Filas para voto antecipado: “Há pessoas que desistiram porque não podem esperar”
Mais de 8500 inscritos em Lisboa e três mil no Porto. Foi preciso esperar para exercer o voto antecipado e houve quem desistisse. Na capital as filas saltaram para o exterior do edifício da câmara.
Para Tiago Cardoso, 18 anos, foi uma estreia. E nas primeiras eleições em que iria votar, optou por fazê-lo recorrendo ao voto antecipado, aproveitando a novidade de o poder fazer sem necessidade de apresentar qualquer justificação. Foi um dos quase 20 mil eleitores que se registaram nas diferentes capitais de distrito e nas ilhas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira para poderem votar, neste domingo, com uma semana de antecedência. A afluência nos locais com mais inscritos, Lisboa e Porto, aponta para que não tenham existido muitas desistências. À medida que se aproximava a hora de fecho das urnas, a confusão aumentava.
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Para Tiago Cardoso, 18 anos, foi uma estreia. E nas primeiras eleições em que iria votar, optou por fazê-lo recorrendo ao voto antecipado, aproveitando a novidade de o poder fazer sem necessidade de apresentar qualquer justificação. Foi um dos quase 20 mil eleitores que se registaram nas diferentes capitais de distrito e nas ilhas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira para poderem votar, neste domingo, com uma semana de antecedência. A afluência nos locais com mais inscritos, Lisboa e Porto, aponta para que não tenham existido muitas desistências. À medida que se aproximava a hora de fecho das urnas, a confusão aumentava.
Tiago é só mais um dos que, na tarde deste domingo, serpenteavam pelo piso térreo da Câmara do Porto, em filas ordenadas, aguardando a vez de votar. Está recenseado em Castelo Branco, mas estuda na Universidade do Porto, pelo que decidiu antecipar o voto, mesmo indo a casa na próxima semana, dia de eleições para o Parlamento Europeu. “Sinceramente, acho que decidi votar hoje para despachar. No dia das eleições vou estar em Castelo Branco, mas tenho uma festa de aniversário e não me quis preocupar com isto”, diz.
Enquanto aguarda para chegar à mesa de voto já não tem dúvidas sobre a escolha. Já tinha uma ideia, viu os debates televisivos e decidiu com relativa facilidade. Frio na barriga, por exercer pela primeira vez o direito de voto, é que não há. “Costumava acompanhar os meus pais, já sei como funciona”, sorri. E os colegas da faculdade, também votam? As eleições foram tema de conversa? “Nem por isso. Falo mais com os amigos do [ensino] secundário e esses votam todos”, diz.
Um pouco mais atrás na fila está Mónica Silva, 45 anos. “Fiquei muito surpreendida quando cheguei aqui e vi esta gente toda, não estava a contar”, diz. No caso dela, a decisão de antecipar o voto prende-se com uma viagem que a levará para longe do Porto na próxima semana. O mesmo acontece com Orlando Silva, de 56 anos, que se mostrava pouco satisfeito com o facto de estar numa fila há meia hora e ter, pelo menos, outro tanto tempo de espera pela frente. “Isto é inadmissível. Há pessoas que desistiram porque não podem esperar. Já sabiam quantas pessoas se tinham inscrito e quem manifesta vontade de votar antecipadamente terá uma altíssima probabilidade de comparecer. Por isso, deviam ter programado isto devidamente, com mais mesas de voto. Vou fazer uma reclamação depois de votar”, prometia.
Paciência e compreensão
Mas entre as pessoas ouvidas pelo PÚBLICO, a voz descontente de Orlando falava sozinha. Raquel Rodrigues, uma advogada de 26 anos, está a escassas pessoas de poder votar, depois de uma hora na fila, e nada incomodada com a espera. “Não contava com tanta gente, mas, realmente, quando cheguei aqui e vi isto, comecei a pensar: se não havia grandes requisitos é normal. Fico contente por ver tanta gente, agora não há desculpas”, diz a jovem que, na próxima semana, também estará fora do Porto e não quis falhar uma votação. “Voto sempre, desde os 18 anos”, garante, sorridente.
Sara Soares, 31 anos, já não pode dizer o mesmo. Admite que falhou várias votações, “mais do que as que gostaria”, muito por causa do facto de continuar recenseada em Ponte de Lima mas já não residir ali desde os 18 anos. Diz que não mudou ainda o local de recenseamento porque não quer perder a ligação ao local onde nasceu e agora está satisfeita com a possibilidade de, sem transtornos, poder votar no Porto, onde vive há cinco anos. “Já tinha tentado votar antecipadamente, mas era preciso fazer o pedido com muita antecedência, quando uma pessoa ainda nem está a pensar em eleições, e era preciso uma justificação. Não era nada prático. Agora foi muito fácil, só não estava a contar com isto”, diz, olhando para a fila à sua frente.
Um dos funcionários de serviço na Câmara do Porto dizia que afluência parecia maior do que nos dias normais de actos eleitorais, ainda que não seja possível comparar as duas situações, já que este domingo, qualquer pessoa recenseada em Portugal poderia votar naquele local, desde que o tivesse escolhido para exercer o voto antecipado; e na próxima semana, só os eleitores do Porto cujas mesas de voto estejam neste espaço irão até ali.
A votação começou às 8h e desde as 10h30 que houve sempre fila, explicou outro funcionário. Até às 19h, qualquer inscrito poderia ainda passar por ali e escolher no boletim de voto a força política que queria ver representada no Parlamento Europeu. No Porto cerca de três mil pessoas inscreveram-se para votar este domingo, em Lisboa, onde as filas também foram uma constante, saltando para o exterior e extravasando em muito os limites dos paços do concelho, eram quase o triplo: mais de 8500.
Na capital houve mesmo quem desistisse de exercer antecipadamente o direito de voto, ao ver as filas que ocupavam a Praça do Município e ouvir relatos de quem aguardara duas horas, numa altura em que a afluência era menor do que a que se verificou durante a tarde. Nos casos de desistência ou não comparência, o eleitor pode na mesma votar no próximo domingo, desde que tenha disponibilidade para tal.
Pouco depois das 19h, quando as filas ainda se alongavam fora do edifício, gerou-se alguma confusão entre quem aguardava, ao correr o boato que pelo menos uma mesa de voto já tinha fechado. “Começaram a dizer que a mesa 7 tinha fechado, mas entretanto avisaram-nos que quem chegou antes das 19h vai poder votar. Julgo que haverá alguma reorganização das mesas”, diz ao PÚBLICO Maria Antão, de 43 anos, que chegou ao edifício da Câmara de Lisboa às 18h e, pelas 19h20 ainda não tinha votado. “Vou aguardar, claro”, garante.
Nesta eleição, pela primeira vez, foi instituído o voto antecipado em mobilidade que permitiu que qualquer eleitor nacional se pudesse inscrever para votar antecipadamente, sem apresentar qualquer justificação. O voto poderia ser exercido em qualquer capital de distrito ou em cada uma das ilhas das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, independentemente do local em que o cidadão estava recenseado, tendo apenas que escolher a cidade em que queria votar. A inscrição podia ser feita online, em www.votoantecipado.mai.gov.pt ou por via postal.
Pela primeira vez, também, deixou de se utilizar o número de eleitor, estando os cadernos eleitorais organizados por ordem alfabética: o eleitor tinha de procurar a mesa correspondente procurando a letra do seu primeiro nome.
Nas eleições autárquicas de 2017, o último acto eleitoral antes deste, quando as regras do voto antecipado eram mais restritivas, houve apenas 3329 pedidos para votar antes do dia oficial.
Agora, os mais de 19.500 inscritos obrigaram a alguma paciência, em cidades como Lisboa e Porto. Renata Rosa, 36 anos, teve de atravessar o Douro para, pela primeira vez, votar no Porto, em vez de Vila Nova de Gaia. “Vou estar fora no próximo fim-de-semana”, justifica. Só não votou uma vez, quando estava a estudar em Coimbra e o voto antecipado não tinha a facilidade que tem hoje. Está à espera há 20 minutos e sabe que ainda vai ter aguardar largos minutos para concluir o processo. “Não estava à espera disto, de todo, mas sei que se concentra tudo aqui, porque é o único local de voto [no Porto]”. Vai esperar e para a semana já não tem de pensar no assunto.