Lembrete: Rui Vitória também é campeão
Antes de Rui Vitória, houve apenas seis treinadores campeões em Portugal que não participaram na festa do título. No que diz respeito à herança do ribatejano na equipa, o impacto do treinador permite leituras diferentes.
Se todos os jogadores utilizados pelo clube campeão são, também eles, campeões, então todos os treinadores “utilizados” na temporada também são. Este raciocínio leva-nos ao dedo de Rui Vitória neste campeonato conquistado pelo Benfica. Por isso, o treinador despedido em Fevereiro, à 15.ª jornada, pode reclamar para si uma parte do 37.º campeonato da história do Benfica.
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Se todos os jogadores utilizados pelo clube campeão são, também eles, campeões, então todos os treinadores “utilizados” na temporada também são. Este raciocínio leva-nos ao dedo de Rui Vitória neste campeonato conquistado pelo Benfica. Por isso, o treinador despedido em Fevereiro, à 15.ª jornada, pode reclamar para si uma parte do 37.º campeonato da história do Benfica.
Uns dirão que Rui Vitória saiu pelos maus resultados – deixou o Benfica a sete pontos da liderança – e que, por isso, não pode reclamar “louros” do título. Outros, porém, poderão invocar alguns pontos marcantes da temporada “encarnada" ainda com o ribatejano ao leme.
Foi com Rui Vitória que o Benfica recebeu e venceu o FC Porto, na jornada 7, por 1-0. E foi também com Vitória que o Benfica “despachou” o Sp. Braga, por 6-2.
Herança na equipa
Para além destes resultados, a herança de Rui Vitória na equipa é relativamente curta. Vitória deixou para Lage um Seferovic goleador – ainda que as lesões de Jonas e Castillo tenham sido um catalisador para essa aposta – e deixou, em certa medida, um “doce” para Lage: é que o conservadorismo de Vitória na aposta nos jovens na temporada que agora vai acabar tornou-se quase numa “bandeira” que permitiu a Lage “cair no goto” dos adeptos “encarnados”.
Para além da mudança no sistema táctico, houve ruptura também nos nomes que entraram na equação de Lage: jogadores como Ferro (em vez de Conti), Florentino (em vez de Fejsa), Samaris (em vez de Alfa Semedo), Gabriel (em vez de Gedson) e João Félix (em vez de Cervi).
Alguns dirão que foi Vitória quem lançou João Félix e Gabriel, mas, nestes dois casos, o substantivo “aposta” só foi utilizado no “dicionário” de Bruno Lage.
Nota, ainda, para Gedson, que foi, dos mais jovens, o único que fez o percurso inverso: muito apreciado por Vitória, mas utilizado a espaços por Lage.
Rui Vitória “à Sporting”
Conquistar o título já fora do clube é um feito raro em Portugal. Rui Vitória torna-se, apenas, o sétimo treinador a fazê-lo, sendo que segue uma prática geralmente bem aplicada em Alvalade: o Sporting é o clube que mais vezes conseguiu fazer de uma troca de treinador a conquista do título nacional – três vezes.
A última foi no romper dos 18 anos sem títulos, com os sportinguistas a fazerem render a troca de Giuseppe Materazzi por Augusto Inácio.
Antes disso, já tinham conseguido fazer da troca de treinador um sucesso, em 79/80 (Fernando Mendes substituiu Rodrigues Dias) e 61/62 (Otto Glória deu o lugar a Juca).
Há, ainda, o caso curioso do Benfica de 67/68, que trocou duas vezes de treinador e foi campeão: Fernando Riera deu lugar a Fernando Cabrita, que seria, por sua vez, substituído por Otto Glória.
Sintetizando: antes de Rui Vitória, houve seis treinadores campeões que não participaram na festa do título: Materazzi (Sporting), Rodrigues Dias (Sporting), Fernando Riera (Benfica), Fernando Cabrita (Benfica), Otto Glória (Sporting) e Otto Bumbel (FC Porto).
Como curiosidade, nota para o facto de quase todas estas trocas terem sido feitas no primeiro terço do campeonato.
Com Rui Vitória, no entanto, a troca na jornada 15 surgiu já tarde na temporada, algo que só tem paralelo na troca de Fernando Cabrita por Otto Glória, também no Benfica, em 67/68.