Parece-me extremamente injusto querer retirar as condecorações a Joe Berardo no preciso momento em que ele fez tanto para as merecer. Reparem: nós andamos há anos e anos a ver desfilar pelo Parlamento centenas de figuras que foram empenhadamente enterrando o país nas últimas duas décadas. Essas figuras são convocadas para as comissões de inquérito, chegam acompanhadas dos seus super-advogados, lêem longas declarações introdutórias, e a partir daí a sua postura é uma de duas (às vezes acumulam): ou declaram que são bastante estúpidos (não viram, não sabiam, nunca, nunca, nunca pensaram) ou fingem que são amnésicos (não se recordam, não faziam ideia, precisavam de consultar apontamentos que se esqueceram de levar). Joe Berardo, justiça lhe seja feita, não fingiu que era estúpido – preferiu, em vez disso, explicar que os estúpidos éramos nós. É triste, mas exacto. Há que agradecer-lhe pela sinceridade.
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Parece-me extremamente injusto querer retirar as condecorações a Joe Berardo no preciso momento em que ele fez tanto para as merecer. Reparem: nós andamos há anos e anos a ver desfilar pelo Parlamento centenas de figuras que foram empenhadamente enterrando o país nas últimas duas décadas. Essas figuras são convocadas para as comissões de inquérito, chegam acompanhadas dos seus super-advogados, lêem longas declarações introdutórias, e a partir daí a sua postura é uma de duas (às vezes acumulam): ou declaram que são bastante estúpidos (não viram, não sabiam, nunca, nunca, nunca pensaram) ou fingem que são amnésicos (não se recordam, não faziam ideia, precisavam de consultar apontamentos que se esqueceram de levar). Joe Berardo, justiça lhe seja feita, não fingiu que era estúpido – preferiu, em vez disso, explicar que os estúpidos éramos nós. É triste, mas exacto. Há que agradecer-lhe pela sinceridade.