Rio à espera da crucificação?

Ainda faltam alguns dias para as eleições mas algum desespero visível na campanha do PSD coincide com o desespero que a sondagem desta segunda-feira revela.

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LUSA/TIAGO PETINGA

A confirmar-se, pela noitinha de domingo, uma diferença de 10 pontos entre PS e PSD nas europeias, tal como a sondagem que publicamos indicia, estamos a assistir a uma tragédia para os sociais-democratas e para a liderança de Rui Rio. Não é que António Costa e o seu avatar menos despachado Pedro Marques tenham um resultado, em termos percentuais, arrasador: 33% é mais do que o 31% “poucochinho” de 2014 mas não é um grande embalo para umas eleições legislativas em que o objectivo macro é a maioria absoluta. Só que estas eleições foram raramente ganhas pelo partido que está no Governo – o PS de Ferro Rodrigues conseguiu há 15 anos, em 2004, uns hoje inconcebíveis 44% contra a coligação Barroso/Portas que teve 33%. E não deixa de ser interessante constatar como os 33% da derrota dos partidos do Governo em 2004 são, segundo a sondagem PÚBLICO/RTP, os 33% da vitória do partido que hoje está no Governo. O mundo mudou.

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A confirmar-se, pela noitinha de domingo, uma diferença de 10 pontos entre PS e PSD nas europeias, tal como a sondagem que publicamos indicia, estamos a assistir a uma tragédia para os sociais-democratas e para a liderança de Rui Rio. Não é que António Costa e o seu avatar menos despachado Pedro Marques tenham um resultado, em termos percentuais, arrasador: 33% é mais do que o 31% “poucochinho” de 2014 mas não é um grande embalo para umas eleições legislativas em que o objectivo macro é a maioria absoluta. Só que estas eleições foram raramente ganhas pelo partido que está no Governo – o PS de Ferro Rodrigues conseguiu há 15 anos, em 2004, uns hoje inconcebíveis 44% contra a coligação Barroso/Portas que teve 33%. E não deixa de ser interessante constatar como os 33% da derrota dos partidos do Governo em 2004 são, segundo a sondagem PÚBLICO/RTP, os 33% da vitória do partido que hoje está no Governo. O mundo mudou.

Ainda faltam alguns dias para as eleições mas algum desespero visível na campanha do PSD coincide com o desespero que a sondagem revela. Percebem-se, neste contexto, os apelos ao voto útil de Paulo Rangel.

O PSD está a ser eleitoralmente prejudicado pela mais recente posição sobre o tempo de serviço dos professores – a mesma que levou António Costa a dramatizar ao máximo e anunciar que se demitiria se a lei da reposição total fosse aprovada. Apesar do recuo a que nunca quis chamar “recuo”, Rio teve aqui um choque com o seu próprio eleitorado e, segundo as sondagens indicam, também com a maioria dos portugueses que nesta questão ficaram ao lado de António Costa. A tomada de posição de Rio aconteceu numa altura em que o PSD começava a subir nas sondagens e o PS a descer – num ápice, com a crise dos professores, a inversão lenta foi aniquilada.

Se o cenário dos 23% se confirmar, qual será a autoridade com que Rui Rio vai caminhar até às legislativas? É verdade que o líder do PSD também não tem dentro do partido opositores suficientemente fortes para o desalojarem do cargo e nem há tempo para isso – face a António José Seguro, António Costa era um candidato forte e faltava um ano e meio para as legislativas. Portanto, a história não se repete.

Se a crise dos professores pode explicar a queda do PSD, o facto do partido de Santana Lopes estar à beira – segundo a sondagem – de eleger um eurodeputado também demonstra a existência de um eleitorado de direita órfão e disponível para mudar. Rio e Santana são Rio e Santana e as suas respectivas circunstâncias: com um eurodeputado, Santana Lopes faz uma festa; com cinco, Rui Rio é um homem perdido.