Os perigos do fumo na saúde dos bombeiros podem manifestar-se só a longo prazo, diz estudo
Uma equipa de investigadores monitorizou o ritmo cardíaco de quatro bombeiros no decorrer de queimas experimentais e descobriu que as erupções agudas e instantâneas nos olhos, irritações no nariz e na garganta e falta de ar podem ser apenas o início dos problemas de saúde para aqueles profissionais.
O flagelo dos incêndios florestais é cada vez mais estudado pela comunidade científica e tecnológica, não só com o objectivo de mitigar as suas consequências económicas e ambientais e em tudo o que se relaciona com a segurança e património de um país, mas também porque o problema começa a ser um assunto preocupante para Governos e populações.
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O flagelo dos incêndios florestais é cada vez mais estudado pela comunidade científica e tecnológica, não só com o objectivo de mitigar as suas consequências económicas e ambientais e em tudo o que se relaciona com a segurança e património de um país, mas também porque o problema começa a ser um assunto preocupante para Governos e populações.
Agora, uma equipa da Universidade de Aveiro (UA) observou que a existe uma forte possibilidade de o ritmo cardíaco dos bombeiros reagir a inalação excessiva dos fumos dos incêndios (monóxido de carbono). O estudo em questão foi realizado no âmbito de projectos em colaboração com equipas Universidade do Porto (UP) e da Universidade Carnegie Melon, em Pittsburgh, na Pensilvânia, Estados Unidos da América (EUA).
Alguns destes problemas, aponta o estudo, “podem aparecer rapidamente, como erupções agudas e instantâneas nos olhos, irritações no nariz e na garganta e falta de ar”. Estes são sintomas que “geralmente evoluem para dores de cabeça, tonturas e náuseas e que podem ter uma duração de várias horas”. Verifica-se também “a diminuição da função pulmonar, podendo-se traduzir numa capacidade respiratória ligeiramente diminuída, na constrição do trato respiratório e em hipersensibilidade das pequenas vias aéreas”.
Maioria das mortes por inalação de fumos
Além destes perturbações, e de acordo com a Associação Nacional de Protecção contra Incêndios dos EUA, a maioria das mortes ocorridas durante os incêndios são devidas à inalação de poluentes presentes no fumo.
A investigação da Universidade de Aveiro estudou os sinais vitais de bombeiros em cenários de incêndios experimentais e concluiu que “a exposição frequente e prolongada a elevados níveis de concentração de poluentes durante o combate ao fogo pode originar problemas de saúde agudos ou de longo prazo”, referem os autores.
A principal motivação da investigação foi avaliar a utilidade de um sistema automatizado para ajudar a evitar os efeitos colaterais “sérios e indesejáveis” da inalação de poluentes. “Avaliamos o potencial de combinar informação fisiológica e ambiental recolhidos durante o combate a incêndios, para prevenção de intoxicação e danos nas funções respiratórias”, lê-se no estudo.
Bombeiros põem mãos à obra
Em termos práticos, o estudo monitorizou o ritmo cardíaco de quatro bombeiros da corporação de Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha em diferentes cenários de combate ao fogo, no decorrer de queimas experimentais realizadas na Serra da Lousã. Aquando destas experiências, todos os bombeiros, com idades compreendidas entre os 19 e os 36 anos, eram saudáveis e fisicamente activos.
Ao longo do processo, foi registando não só o ritmo cardíaco mas também a respectiva exposição a monóxido de carbono em diferentes cenários de combate ao fogo. “As medições permitiram verificar situações de exposição dos bombeiros a níveis de monóxido de carbono elevados, bem como alterações no ritmo cardíaco associadas a valores de pico de exposição a este gás de grande toxicidade para a saúde humana.
Para identificarem a exposição a poluentes e as consequentes alterações do ritmo cardíaco dos bombeiros, a equipa utilizou um conjunto de sensores que, colocados no corpo e no equipamento de combate ao fogo, indicaram ao longo do estudo, entre outros factores, as concentrações de poluentes, posição geográfica e informação cardíaca em tempo real.
O campo experimental em que os bombeiros combateram os fogos era composto por encostas e vegetação homogénea e de fácil acesso e segurança. As condições ambientais também foram tidas em conta, nomeadamente a velocidade e direcção do vento, a pressão atmosférica, a temperatura e humidade do ar, cujos dados foram gravados através de uma estação meteorológica.
Segundo uma das investigadoras da Universidade de Aveiro, Raquel Sebastião, será necessário realizar outros estudos que forneçam mais informação, mas os resultados que foram recolhidos sugerem que “o ritmo cardíaco dos bombeiros reage a variações de exposição a gases como o monóxido de carbono, e que a localização do bombeiro em relação ao fogo e ao fumo pode ser relevante no que se refere aos efeitos da inalação do gás”.
Na impossibilidade de monitorizar de forma regular e no terreno a exposição individual dos bombeiros ao monóxido de carbono, esclarece a investigadora, “a monitorização do ritmo cardíaco, actualmente de baixo custo e tecnologicamente viável, pode ser um valioso alarme para a retirada ou para a realocação do bombeiro, evitando situações de perigo não identificadas claramente no teatro de operações”. É, portanto, “essencial monitorar a frequência cardíaca e perceber as alterações que podem levar a efeitos colaterais indesejáveis sobre as condições de saúde dos bombeiros”.
De acordo com o estudo, os resultados obtidos “mostram o potencial de fornecer um suporte efectivo em cenários operacionais reais”, já que a frequência cardíaca pode ser um indicador útil para identificar situações de perigo para os bombeiros.
Um método automatizado, baseado na detecção de alterações na frequência cardíaca, é a proposta da equipa para prevenir e evitar efeitos colaterais sérios na saúde dos bombeiros, sistema que, dizem os investigadores, “pode fazer parte das decisões em tempo real e estar incluído na rotina de combate a incêndios”.