Austrália: coalas podem vir a ser classificados “funcionalmente extintos”

O aquecimento global, a desflorestação, a urbanização e as doenças estão a ameaçar uma das espécies mais características da Austrália. Os números mais recentes apontam para que existam apenas 80 mil em estado selvagem actualmente.

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Reuters/ALEX LEE

Os coalas podem estar “funcionalmente extintos" em toda a paisagem da Austrália. O aviso é da Australian Koala Foundation (AKF), a principal organização destinada a proteger a espécie e a diminuir as ameaças à sua sobrevivência.

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Os coalas podem estar “funcionalmente extintos" em toda a paisagem da Austrália. O aviso é da Australian Koala Foundation (AKF), a principal organização destinada a proteger a espécie e a diminuir as ameaças à sua sobrevivência.

Numa carta endereçada ao primeiro-ministro do país, Scott Morrison, e ao líder da oposição, Bill Shorten, a presidente da AKF, Deborah Tabart, apela aos líderes da nação para que protejam os coalas, uma espécie tão característica daquele país. "O destino do coala está nas vossas mãos”, refere Tabart no início da nota que ainda não obteve resposta por parte do governo australiano.

“Funcionalmente extinto” é o termo científico utilizado para descrever as espécies que já ultrapassaram o nível de extinção em que ainda é possível serem salvas.

“A AKF acredita que hoje não existem mais de 80 mil coalas na Austrália. Este número é apenas 1% dos oito milhões de coalas que foram abatidos para comercialização da sua pele e enviados para a Inglaterra entre 1890 e 1927”, refere a presidente da AKF num comunicado publicado no site da organização que expõe o problema. 

O número de coalas que actualmente existe pode não chegar para renovar totalmente uma nova geração. Deborah Tabart realça que mesmo que pareça que os coalas são uma “praga” em algumas zonas do país, como no Sul da Austrália ou no estado de Vitória, os coalas estão mesmo em perigo. “Não estamos a exagerar”, diz a presidente da AKF. 

Desde 2010, a organização tem monitorizado cerca de 128 locais protegidos onde a espécie vive em todo o território australiano, sendo que, segundo a organização, em 41 desses habitats os coalas “simplesmente já não existem”.

Menos de 80 mil coalas em estado selvagem

Deborah Tabart acusa os sucessivos governos dos últimos anos de ignorar o problema e de nada fazer para impedir que aquela espécie se torne extinta na Austrália. “Apelo aos novos membros do parlamento depois das eleições federais de Maio que promulguem o Koala Protection Act (KPA), que está escrito e pronto para ser posto em prática desde 2016”, refere a presidente da AKF. 

Já em 2012 tinha sido anunciado que os coalas deveriam ser listados como espécie ameaçada em algumas regiões da Austrália onde lhes seria dada maior protecção, no que tinha sido uma medida do governo para tentar travar o declínio da espécie.

A medida passa por listar os coalas na região de Queensland como “em perigo” e os de Nova Gales do Sul como “vulneráveis”. Isto significaria que os animais teriam a protecção do governo federal, com a imposição de entraves a projectos para minas ou que impliquem a desflorestação ou urbanização. Também em 2012, as estimativas sobre o número de coalas já apontavam para que existissem menos de 80 mil animais em estado selvagem e que estes estavam a sofrer com a destruição do habitat e as alterações climáticas.

O Koala Protection Act que a AKF quer ver aprovado é baseado no Bald Eagle Act, um colaboração entre a Lei Federal de Espécies Ameaçadas e a Autoridade para a Protecção Ambiental dos Estados Unidos da América. Segundo Tabart, o plano de protecção para a águia-careca foi bem-sucedido porque existiu um motivo político que garantiu a protecção do símbolo daquele país. “É altura do coala ter o mesmo respeito. Eu sei que os australianos estão preocupados com a segurança dos coalas e o governo tem de começar a respeitar os animais e a proteger o seu habitat. O nosso ícone turístico vai partir e os jardins zoológicos não são a resposta. Mas salvar o seu habitat, sim”, lê-se no comunicado da organização.

Uma investigação em Gunnedah, 400 quilómetros a Norte de Sidney, concluiu que a população desta espécie diminuiu 75% desde 1993. Os cientistas responsáveis pelo estudo atribuiriam o declínio à seca e ao tempo mais quente registado na última década. Noutras zonas da Austrália, os coalas também estão a sofrer com a perda de habitat, causado especialmente pela urbanização, desflorestação atropelamentos, ataques de cães ou doenças.