, mas especialmente dos jovens”, conclui.
A idade dos deputados preocupa Rúben Antunes, 17 anos. “As pessoas que nos representam no Parlamento têm, na maioria, idades acima dos 30 e 40 anos”, aponta. Acredita que, por isso, não têm as mesmas preocupações e não compreendem o que os jovens pensam.
Estes jovens não podem ir às urnas. Mas, se pudessem, o que teriam em conta? Os medos são os mesmos: “direitos humanos”, “crescimento da extrema-direita”, “direitos LGBTI”, “Brexit”, “oportunidades iguais para todos os países” — e, claro, “questões ambientais”.
Marco Silva destaca a Polónia e a Hungria quando se fala em inquietações: os direitos LGBTI são uma preocupação para o jovem de 17 anos. Em Setembro de 2018, a eurodeputada d'Os Verdes, Judith Sargentini, redigiu um relatório sobre a Hungria, no qual acusava o regime de, entre outras questões, perseguição de minorias como os ciganos, judeus e LGBT. “O crescimento da extrema-direita preocupa-me bastante”, vinca.
“Sinto que há países muito favorecidos na União Europeia. A ideia [da UE] é muito bonita, mas não sinto que os países sejam mesmo uma união”, atira Eduarda Pastor. Luísa Guerra acredita que a UE deveria “funcionar quase como um país, ter uma só voz”. Joana Santos considera que se estão “a deixar para trás” questões como “igualdade e direitos humanos”.
As questões ambientais são um desassossego para todos — não estivessem eles na luta pelo clima. Mas, ainda que alguns sejam cépticos — como Eduarda Pastor, que acredita que é uma forma de “ganhar votos” —, estão satisfeitos por terem ouvido os candidatos às europeias a falar sobre elas. Esperam para ver, “com esperança”. Afinal, “se os políticos não acordarem, quem é que vai acordar?”