Mónica de Miranda, um road movie nas fronteiras de Lisboa

Mónica de Miranda é um dos seis finalistas do Prémio Novos Artistas Fundação EDP. Até Junho, o PÚBLICO apresenta os artistas.

Como é que na Lisboa contemporânea há histórias invisíveis e que vivem à margem da cidade? Como é que se relacionam geografia, identidade e cultura, história e arquitectura? É de perguntas como estas que a artista e investigadora Mónica de Miranda parte para trabalhar um road movie que “tinha ficado arrumado na gaveta” e ao qual deu continuação na obra inédita que agora apresenta no MAAT, no âmbito do Prémio Novos Artistas Fundação EDP, do qual é um dos seis finalistas.

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Como é que na Lisboa contemporânea há histórias invisíveis e que vivem à margem da cidade? Como é que se relacionam geografia, identidade e cultura, história e arquitectura? É de perguntas como estas que a artista e investigadora Mónica de Miranda parte para trabalhar um road movie que “tinha ficado arrumado na gaveta” e ao qual deu continuação na obra inédita que agora apresenta no MAAT, no âmbito do Prémio Novos Artistas Fundação EDP, do qual é um dos seis finalistas.

Mónica de Miranda percorreu a antiga Estrada Militar Caxias-Sacavém, que circundava Lisboa e delimitava a cidade, para perceber como a fronteira subsiste desde o século XIX, quando “protegia e defendia a cidade contra invasões francesas e inglesas”. Hoje, diz a artista que tem amigos a viver nalguns dos bairros que se encontram nessa linha das antigas fortificações que faziam parte do Campo Entrincheirado de Lisboa (CEL), continua a ser uma barreira. Só que simbólica porque “uma fortaleza que não deixa entrar os imigrantes na cidade”. O trabalho, que considera “um trabalho de investigação, um trabalho vivo que se vai investigando a ele próprio e crescendo”, levou-a a descobrir a “desigualdade que há na própria forma como a cidade está feita”.​ A temática do “urbanismo invisível” é uma conotação que inevitavelmente se cola a esta obra de Mónica de Miranda. Mas a artista atribui-lhe também uma relação com trabalhos feitos anteriormente, ainda em Angola, em que questões relativas à arquitectura modernista ou às ruínas do urbanismo estão muito presentes.

Com uma carreira que cruza a investigação académica e a arte, Mónica de Miranda considera que o seu trabalho tem, à partida, “uma natureza de investigação” que parte de uma “practice-based research” — a artista identifica as “problemáticas urbanísticas à volta da cidade e questões culturais de pertença”, temas em que tem vindo a trabalhar. É também por isso que lhe fazia sentido um projecto relacionado com Lisboa e centrado “no contexto cultural e geográfico da própria instituição, do MAAT, um lugar onde há visibilidade”.

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A obra que apresenta no MAAT materializa-se num mapa da Estrada Militar, onde surgem assinalados os lugares por onde foi passando: “Mostra como era a estrada antes e o que é agora. Vou apontando os fortes e os vários bairros, sejam de realojamento ou bairros ilegais”. Para além do mapa, há “uma instalação de vídeo em dois ecrãs” com composição do rapper português Chullage, que em produções de “​sound design”​ assina Soundslikenuno, através do som que foi captado nos pontos assinalados no mapa. À volta deste percurso, Mónica de Miranda vai construindo uma narrativa recheada de personagens, fruto do seu trabalho com o Teatro GRIOT. “São 22 minutos onde vamos percorrendo esse perímetro à volta da cidade”, com personagens como o Marinheiro, o Cavaleiro Urbano ou a Guerreira, “uma guerreira contemporânea cuja luta é anti-colonial”, uma das múltiplas camadas que “vão sendo construídas no filme”, a partir de textos que Mónica de Miranda encontrou nas demolições do Bairro do Talude e no livro Um Bailarino na Batalha de Hélia Correia, bem como nos arquivos da Torre do Tombo ou no Arquivo MPLA.

Presentes estão também fotografias – uma instalação fotográfica, seccionada, composta por imagens em grande escala – que se relacionam com o filme. A instalação está montada sobre uma estrutura que consiste num “palco improvisado”, símbolo de celebração, encontro e discussão. 

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Mónica de Miranda é ​investigadora de pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa e grande parte do seu percurso académico foi feito em Inglaterra: licenciada em Artes Visuais pela Camberwell College of Arts e doutorada pelo Universidade de Middlesex. Integra ainda o grupo de artistas e curadores que fundou o centro de investigação artística Hangar.​

O seu percurso, que considera “independente”, inclui participações em exposições na Caixa Cultural (Rio de Janeiro e Brasília), na Bienal de Casablanca, nos Encontros Fotográficos de Bamako, no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado e na Bienal de São Tomé e Príncipe, entre outras.

A exposição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP foi inaugurada durante a feira internacional de arte contemporânea ARCOlisboa, e fica patente até Outubro deste ano, na galeria da Central 1, do MAAT.

Os seis artistas finalistas — Mónica de Miranda, Henrique Pavão, Isabel Madureira Andrade, AnaMary Bilbao, Dealmeida Esilva e Diana Policarpo — foram seleccionados entre mais de 530 candidatos, pelos curadores Inês Grosso, Sara Antónia Matos e João Silvério.

Anteriormente, o Prémio Novos Artistas Fundação EDP já distinguiu criadores como Joana Vasconcelos, Leonor Antunes, João Maria Gusmão e Pedro Paiva ou Gabriel Abrantes.

A série de apresentação dos finalistas do Prémio Novos Artistas tem o apoio