Cinco perguntas, cinco diferenças para o PSD, diz Marques. “Não queremos uma polícia de choque contra refugiados”
Num debate com jovens, o socialista defendeu a criação de um fundo europeu para apoiar o desemprego e o o fim do voto por unanimidade para algumas questões europeias.
Na recta final desta campanha eleitoral para as eleições europeias, Pedro Marques carrega nas diferenças para o adversário mais directo, Paulo Rangel. E em temas europeus, diz, desta vez há mesmo uma grande divergência nas posições dos dois partidos, em lados opostos na barricada no que diz respeito a como se deve combater os extremismos, como se deve tratar a crise dos refugiados ou o que fazer quanto ao futuro do projecto europeu.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Na recta final desta campanha eleitoral para as eleições europeias, Pedro Marques carrega nas diferenças para o adversário mais directo, Paulo Rangel. E em temas europeus, diz, desta vez há mesmo uma grande divergência nas posições dos dois partidos, em lados opostos na barricada no que diz respeito a como se deve combater os extremismos, como se deve tratar a crise dos refugiados ou o que fazer quanto ao futuro do projecto europeu.
Num debate com jovens, na Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, foram sobretudo cinco os temas abordados.
1 - Como combater os extremismos?
Na opinião do socialista, o euro trouxe uma “Europa mais desigual” e é preciso curar essa consequência promovida pela moeda única. E isso faz-se, disse, “reconstruindo o pacto entre as instituições europeias e a classe média”. Nessa reconstrução, a que chama “novo contrato social”, está a promoção de políticas sociais como prioridade em relação às políticas económicas e financeiras.
Do ponto de vista político, Pedro Marques insiste na ideia de que não é possível “normalizar” os partidos de extrema-direita “como já fez o PPE [Partido Popular Europeu]” por ter feito acordos e coligações, mas também por ter absorvido no seu manifesto, referiu, propostas que são típicas da extrema-direita.
“Se conseguirmos fazer isso, os nacionalismos e a extrema-direita voltam para o lugar habitual de pouca relevância”, defendeu.
2 - Crise dos refugiados
Este é um dos pontos que, insiste o socialista, mais o separam da direita com particular relevo para o PSD. “O manifesto do Partido Popular Europeu é securitário e perigoso num certo sentido, porque cede a propostas da extrema-direita”, disse. “Em termos de refugiados há uma grande diferença” entre os partidos. “Aquele programa vai muito longe”, criticou, para depois defender que, na sua óptica, o espaço de defesa “é a NATO”. “Não falamos nem de exército europeu nem de sair da NATO”, reforçou.
O socialista pega na proposta do PPE, de aumentar a segurança na zona fronteiriça e ataca-a de frente: “Significa uma polícia de choque contra os refugiados”, disse.
Esta medida, é “perigosa” e cede “aos valores e prioridades”. Por contraponto, o PS e o Partido Socialista Europeu, referiu, têm “uma visão solidária”. “Somos críticos de como alguns Estados-membros estão a lidar com as crises humanitárias”, respondeu.
Uma das perguntas deu-lhe a deixa para lembrar que essa visão solidária tem de partir de uma “cooperação efectiva” com os países de origem de refugiados e de migrantes, como África. Essa será, disse, a prioridade da presidência portuguesa da União Europeia em 2021.
3 - Fim da unanimidade é possível?
O socialista admitiu esta tarde que, em algumas matérias, os avanços podem ser feitos sem que haja unanimidade entre os países da zona euro. Em “matérias circunscritas podemos dar o passo”, referiu.
Os exemplos em cima da mesa em que a regra da unanimidade de voto pode ser quebrada são, para Pedro Marques, aquelas que dizem respeito à luta contra a evasão fiscal, e ao equilíbrio das bases fiscais entre os diferentes países para reduzir o risco de “offshorização”.
O avanço nestas matérias pode processar-se, defendeu, por “clubes de países”, começando “por aqueles que estão disponíveis”. Um modo de fazer que, referiu, nem é novo na Europa, uma vez que foi isso que aconteceu com a introdução da moeda única ou do espaço Shengen.
4 - “Inacreditável não haver uma palavra sobre reforma da zona euro”, no programa do PPE
Saindo dos assuntos mais sociais, a visão para a zona euro também separa os dois partidos, respondeu o candidato socialista. Na perspectiva de Pedro Marques, o orçamento da zona euro deveria ter uma função de “estabilização da zona monetária” para servir de almofada quando “houver uma crise assimétrica”.
“É inacreditável que não haja uma palavra no programa do PPE sobre reforma da zona euro”, refere o socialista. Pedro Marques tem sublinhado, por diversas vezes, as diferenças entre socialistas e PSD e CDS (estes últimos do grupo europeu do PPE) no que toca à política económica. O PPE quer manter a austeridade, os Socialistas & Democratas permitir uma flexibilização das regras.
“Como acham que está tudo igual, não querem flexibilizar as regras do tratado orçamental. Isto é não perceber o que aconteceu nos últimos dez anos”, disse.
5 – Subsídio de desemprego europeu, sim ou não?
Para já, Pedro Marques responde sim, mas apenas à discussão da ideia de um subsídio de desemprego europeu. “Há um caminho a fazer nessa matéria”, em resposta a uma pergunta da líder da Juventude Socialista, Maria Begonha.
“Estamos no embrião dessa discussão, mas podemos começar por discutir a criação de um fundo europeu que possa temporariamente suportar o acréscimo de despesas sociais decorrentes do aumento do desemprego e depois eventualmente lá à frente com a melhoria do ciclo económico haver uma devolução dessas contribuições ao fundo”, explicou em detalhe ao PÚBLICO.
O socialista defende que este é um “instrumento” que permite a estabilização de países em crises assimétricas. “Será mais interessante ter um instrumento que ajude temporariamente a estabilizar os países para que não tenha de acontecer uma mobilidade das pessoas para fora do país, não tenham de se fazer cortes na despesa social, no investimento, numa altura em que precisamos dessa despesa para manter a economia um pouco mais acima”, acrescentou em respostas ao PÚBLICO.
A medida ainda em estudo conta com o apoio à discussão do socialista que o que quer é que não sejam de novo “os desempregados a pagar a crise”. “Foi isso que aconteceu e não queremos que volte a repetir”, concluiu.