O populismo na era de Hortense Martins
O ruidoso silêncio do PS, ampliado pelo alheamento cúmplice de todos os partidos, sobre a história da deputada Hortense Martins é mais uma prova cabal de que as os aparelhos continuam sem se preocupar com a defesa da decência no exercício de funções públicas.
Para nosso orgulho lá fora e para a nossa felicidade no país, as sondagens continuam a mostrar que o sistema partidário permanece blindado à emergência dos partidos extremistas, xenófobos e populistas. Mas, para nosso infortúnio e para a nossa vergonha esse magnífico estatuto não decorre da lisura, probidade e empenho dos partidos em restaurar a credibilidade e transparência na vida política.
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Para nosso orgulho lá fora e para a nossa felicidade no país, as sondagens continuam a mostrar que o sistema partidário permanece blindado à emergência dos partidos extremistas, xenófobos e populistas. Mas, para nosso infortúnio e para a nossa vergonha esse magnífico estatuto não decorre da lisura, probidade e empenho dos partidos em restaurar a credibilidade e transparência na vida política.
O ruidoso silêncio do PS, ampliado pelo alheamento cúmplice de todos os partidos, sobre a história da deputada Hortense Martins é mais uma prova cabal de que os aparelhos continuam sem se preocupar com a defesa da decência no exercício de funções públicas. Desta vez, como em tantas outras, aplicou-se a estratégia habitual: assobiar para o lado e esperar que o tempo apague o triste exemplo da deputada.
Nessa estratégia, o relativismo é que conta. A deputada socialista, e presidente da distrital de Castelo Branco não foi alvo de acusação judicial, dirão alguns. Outros lembrarão que em causa estão irregularidades formais. Todos estes expedientes servem para desviar as atenções. O que está em causa é a necessidade de se fazer um julgamento político dos actos e comportamentos de Hortense Martins que a investigação do jornalista José António Cerejo revelou.
Quando o candidato Pedro Marques diz a propósito do uso de fundos europeus fora das regras ou da violação do registo de interesses por parte da deputada que “todas as matérias são averiguadas”, porque “tudo tem de estar sempre em pratos limpos”, está a coibir-se de dizer o que tinha o dever de dizer: que a deputada não tem condições para se conservar no cargo. Ou, ao menos, que não deve fazer parte das listas do PS às próximas eleições.
Esperar que os políticos façam parte de uma casta de eunucos é digno dos mais espúrios discursos populistas. Mas se esses discursos existem é também porque a tolerância dos partidos à venalidade ou ao abuso dos seus representantes os incentivam. Em casos como os de Hortense Martins, ou nos casos de deputados que falsificam presenças no Parlamento, ou abusam dos subsídios de deslocação ou de residência, ninguém deve clamar por uma condenação sumária nem por qualquer violação da presunção de inocência.
Pede-se sim que os partidos sejam exigentes com a ética e comprometidos com o exemplo e afastem quem prevarique. No caso, basta verificar datas e facturas. Basta observar registos que existem na Assembleia. Manter o ar enfastiado sempre que um deputado é apanhado em contrapé é acentuar a descredibilização da democracia e dar um abraço de apoio ao extremismo.