Suspensão de deputados catalães pode ajudar Pedro Sánchez
Os socialistas espanhóis continuam a pensar em formar um Governo minoritário e as contas da maioria resultarão melhor se os quatro independentistas passarem a contar como abstenção. Mas o líder do Podemos dá Governo coligação por certo.
Meritxell Batet é neste momento o farol dos socialistas espanhóis. Porque esta sexta-feira acatou a decisão do Tribunal Supremo e suspendeu os quatro deputados catalães que estão a ser julgados por causa do referendo e da declaração unilateral de independência da Catalunha e porque obteve 175 votos para ser eleita presidente do Congresso. E as duas coisas acabam por entroncar numa só: conseguir o apoio de deputados suficientes para investir um novo Governo de Pedro Sánchez.
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Meritxell Batet é neste momento o farol dos socialistas espanhóis. Porque esta sexta-feira acatou a decisão do Tribunal Supremo e suspendeu os quatro deputados catalães que estão a ser julgados por causa do referendo e da declaração unilateral de independência da Catalunha e porque obteve 175 votos para ser eleita presidente do Congresso. E as duas coisas acabam por entroncar numa só: conseguir o apoio de deputados suficientes para investir um novo Governo de Pedro Sánchez.
A liderança do PSOE insiste em formar um Executivo minoritário com apoios pontuais no Congresso. E pretende consegui-lo sem se ver obrigada, em função da aritmética saída das eleições de 28 de Abril, a recorrer aos independentistas. E 175 deputados, não sendo maioria absoluta, é metade dos 350 mandatos parlamentares, e sem que haja na oposição fórmulas de matemática política para travar o processo.
Na eleição de Batet “não se juntaram votos da Esquerda Republicana da Catalunha nem do Juntos pela Catalunha, no entanto, conseguiram-se 175 votos”, afirmou esta sexta-feira, em conferência de imprensa, a porta-voz do Conselho de Ministros, Isabel Celaá. “Esta é a indicação que temos. Com pequenas variações poderá servir para fazer um acordo de investidura”, acrescentou.
Nessa votação, o PSOE contou com o apoio do Unidas Podemos, Partido Nacionalista Basco, Compromís (Valência), Coligação Canária e Partido Regionalista da Cantábria. É a opção preferida dos socialistas, a que a suspensão dos deputados independentistas catalães (Oriol Junqueras, Jordi Sànchez, Jordi Turull e Josep Rull) pode trazer ainda uma ligeira margem de manobra que permita a Sánchez ser aprovado à primeira.
A Mesa do Congresso que se decidiu pela suspensão dos deputados pediu aos serviços jurídicos que determinem se a decisão implica que esses quatro deputados figurem como abstencionistas em todas as votações. Em caso afirmativo, a maioria absoluta deixava de se formar com 176 deputados, mas com 174. O líder socialista precisa de maioria absoluta numa primeira votação e maioria simples numa segunda (mais sins que nãos).
Contas importantes também no caso de o PSOE optar por um Governo de coligação com o Unidas Podemos. A Coligação Canária defendeu na campanha, sublinhou no dia a seguir às eleições e tem reiterado desde então que os seus dois deputados apoiam um Governo socialista sempre e desde que não seja com a coligação de Pablo Iglesias.
“Em campanha assumimos um compromisso com os sectores sociais, económicos e municipais. Tanto o presidente Fernando Clavijo como eu própria. Em nenhum caso os nossos votos servirão para que o Podemos chegue ao Governo ou para que as suas políticas cheguem a este país. Não há nada para negociar”, disse, segunda-feira, a deputada canária Ana Oramas, em declarações ao El Español.
Aviso aos socialistas que têm visto nos últimos dias o líder do Podemos a dar como assumida a coligação com o PSOE. Esta sexta-feira, em entrevista à agência Efe, Pablo Iglesias fala das negociações de nomes e ministérios no próximo Governo como estando só à espera que passem as eleições deste domingo para começar formalmente. “Há coisas que são de senso comum e acho que é evidente que não haverá vetos. O PSOE não vai vetar ninguém e nós também não”, disse.
Isabel Celáa tentou esquivar-se a respostas definitivas, quando lhe pediram para comentar as afirmações de Iglesias, referindo que isso de “senso comum” “é algo subjectivo” e que se trata de “uma aspiração do Podemos” que o PSOE respeita. No entanto, “cabe ao presidente do Governo decidir”.
A insistência de Iglesias terá a ver, no entanto, com algo mais do que uma mera antecipação das negociações políticas da próxima semana e ser uma jogada política do líder do Podemos face ao problema que o partido enfrenta em Madrid. O palco da última cisão no partido, com a saída de Íñigo Errejón para apoiar a recandidatura de Manuela Carmena, ameaça tornar-se um pesadelo para o Podemos, já que a candidatura da coligação Madrid en Pie poderá não conseguir superar o limiar dos 5% e ficar sem representação no governo da capital.
Nesse sentido, as afirmações de Pablo Iglesias seriam uma afirmação de que os votos no Podemos ainda contam, depois do apelo ao voto útil de Manuela Carmena aos eleitores de Podemos para que o seu voto não se perca.