Diário de campanha, dia 9: andar cá dentro lá fora
António Costa foi poupado a dois dias de lombo assado. Jantou em Paris, foi aclamado em Viena. Foi mais compensador está na campanha a milhas.
É de admitir que seja injustiça, mas enquanto os cabeças de lista madrugam no metro, são obrigados a amanhar favas nos mercados, a encontros matinais com bolseiros e a ouvir desabafos de uma vida, outros têm tarefas mais compensadoras. Em estilo, ambiente, notoriedade e repercussão. Em propaganda, está visto.
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É de admitir que seja injustiça, mas enquanto os cabeças de lista madrugam no metro, são obrigados a amanhar favas nos mercados, a encontros matinais com bolseiros e a ouvir desabafos de uma vida, outros têm tarefas mais compensadoras. Em estilo, ambiente, notoriedade e repercussão. Em propaganda, está visto.
Já se sabe que as eleições são para o Parlamento Europeu, portanto elemento de uma peça política global. Donde, para além das nossas fronteiras. É certo que a campanha doméstica usou e versejou em temas internos, desaforos intestinais e invocações do baú das memórias. Não é menos verdade que, na derradeira semana, esgotadas as munições dos argumentos no fogo-de-artifício de soundbytes da pré-campanha e dos primeiros dias, escasseiam as palavras. E até as ideias.
Tanto mais que a pressão das sondagens a todos ilumina e é má conselheira. O verbo acentua a tendência, consoante os casos, para o contentamento tranquilo ou a angústia do desespero. A bonomia dos apertos de mão, sorrisos e abraços é mantida a muito esforço. Há espaço para revelações.
Nuno Melo não queria ficar atrás do BE do PCP. Não se resigna, mas, confessa, é a vida. João Ferreira ainda aguarda a resposta do comissário Carlos Moedas sobre o quadro dos investigadores. Marisa Matias não quer incomodar os vendedores do mercado de Torres Novas. Paulo Rangel encontrou em Manuela Ferreira Leite a compreensão que as previsões lhe negam.
Neste lento desfazer da tenda eleitoral há cansaço e a dúvida se a mensagem passou. Ao abrigo deste quase sem viver, esteve o primeiro-ministro. Que não é candidato, mas líder partidário, e foi poupado a dois dias de comícios e lombo assado.
António Costa não teve o incómodo dos atropelos de feiras e mercados municipais, mas o conforto de um jantar a dois no Palácio do Eliseu, em Paris, com Emmanuel Macron. Nem trocou palavras em contra-relógio de sessão para sessão. Teve um entretien avec Le Monde. Esteve à margem de contraditórios, como convidado da Confederação Europeia dos Sindicatos, com elogios rasgados. Ainda por cima em Viena.
Nem é preciso esperar pelo barómetro das conversas de café de quarta-feira para tirar a devida conclusão do que foi mais eficaz, profícuo e compensador. Foi, sem dúvida, estar na campanha a milhas. Andar cá dentro lá fora.