PS, PSD e CDS “deitam, sentam e rebolam” às ordens de Bruxelas, diz a CDU

O estado da agricultura e a falta de infra-estruturas no Alentejo foram os temas para os candidatos João Ferreira e João Dias atacarem o Governo, o PS e a direita num comício ao jantar, em Serpa. A “indigência” do Plano Nacional de Investimentos do ex-ministro e agora candidato Pedro Marques foi chamada ao palco. Foi o adeus da CDU ao Alentejo nesta campanha.

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LUSA/NUNO VEIGA

No Alentejo eu trabalho / cultivando a dura terra, / vou fumando o meu cigarro, / vou cumprindo o meu horário / lançando a semente à terra. Foi recitando os versos do cante dos Ganhões de Castro Verde que João Ferreira terminou um comício em Serpa, depois de criticar as opções de PS, PSD e CDS e as políticas de Bruxelas para a Política Agrícola Comum que, defendeu, é preciso alterar no próximo mandato no Parlamento Europeu.

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No Alentejo eu trabalho / cultivando a dura terra, / vou fumando o meu cigarro, / vou cumprindo o meu horário / lançando a semente à terra. Foi recitando os versos do cante dos Ganhões de Castro Verde que João Ferreira terminou um comício em Serpa, depois de criticar as opções de PS, PSD e CDS e as políticas de Bruxelas para a Política Agrícola Comum que, defendeu, é preciso alterar no próximo mandato no Parlamento Europeu.

O comunista usou também o trocadilho da semente para apelar aos apoiantes que enchiam o salão do pavilhão do parque de exposições e feiras de Serpa que até dia 26 ajudem a semear apelos ao voto na CDU.

Depois de ter falado de manhã e de tarde sobre as propostas da coligação de esquerda para a área do ambiente e o combate às alterações climáticas, João Ferreira deixara o discurso do fim da tarde, na arruada, em Beja, e o comício da noite para apostar no tema da agricultura, tão caro à região alentejana, tida como o celeiro de Portugal.

Recuou aos anos 80 para dizer que as promessas de então do mercado único de centenas de milhões de consumidores e dos “rios de dinheiros” foram um saco vazio. Porque acabaram por redundar na destruição da capacidade produtiva, na destruição de 400 mil explorações agrícolas, de 500 mil postos de trabalho na agricultura, no abandono de 700 mil hectares de terras aráveis e num défice agro-alimentar de 3000 milhões de euros anuais.

“Se tivessem dito aos alentejanos que o país que produziu trigo, aveia, cevada, centeio, aqui no Alentejo mas também em Trás-os-Montes, no Oeste ou nas Beiras, que esse pais hoje teria que importar 95% do trigo que consome e 75% do conjunto dos cereais, que importaríamos mais de mil milhões de euros de gado todos os anos, as opções do povo teriam sido outras se lhe tivessem dado a escolher”, apontou João Ferreira.

As iniciativas de “sucesso” que destroem as potencialidades do Alentejo

O eurodeputado admitiu que “há iniciativas de sucesso”, mas era uma ironia: afinal estava a falar das explorações de olival e amendoal intensivo e super-intensivo que beneficiam do Alqueva, que usam trabalhadores estrangeiros a quem pagam “salários de miséria”, que prejudicam as populações com os pesticidas excessivos que aplicam, que sobre-exploram os solos e que destroem a biodiversidade.

É também por aqui que deve ir a próxima reforma da PAC, em discussão no Parlamento Europeu. Para a qual a CDU promete contribuir com propostas como a redistribuição equitativa das verbas entre países, o favorecimento da pequena e média agricultura, a recuperação da regulação, com quotas, para os sectores do leite e da vinha, e para assegurar o preço justo à produção.

João Ferreira insistiu no desafio aos concorrentes ao PS, PSD e CDS: estão disponíveis para apoiar as medidas da CDU “ou continuarão a apoiar as reformas da PAC que se revelaram destrutivas para a agricultura e para a produção nacional?” Embora admita que o seu repto não tenha resposta, afinal, não foram os mesmos partidos que cortaram no investimento nos programas do PDR2020 e Proder, e que mantiveram as regras de acesso aos apoios que até Durão Barroso admitiu serem “estúpidas”?

Plano de Investimentos de Pedro Marques é “indigente”

“O Alentejo não pode ficar refém dessas regras”, defendeu o comunista. Não apenas na agricultura, mas também nos investimentos nas infra-estruturas e na ferrovia e em muitos outras matérias a que o Plano Nacional de Investimentos do ex-ministro e actual cabeça de lista do PS, Pedro Marques, “ou não responde de todo ou o nível de resposta que dá a essas necessidades está no plano da indigência”, criticou João Ferreira.

Antes, o deputado à Assembleia da República eleito pelo distrito, João Dias – que integra também a lista ao Parlamento Europeu, fizera igualmente as despesas de colocar no mesmo saco os socialistas e a direita. “Nas políticas impostas pela UE, que não haja dúvidas: não há diferença entre PS, PSD e CDS numa convergência que pagamos cá com língua de palmo. Sim, o PS e PSD são de tal maneira servos da UE, que se a UE lhes diz ‘deita’, eles deitam; se lhes disser ‘senta’, eles sentam; e antes que lhes diga ‘rebola’, já eles se rebolam, porque eles são os melhores alunos da UE e vão muito mais além do que o professor.”

O deputado realçou que o distrito de Beja “é bem o exemplo do que são as implicações e consequências das políticas da União Europeia, que têm aumentado as desigualdades entre os territórios, os países, os produtores e produções”. E insurgiu-se contra “muitos daqueles que nem portugueses são e que levam a riqueza” do Alentejo ao virem explorar o solo, a água, o subsolo e o mar.