Luís Severo em estado de graça

Fechado sobre si mesmo, criou um álbum que se abre à viagem e à contemplação. Não deixa de ser o cantor do amor e da cidade, mas é agora mais. Ascensão completa em O Sol Voltou, editado nesta sexta-feira.

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Neuza Rodrigues

O segurança via-o por ali a cirandar dias após dia. A entrar para a sala onde estava instalado um piano, a abandonar a sala, chave na mão, chave entregue antes de sair para as ruas quer fosse manhã cedo, meio da tarde ou horas impróprias da madrugada. Saberá o segurança do centro de artes Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande, na ilha açoriana de São Miguel, que daquela rotina foram saindo músicas como A última canção, Quem me espera ou Joãozinho? Saberia ele que testemunhava ali os novos passos de um diálogo de si para si estabelecido por Luís Severo, do qual resultou agora um álbum chamado O Sol Voltou? Não espantaria que soubesse. Ou que dê por si, daqui a pouco tempo, a trautear essas canções que ali nasceram. Afinal, Luís Severo já não é segredo nenhum. Há dois anos, quando saiu o seu álbum homónimo, classificámo-lo, de forma muito apropriada, como um compositor e letrista em ascensão. Aqui chegados, podemos reformular. Ascensão completa, eis Severo em estado de graça.