Diário da campanha, dia 10: Cuidado com os liberais
O medo que a “aliança progressista” sugerida por António Costa em Paris possa incluir liberais inquietou tanto Marisa Matias como Paulo Rangel.
Há alturas em que esta campanha para as europeias anda a um ritmo alucinante, com as caravanas dos partidos a fazerem 500 quilómetros de cima para baixo, da esquerda para a direita, neste país que até parece grande, quando se olha para as estradas percorridas. Em Bragança, diz-se uma coisa para logo em Guimarães acrescentar uma ideia e, horas mais tarde, na Figueira da Foz deixar outro comentário.
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Há alturas em que esta campanha para as europeias anda a um ritmo alucinante, com as caravanas dos partidos a fazerem 500 quilómetros de cima para baixo, da esquerda para a direita, neste país que até parece grande, quando se olha para as estradas percorridas. Em Bragança, diz-se uma coisa para logo em Guimarães acrescentar uma ideia e, horas mais tarde, na Figueira da Foz deixar outro comentário.
Noutras alturas, a campanha parece andar ao ralenti. O encontro entre António Costa e de Emmanuel Macron no Eliseu, por exemplo, aconteceu na segunda-feira à noite. Só 24 horas depois é que o Pedro Nuno Santos se referiu ao assunto num comício nocturno em Aveiro e só hoje, quarta-feira, é que os partidos se dedicaram ao tema, mostrando-se aterrados com o conceito de “aliança progressista” lançado por António Costa em Paris.
O medo que essa aliança possa incluir liberais inquietou tanto Marisa Matias como Paulo Rangel - daí o título provocatório deste artigo. É no mínimo curioso ver dois candidatos de partidos estão diferentes como Bloco de Esquerda e o PSD terem o mesmo discurso sobre o mesmo assunto. Não se pode dizer que Marisa Matias e Paulo Rangel tenham concordado em muitas coisas ao longo desta campanha. Isso viu-se bem, aliás, nos debates. Mas hoje, a bloquista e o social-democrata concordaram na queixa de que António Costa está a aproximar-se demasiado dos liberais.
O primeiro-ministro tem “duas caras", disse Paulo Rangel, e anda a “piscar o olho aos liberais por razões eleitorais”, criticou. “Em que é que ficamos?”, perguntou Marisa Matias a António Costa: “Quer seguir o caminho que seguiu em Portugal, à esquerda, ou quer juntar-se àqueles que fizeram o caminho oposto?”. Num país onde a extrema-direita ainda não entrou - e, a acreditar nas sondagens, ainda não será desta que vai entrar - o medo dos liberais, o medo de que o PS se esteja a aproximar dos liberais é comum aos dois partidos.
Apesar de haver um partido chamado Iniciativa Liberal que concorre às europeias, não foi a reboque este partido que o assunto dos liberais entrou na campanha nacional. Pedro Nuno Santos foi responsável por trazer este tema à discussão ao dizer que a batalha na Europa é dura e é contra “quem quer impor uma resposta liberal, que não diminui o populismo, aumenta a insegurança e o medo, que são o alimento do populismo”.
O socialista Pedro Marques disse esta quarta-feira que isto não era uma contradição em relação ao que Costa havia dito antes - “é necessário uma aliança progressista contra a internacional da extrema-direita" -, mas é difícil não o entender assim. A mim pareceu-me que o ministro não estava a dizer a mesma coisa que seu primeiro-ministro foi dizer a Paris. Pareceu-me uma espécie de lamento por António Costa estar a aproximar-se perigosamente de uma franja eleitoral que não devia interessar ao PS.
O dia da campanha que gira a uma velocidade estonteante foi marcado por algo que aconteceu há dois dias. Há qualquer coisa estranha nesta campanha.
Nota final: Hoje mesmo, o dia também ficou marcado por uma sondagem revelada pelo PÚBLICO e pela RTP em que o PSD aparece mais uma vez atrás da PS por 11 pontos percentuais, sendo que o cenário são eleições legislativas. Caso as eleições fossem hoje, os socialistas venceriam com 39% dos votos e o PSD ficar-se-ia pelos 28%.