Marisa acredita que “estas eleições podem ser o início da alteração no mapa político à esquerda”
A candidata do Bloco de Esquerda foi a Coimbra encerrar “uma campanha em crescendo” e onde nem mesmo rouca deixou calar a voz.
Foi quase sem voz que Marisa Matias se dirigiu a cerca de 400 apoiantes do Bloco de Esquerda no jantar de encerramento da campanha para as eleições europeias, em Coimbra, cidade da qual partiu a caravana bloquista há duas semanas. A candidata “campeã na luta contra offshores”, como descreveria Catarina Martins, teve dificuldades em falar, mas nem assim admite perder a voz. De uma campanha onde quis ouvir as pessoas e não os outros candidatos, Marisa Matias ergueu a voz já rouca para deixar um aviso: “estas eleições podem ser o início da alteração no mapa política à esquerda em Portugal”.
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Foi quase sem voz que Marisa Matias se dirigiu a cerca de 400 apoiantes do Bloco de Esquerda no jantar de encerramento da campanha para as eleições europeias, em Coimbra, cidade da qual partiu a caravana bloquista há duas semanas. A candidata “campeã na luta contra offshores”, como descreveria Catarina Martins, teve dificuldades em falar, mas nem assim admite perder a voz. De uma campanha onde quis ouvir as pessoas e não os outros candidatos, Marisa Matias ergueu a voz já rouca para deixar um aviso: “estas eleições podem ser o início da alteração no mapa política à esquerda em Portugal”.
“Não importa fazer campanhas se é para nos ouvirmos uns aos outros e não ouvir as pessoas”, defendeu a candidata bloquista, em jeito de recado aos ataques trocados à esquerda e à direita, entre os candidatos a Bruxelas. Marisa Matias vincou que durante a campanha o Bloco de Esquerda “não fechou os ouvidos aos problemas das pessoas” e apelou ao “voto em que vos escuta”. “Votem em alguém que não precisa de ter um ego gigante. Só precisa de ter os ouvidos bem abertos e um coração grande onde cabe tudo”, disse, entre os aplausos da sala.
“Quando procuraram todos os dias dividir, nós falamos de união porque nós temos um projecto de união para a União [Europeia]”, sublinhou a candidata. Já durante a tarde, também Catarina Martins defendeu que foi o emprego, o Estado social e a emergência climática que marcaram a campanha, que resumiu como “um caminho extraordinário”.
As críticas à campanha dos restantes partidos seriam recuperada no jantar de encerramento da campanha, pela voz do deputado bloquista José Manuel Pureza, a quem coube o discurso mais aguçado da noite.
Repreendendo uma campanha “que devia ter sido forte contra a abstenção” como o que era exigido para um “combate contra a extrema-direita e a favor da democracia”, José Manuel Pureza elogiou Marisa Matias como a única candidata que “foi teimosa” e “não cedeu um palmo que fosse a quem quis fazer favores à abstenção”, discutindo as propostas do Bloco de Esquerda para a política europeia que seriam relembradas durante o jantar: o combate à evasão fiscal, a protecção e integração de refugiados, o combate à precariedade, a defesa do clima e ambiente e o Estado social.
Para o deputado bloquista, os restantes candidatos que “não honraram a exigência” que esta campanha impunha e quiseram fazer dela “um simples campeonato”. O candidato social-democrata Paulo Rangel e o centrista Nuno Melo não escaparam à lista negra de Pureza. “A abstenção e a extrema-direita agradecem a quem quis fazer uma campanha assim”, frisou.
Sem referir o nome do primeiro-ministro António Costa, que esta semana se reuniu com o Presidente francês Emmanuel Macron e que valeu de Pedro Nuno Santos um pedido de divisão clara “entre socialistas e liberais”, José Manuel Pureza garantiu que, por sua vez, o Bloco de Esquerda não se irá “aliar com os liberais para combater a extrema-direita” porque acredita que “as políticas liberais são as maiores aliadas da extrema-direita”.
“Estaremos lado a lado com quem repudiou sem hesitações as politicas liberais que geram pobreza, que geram precariedade”, afirmou José Manuel Pureza.
Dirigindo-se “aqueles que defendem alianças com os liberais”, José Manuel Pureza quer saber se “contam com um politico liberal como Pedro Passos Coelho, ou como Paulo Portas ou até mesmo como Durão Barroso para combater a extrema-direita com uma chamada frente progressista”. Já antes, Catarina Martins tinha afirmado que “os eleitos do Bloco de Esquerda não servem para nos dizer o que Bruxelas deixa ou não fazer”.
O último dia de campanha do Bloco de Esquerda foi o mais calmo na agenda de Marisa Matias, que durante as últimas duas semanas percorreu o país à procura de votos, numa “campanha em crescendo”. Depois de um almoço na Afurada, em Vila Nova de Gaia, os bloquistas marcaram encontro junto ao Mercado do Bolhão, para a tradicional arruada na Rua de Santa Catarina, no Porto, antes de encerrar a noite em Coimbra.
Na Invicta, a eurodeputada cumprimentou quem por ela passou, procurando e sendo procurada. Acompanhada por José Gusmão e Sérgio Aires, número dois e três da lista, Marisa Matias tirou selfies, abraçou e deu força a quem a interpelava. Ao lado esteve também a coordenadora do Bloco de Esquerda, que desvalorizou as previsões dos resultados, lembrando que “as sondagens não são já resultados” e é “quem vai votar no domingo que conta”.
Apesar de não conseguir esconder o optimismo e expectativa em relação à eleição de pelo menos dois eurodeputados bloquistas, Catarina Martins afirmou que mesmo havendo “sondagens mais simpáticas e sondagens menos simpáticas” o poder está apenas nas urnas, onde “todos os votos são iguais e valem o mesmo”.