Eurovisão: Duncan Laurence venceu o festival pela Holanda

Numa final renhida, em que o vencedor não foi claro até à última hora, foi o intérprete da balada Arcade que se sagrou campeão.

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O holandês Duncan Laurence foi o vencedor da competição, com a balada Arcade LUSA/ABIR SULTAN

É oficial: a Holanda é a vencedora da edição de 2019 do Festival Eurovisão da Canção. A responsável é Arcade, a balada épica ao piano de Duncan Laurence que era uma das favoritas para ganhar na noite de sábado em Telavive, Israel, na final da 64.ª edição do concurso, em que o representante português, Conan Osiris, ficou pelo caminho.

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É oficial: a Holanda é a vencedora da edição de 2019 do Festival Eurovisão da Canção. A responsável é Arcade, a balada épica ao piano de Duncan Laurence que era uma das favoritas para ganhar na noite de sábado em Telavive, Israel, na final da 64.ª edição do concurso, em que o representante português, Conan Osiris, ficou pelo caminho.

Foi uma luta renhida, em termos de votos dos júris profissionais dos países – em que o voto da Bielorrússia não contou, visto os jurados terem quebrado as regras. O primeiro lugar estava sempre a mudar enquanto estavam a ser anunciados os votos. Acabou por ir para a Suécia. Mas o voto popular fez a diferença, e foi a Holanda que se sagrou vencedora no final das contas.

A cerimónia de sábado à noite foi apresentada por Erez Tal, Assi Azar, Bar Refaeli e Lucy Ayoub, mas a Eurovisão arrancou com Netta (Barzilai) aos comandos de um avião que acabou por aterrar na arena. Além da vencedora do certame do ano passado, passaram pelo palco outros representantes de Israel na Eurovisão para cantarem as canções por eles celebrizadas: Ofra Haza, Dana International, Ilanit e Nadav Guedj.

Quanto ao desfile das canções, primeiro veio Malta e a Chameleon de Michela, multicolor e variada musicalmente. Depois a Albânia, com Ktheju Tokës, a canção pessimista de Jonida, uma balada dramática com letras como “um dia vives, noutro morres, tanta nostalgia, tão pouca esperança”, ou “cada dia vives na visão da morte”. Foi a primeira das sete canções apresentadas na própria língua do país que estavam a representar.

A seguir, as cores do trio Lake Malawi, da República Checa, e o som dos anos 80 de Friend of a friend. Em quarto, a Alemanha, a apresentar pela primeira vez em palco Sister, do duo S!sters (que não são realmente irmãs), uma balada de afirmação feminina sobre apoiar outras mulheres e não alimentar rivalidades – e recebeu zero pontos do público. O drama continuou com Scream, do russo Sergey Lazarev, vestido de branco integral e com um elaborado jogo de espelhos em palco.

Jean-Paul Gaultier no green room a falar dos vestidos que fez para Dana International e Madonna, e veio Leonora, da Dinamarca, na sua cadeira gigante em palco, a cantar em inglês e francês sobre como o amor é para sempre, perante uma plateia cheia de luzes de telemóveis no ar. Outro homem de branco integral: o turco Serhat e o seu Say na na na​, em representação de São Marino. Pela Macedónia do Norte, Tamara Todevska, que já tinha vindo três vezes à Eurovisão noutras configurações mas nunca a solo, e a balada Proud, canção de afirmação para a filha não ligar a estereótipos e imposições de género.

Passado o intervalo, o ex-velocista John Lundvik e a sua Too late for love, com um coro gospel chamado The Mamas e tudo. Lundvik esteve no concurso em dose dupla: foi também co-autor da canção britânica. A dupla eslovena Zala Kralj & Gašper Šantl veio vestida de branco integral para interpretar Sebi, um tema ao jeito The xx com a cantora Zala Kralj sempre a olhar para o multi-instrumentista Gašper Šantl, que apenas faz playback na guitarra.

O Chipre esteve em palco com a greco-georgiana Tamta e o seu Replay, muito na senda de Fuego, a canção com a qual Eleni Foureira representou a Grécia no ano passado (o produtor, Alex P, é o mesmo). O holandês Duncan Laurence, que tem família em Lisboa e sabe falar português – foi para ele que foram os 12 pontos de Portugal –, cantou ao piano a balada épica Arcade. Seguiu-se a balada pop Better love, interpretada, pela Grécia, por Katerine Duska.

A jogar em casa, Kobi Marimi, o representante israelita, veio vestido de preto e andou em palco a cantar Home, uma balada nos antípodas de Toy, a canção que dera a vitória ao país no ano passado, em Portugal. O cantor, que também é actor, chorou no fim. Depois os noruegueses KEiiNO e o Spirit in the sky, com direito a uma parte com joik, um canto da cultura sámi – como aconteceu em 1980, quando Sámiid ædnan foi interpretada por Sverre Kjeldsberg & Mattis Hætta –, numa feliz mistura de dança contemporânea e folclore local. O britânico Michael Rice atirou-se à balada Bigger than us, a tal co-escrita pelo concorrente sueco – em comum com a dele tem o coro gospel.

Após outro intervalo, os polémicos Hatari, os islandeses que cantam sobre como o ódio vai prevalecer – isto se o capitalismo não for desmantelado, que é um dos objectivos do grupo –, no techno-industrial-metal-punk-sado-maso de Hatrið mun sigra. Nos comentários da RTP, Nuno Galopim afirmou que é a primeira vez que “ódio” surge no título de uma canção da Eurovisão, e são um grupo pró-Palestina – tinham bandeiras palestinianas no green room –, que não tem medo de dizer o que pensa, nem de desafiar Benjamin Netanyahu.

O sueco Victor Crone representou a Estónia com Storm, balada pop/rock que reflecte os tempos passados em Los Angeles e Nashville a aprender a escrever canções.

Pela Bielorrússia, a adolescente de 16 anos Zinaida Kupriyanovich, ou ZENA, com Like It. Pelo Azerbaijão, Chingiz, que nasceu na Rússia, a cantar Truth com a ajuda de robôs e lasers. Com carreira feita no YouTube, o francês Bilal Hassani, também de branco integral, defendeu Roi, hino de afirmação das identidades que costumam ser desvalorizadas, com duas dançarinas em palco a darem corpo à diversidade.

Pela Itália, que ainda não tinha sido ouvida nas semifinais, Mahmood, filho de pai egípcio, cantou, em árabe e italiano, Soldi, que mistura trap e sons árabes, tem palmas e onde se rima “Ramadan” com “Jackie Chan”, algo que devia ser mais comum do que é. A Sérvia, na pessoa de Nevena Božović, concorreu com Kruna, balada épica e dramática com toques locais. O suíço Luca Hänni e a sua She got me encheram o palco de tons vermelhos a cantar sobre “dirty dancing”. O canto lírico e quase yodel misturado com música pop de Kate Miller-Heidke – outro vestido branco – em Zero Gravity veio representar a Austrália. Por fim, também em estreia, os ritmos latinos do espanhol Miki e La Venda – até menciona “la vida loca” na letra –, com uma produção de palco que incluía uma casa cheia de divisões e uma estátua de um homem feito de vime.

Desfiladas as canções, Conchita Wurst, que venceu em 2014, a cantar Heroes, que fez o sueco Måns Zelmerlöw vencer em 2015. Zelmerlöw, por sua vez, cantou Fuego, que Eleni Foureira defendeu pela Grécia no ano passado. Foureira cantou Dancing Lasha Tumbai, que quase fez Verka Serduchka ganhar pela Ucrânia em 2007. Verka atirou-se a Toy, a vencedora do ano passado. Por fim, veio Gali Atari cantar Hallelujah, vencedora israelita de 1979, juntando-se todos estes ex-concorrentes para cantar versos.

Antes de Madonna actuar, houve tempo para a vencedora do ano passado, Netta (Barzilai), mostrar Nana banana, o seu novo single. Madonna surgiu em palco a descer umas escadas rodeada de um coro de monges a interpretar – sem grande voz – Like a prayer. Vinha com uma pala no olho a dizer “X”, uma referência a Madame X, o vindouro novo álbum, do qual interpretou Dark ballet e Future. Para esse último tema, o novo single com auto-tune e o seu quê de dancehall, trouxe (e deu as mãos a) Quavo, do trio rap Migos – que, a ser entrevistado pelos apresentadores, disse que a sua mãe tinha crescido a ouvir Madonna. Trouxe também mensagens políticas: a subir as escadas, um casal de dançarinos de braços dados, ambos com bandeiras nas costas, uma de Israel e outra da Palestina.