Há um talude na Alta de Lisboa que se está a transformar num dos maiores murais de arte urbana da Europa

É na Alta de Lisboa que vai decorrer o Festival de Arte Urbana de Lisboa e lá também que um talude está a ser transformado em arte pelas mãos de RAF.

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Entre o bairro da Cruz Vermelha e a Rua Helena Vaz da Silva, na zona da Alta Lisboa, há um declive que está agora a ganhar vida. Depois de anos sem qualquer intervenção, monótono no seu cinzento de betão, o imenso talude vai ser alvo de intervenção através do projecto Talude by RAF que lhe vem dar cor – literalmente.

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Entre o bairro da Cruz Vermelha e a Rua Helena Vaz da Silva, na zona da Alta Lisboa, há um declive que está agora a ganhar vida. Depois de anos sem qualquer intervenção, monótono no seu cinzento de betão, o imenso talude vai ser alvo de intervenção através do projecto Talude by RAF que lhe vem dar cor – literalmente.

Agora integrado no Festival de Arte Urbana de Lisboa (FAUL), que se vai realizar de 23 a 26 de Maio, o projecto artístico de Rui Ferreira começou há pouco mais de um ano. Contactado pela Sociedade Gestora da Alta de Lisboa (SGAL), foi convidado a desenhar uma intervenção no talude. A ideia era transformar o espaço e torná-lo mais agradável e integrado na zona urbanística. Trabalhou nas ideias, transformou-as, e até procurou inspiração noutros artistas (como Gaudí e Zaha Adid). Agora, meses depois, formas, cores e contornos começam a materializar-se nas paredes de um talude de contenção.

Os bairros que o circundam já lá estão há muito tempo. Começaram a ser ocupados por famílias que vinham do norte, à procura de melhores condições de vida, e depois por pessoas de outros países lusófonos. A determinada altura vieram também os retornados e as comunidades da Alta de Lisboa foram-se transformando.

As condições iniciais de toda a zona eram más, como recorda RAF. “Era uma zona quase na sua totalidade exclusivamente de barracas e construções precárias”, situação que se foi alterando Fruto de projectos urbanísticos desenhados no sentido de redefinir o estilo e condições de vida destas pessoas, estes edifícios foram sendo reconstruídos e adaptados, trazendo mais segurança e saúde pública a toda a zona.

A nova Alta de Lisboa inspira agora confiança, já sendo procurada para investimento imobiliário e comercial. É dos poucos sítios que tem, ainda, algumas zonas expectantes, sem construção, e o artista acredita que um festival de arte urbana na zona será um incentivo ao comércio e serviços locais.

Ele próprio idealizava realizar este festival nas sua zona mas outros tiveram a mesma ideia e puseram-na em prática. Contactado pela Câmara Municipal de Lisboa, foi convidado a integrar o Festival de Arte Urbana de Lisboa - Muro, vendo assim chegar à sua zona o festival que sonhou organizar.

Sobre a obra em que se empenha, conta o artista, os primeiros passos foram revestir o espaço com massa de betão para conseguir uma superfície mais lisa e fácil de trabalhar. O segundo revestimento foi mais fácil: primário e com tinta (cor base).Estava iniciado o trabalho.

Ainda não está terminado mas RAF acredita que o ficará até ao festival. A possibilidade de mostrar ao público o seu trabalho em acção, ao trabalhar no talude à medida que os visitantes do FAUL passam, agrada-o. É o maior projecto do festival e, acredita, um dos maiores na Europa. Com uma extensão de 2100 metros quadrados, poucos serão os trabalhos a nível europeu (levados a cabo apenas por um artista) que se aproximam dessas dimensões.

A ideia é trazer àquela parede efeitos tridimensionais, para lhe dar alguma profundidade. O artista compara o resultado a um queijo, cujos buracos permitem perceber a sua composição interna. Com um estilo mais moderno e muitos elementos futuristas e mecanizados, o talude enche-se de uma paleta de cores que vão das mais quentes às mais frias, amornando de novo no fim.

As reacções dos habitantes são variadas, admite, e sabe que não vai conseguir contentar todos. Muitos rejeitam a ideia e outros olham de lado porque associam arte urbana a bairros sociais. RAF entende que “o trabalho tem de ser feito de outra forma” para quebrar a ligação entre este tipo de arte e os bairros com maior carência social e económica. 

Artigo editado às 12h do dia 22/05: corrige o nome do artista. Onde se lia Ricardo agora lê-se Rui.

Texto editado por Ana Fernandes