População de Morgade, em Montalegre, faz voto de protesto
A manhã de domingo começou com as mesas de voto fechadas a cadeado. O autarca local disse que “tudo indicava” que o protesto estivesse relacionado com o descontentamento da população contra uma mina a céu aberto anunciada para esta localidade.
A mesa de voto da Junta de Morgade, em Montalegre, abriu pelas 9h da manhã, com uma hora de atraso, mas na primeira hora ninguém votou nesta freguesia, disse o autarca local. O presidente da Junta de Morgade, José Nogueira, afirmou à agência Lusa que pela manhã foi confrontado com as portas fechadas a cadeado do edifício onde está instalada a sessão de voto e no interior da fechadura estavam chaves partidas. Este domingo é dia de eleições para escolher os deputados do Parlamento Europeu.
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A mesa de voto da Junta de Morgade, em Montalegre, abriu pelas 9h da manhã, com uma hora de atraso, mas na primeira hora ninguém votou nesta freguesia, disse o autarca local. O presidente da Junta de Morgade, José Nogueira, afirmou à agência Lusa que pela manhã foi confrontado com as portas fechadas a cadeado do edifício onde está instalada a sessão de voto e no interior da fechadura estavam chaves partidas. Este domingo é dia de eleições para escolher os deputados do Parlamento Europeu.
Dezenas de populares de Morgade, concelho de Montalegre, estão neste domingo a fazer um “voto de protesto” contra a instalação de uma mina de lítio a céu aberto nesta freguesia, recusando-se a votar nas eleições europeias que acontecem este domingo para eleger os 21 representantes nacionais do Parlamento Europeu.
“Estamos a fazer um voto de protesto, ou seja, recusamos votar porque não concordamos com aquilo que o nosso Governo está a fazer com a nossa terra. Se é este tipo de desenvolvimento que eles querem para o Interior, nós não concordamos”, afirmou à agência Lusa Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida.
Esta associação está em fase de legalização e tem como objectivo lutar contra a exploração de lítio na freguesia, numa altura em que já foi assinado o contrato de exploração entre o Estado português e a empresa Lusorecursos.
Em Morgade foi feito um apelo à abstenção e esta manhã as portas da secção de voto foram fechadas a cadeado, tendo sido chamada a GNR e um serralheiro para abrir o edifício da junta de freguesia.
Durante a manhã concentraram-se cerca de 50 pessoas perto da sede da Junta de Freguesia e pela aldeia foram também colocadas tarjas de grande dimensão onde a principal mensagem que se pode ler é “não à mina, sim à vida”.
“Nós não queremos uma mina a céu aberto na nossa freguesia que vai afectar as três aldeias, uma mina com 800 metros de diâmetro e com 350 metros de profundidade, que irá trabalhar 24 horas por dia, durante todo o ano”, salientou Armando Pinto.
O responsável frisou que a população não “quer abdicar da qualidade de vida” e que o protesto de hoje pretende ser uma “chamada de atenção” para o Governo português e a União Europeia.
“Estamos aqui hoje porque somos contra o lítio. Vão destruir toda a paisagem e não podem continuar assim, a fazer pouco desta gente”, afirmou Maria Fernanda, 60 anos, que se juntou ao protesto e garantiu que hoje também não vai votar.
Rogério Nóbrega, 44 anos, também não vota porque a população tem “que estar toda unida e todos do mesmo lado” e porque o “projecto do lítio vai afectar muito a vida de todos”. “Por isso hoje não votamos”, reforçou.
Rogério Nóbrega queixou-se da falta de informação sobre a exploração do lítio na localidade.
“Quando demos conta que este projecto tinha pernas para andar já foi tarde. Acordamos um pouco tarde, mas acho que ainda vamos a tempo de lutar e tentar evitar que venham para aqui destruir a nossa natureza e a nossa vida”, salientou.
Jorge Gonçalo, 61 anos, foi o primeiro a votar em Morgade, pelas 10h10.
“Não vou cumprir este apelo à abstenção porque cheguei aqui hoje e não tinha conhecimento nenhum do que se estava a passar (...) Hoje vou votar porque é o meu dever cívico”, afirmou.
Este residente em Morgade disse que “não concorda ou discorda com o protesto”. “Não tenho conhecimentos que me facultem tomar uma boa decisão”, referiu.
A Lusorecursos já anunciou um plano de negócios para implementar na freguesia de Morgade, onde prevê investir cerca de 500 milhões de euros, criar à volta de 500 postos de trabalho e implementar uma unidade industrial onde será feita a separação dos vários minerais que vão sair da exploração e processado o hidróxido de lítio a utilizar nas baterias elétricas.
A empresa está, neste momento, a fazer o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Nesta freguesia do distrito de Vila Real, que agrega as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo, estão inscritos 329 eleitores.
As assembleias de voto para eleger os deputados ao Parlamento Europeu abriram neste domingo às 8h e permanecerão abertas até às 19h. Em Portugal, estão recenseados cerca de 10,7 milhões de eleitores para a votação de hoje, mais de um milhão do que na anterior eleição para o Parlamento Europeu, em Maio de 2014. Cerca de 400 milhões de eleitores dos 28 países da União Europeia elegem os 751 lugares do Parlamento Europeu, Portugal elege 21 deputados.