Salvini vai usar as europeias como uma segunda volta das legislativas em Itália
Líder da Liga, da extrema-direita, quer reforçar o seu poder na coligação no Governo, onde entrou como parte mais fraca. Subida de popularidade no país e desejo de liderar um bloco nacionalista europeu deram-lhe novas ambições.
As eleições europeias de domingo em Itália vão servir como uma espécie de segunda-volta das legislativas de há um ano, que levaram ao poder a estranha coligação entre a Liga, de extrema-direita e o partido anti-sistema Movimento 5 Estrelas. O desafio foi lançado pelo próprio vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga, o cada vez mais popular Matteo Salvini.
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As eleições europeias de domingo em Itália vão servir como uma espécie de segunda-volta das legislativas de há um ano, que levaram ao poder a estranha coligação entre a Liga, de extrema-direita e o partido anti-sistema Movimento 5 Estrelas. O desafio foi lançado pelo próprio vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga, o cada vez mais popular Matteo Salvini.
Se o seu partido de extrema-direita confirmar o crescimento nas sondagens, as suas propostas que chocam com os princípios da União Europeia vão ganhar mais peso na definição do futuro do país, prometeu, num momento em que o conflito entre os dois vice-primeiros-ministros, Salvini e Luigi di Maio, o líder do 5 Estrelas, está numa fase especialmente aguda, por causa da falta de acordo do “decreto de segurança” no Conselho de Ministros.
O Governo ainda não o aprovou apesar de ter sido apresentado a discussão na segunda-feira. O documento contém medidas que causaram “reservas” expressas pelo Presidente da República, Sergio Matarella. O Alto-Comissário dos Direitos Humanos da ONU enviou ao Governo italiano uma lista de motivos pelos quais este projecto caro a Salvini, também ministro do Interior, “instauraria um clima de hostilidade e xenofobia”, e “potencialmente está ferido por violações dos direitos humanos.”
O clima no seio da coligação governamental está de cortar à faca – os media italianos relatam discussões entre os aliados. O próprio Salvini explica o que se passa com inveja eleitoral da Liga, quando o Corriere della Sera lhe perguntou como explicava o clima no Governo. “De forma muito banal. Em todas as eleições regionais a Liga ganhou. O Governo começou com a Liga a ter 17/ e a Liga 30% e muito provavelmente no domingo as proporções serão invertidas. Mas não importa, eu sou verdadeiramente a favor do trabalho de equipa”, disse.
“As eleições vão servir para se voltar a fazer contas”, disse ao jornal El País o politólogo Roberto D’Alimonte. “Sem dúvida que terão um impacto real no Governo, mas não é certo que provoque eleições [legislativas] antecipadas.”
Para o especialista, Salvini vai aproveitar para “voltar a baralhar as cartas no Governo”, saindo mais reforçado politicamente. “Acima de tudo, usará o seu novo poder para impor a grande redução de impostos que prometeu ao seu eleitorado e para aumentar a autonomia das regiões, como exigem os antigos eleitores da Liga Norte”, disse Roberto D’Alimonte.
Dependendo da dimensão do resultado da Liga no domingo, Salvini poderá também reforçar a sua imagem de líder do bloco nacionalista europeu, que tem tentado formar.
A recém-criada aliança de extrema-direita Europa das Nações e das Liberdades, apresentada por Salvini em Abril, contou com a adesão de alguns importantes partidos nacionalistas, incluindo a AfD alemão, os Finlandeses e o Partido do Povo Dinamarquês.
Ao mesmo tempo, a Itália está a perder peso nas instituições europeias. Em Outubro, de uma assentada, o país vai perder os cargos de presidente do Banco Central (Mario Draghi), alta representante da UE para a Política Externa (Federica Mogherini) e presidente do Parlamento Europeu (Antonio Tajani). E não se espera que Bruxelas venha a compensar o Governo italiano por essas perdas.