Um sistema político quase à prova de bala
Há qualquer coisa de aldeia gaulesa neste sistema político — para o melhor e para o pior.
Se as últimas sondagens nos dão alguma indicação, a mais interessante é como, ao contrário de toda a Europa onde a paisagem partidária tem vindo a mudar, Portugal mantém-se imune a alterações substanciais. Os dez anos de crise não produziram nenhuma força política nova, ao contrário do que aconteceu em Espanha, França, já para não falar dos casos de Itália e Grécia.
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Se as últimas sondagens nos dão alguma indicação, a mais interessante é como, ao contrário de toda a Europa onde a paisagem partidária tem vindo a mudar, Portugal mantém-se imune a alterações substanciais. Os dez anos de crise não produziram nenhuma força política nova, ao contrário do que aconteceu em Espanha, França, já para não falar dos casos de Itália e Grécia.
A última sondagem Expresso/SIC revela que só os partidos tradicionais têm capacidade para eleger deputados ao Parlamento Europeu. Aparentemente, de fora ficam a nova formação política de Santana Lopes, o Aliança, o Livre de Rui Tavares, Iniciativa Liberal e até o PAN, que tem um eleito na Assembleia da República. Também a coligação “Basta”, de André Ventura, que configurou a entrada da extrema-direita na campanha eleitoral, parece não ter qualquer efeito eleitoral. E Marinho e Pinto, que protagonizou há cinco anos uma campanha popular que lhe permitiu a eleição como eurodeputado, desta vez parece não ter hipóteses.
Sondagens são sondagens — e até ao lavar dos cestos, no domingo próximo, dia de eleições, é vindima. Mas a confirmarem-se nas urnas os resultados das sondagens, mais uma vez se demonstrará que o sistema político português tem sido em 45 anos de democracia quase à prova de bala. Com a excepção do Bloco de Esquerda, que fez agora 20 anos, todos as tentativas de criação de novas formações políticas foram condenadas ao insucesso.
O único partido que assustou o regime foi criado à sombra do antigo Presidente da República Ramalho Eanes e conseguiu 17% nas eleições de 1985. Era o Partido Renovador Democrático e contava com vários quadros do Partido Socialista. Em 1987, depois da tragédia que foi a decisão do partido em apresentar uma moção de censura ao primeiro governo minoritário de Cavaco Silva, a sua representação foi bastante reduzida. Anos depois, morreu de morte natural, com a deserção total dos fundadores.
Houve epifenómenos ao longo destes 45 anos, mas nada de duradouro ou especialmente relevante. O que explica esta total imunidade que o sistema político português parece ter em relação às novidades? O nosso conservadorismo atávico? Os “pequenos” gostam de culpar a comunicação social pela falta de cobertura das suas campanhas, mas num tempo de redes sociais esse argumento já não vale o que valia há algum tempo.
É um facto confortável concluir que o partido de extrema-direita que se preparou para estas eleições não terá grande sucesso — valha a verdade que o CDS resolveu funcionar como tampão, endireitando ainda mais o discurso nesta campanha. Mas as esperanças que alguns depositavam numa candidatura do Aliança ou mesmo do PAN parecem desvanecidas. Há qualquer coisa de aldeia gaulesa neste sistema político — para o melhor e para o pior.