Theresa May é o mal menor
Theresa May pode não só concluir o processo como ficar associada de forma indelével a um fracasso histórico do qual David Cameron e o seu tacticismo partidário é o principal responsável.
Theresa May é o espelho do impasse a que o “Brexit” chegou. A primeira-ministra já prestou todas as provas de tenacidade, ao insistir em submeter a votação, por três vezes, o seu acordo de saída da União Europeia. Haverá uma quarta e última votação. E seja qual for o seu resultado, May deixará a liderança do Partido Conservador e do Governo. O mais provável é que termine o seu mandato em vão e da forma mais inglória: sem convencer os deputados, nomeadamente os do seu partido, a aprovar um acordo com Bruxelas, a deixar sem resolução à vista a questão da fronteira na Irlanda do Norte e a deixar uma herança de consequências imprevisíveis quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista territorial. Theresa May pode não só concluir o processo como ficar associada de forma indelével a um fracasso histórico do qual David Cameron e o seu tacticismo partidário são os principais responsáveis.
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Theresa May é o espelho do impasse a que o “Brexit” chegou. A primeira-ministra já prestou todas as provas de tenacidade, ao insistir em submeter a votação, por três vezes, o seu acordo de saída da União Europeia. Haverá uma quarta e última votação. E seja qual for o seu resultado, May deixará a liderança do Partido Conservador e do Governo. O mais provável é que termine o seu mandato em vão e da forma mais inglória: sem convencer os deputados, nomeadamente os do seu partido, a aprovar um acordo com Bruxelas, a deixar sem resolução à vista a questão da fronteira na Irlanda do Norte e a deixar uma herança de consequências imprevisíveis quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista territorial. Theresa May pode não só concluir o processo como ficar associada de forma indelével a um fracasso histórico do qual David Cameron e o seu tacticismo partidário são os principais responsáveis.
A caixa de Pandora é de abertura fácil. A Escócia não deixará de se manifestar contra um eventual abandono do mercado único e a Irlanda do Norte não aceitará sem resistência uma fronteira imposta entre as duas partes da ilha ou ao largo do mar da Irlanda. A saída de May significa a entrega do Partido Conservador aos defensores da saída sem acordo, e Boris Johnson é o senhor que segue. A saída da moderada Theresa May significa a entrada em cena do radicalismo de Johnson, mas também do de Nigel Farage. O Partido do “Brexit” que Farage criou num par de horas será, quase de certeza, o vencedor das próximas eleições europeias e provocará uma erosão do eleitorado conservador.
A ambiguidade dos trabalhistas só agrava este quadro. Jeremy Corbyn poderia obter outro resultado eleitoral — as sondagens só lhe atribuem 26% — se liderasse o descontentamento dos milhões que saíram à rua para defender a permanência e que votaram nos partidos pro-remain nas últimas eleições locais. Corbyn faz parte de uma esquerda que nada tem de cosmopolita.
Se o voto pelo “Brexit” se vai concentrar no partido do mesmo nome, o voto pela permanência vai ser disperso. O que está em causa, como dizia ao PÚBLICO o historiador Roger Eatwell, não é somente a saída da UE, mas é também o risco de implosão do sistema político. A boa notícia é que Farage não deverá ficar muito tempo em Bruxelas. A má é que depois de May não se vislumbra nada além do puro desejo de isolamento. Theresa May era mesmo o mal menor.